XXXII

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Ayla Leduc

—Ainda é difícil para mim falar sobre meu passado, é simples, mas é difícil, não consigo falar tudo sem chorar.

—A sua equipe não disponibilizou psicóloga?

—Eles me obrigaram a ir por duas semanas, eu parei de ir, tomei punição mas não levou a nada, eu fiquei sem jogar e time acabou perdendo vários jogos sem mim.

—Hum, mas já pensou em ir?

—Não, acho que falar com pessoas não é muito meu forte, como você mesmo disse eu tenho medo de pessoas né.

—Eu falei brincando, seu cachorro ficou quase tremendo vendo todo mundo aqui.

—Ele até era acostumado com muitas e muitas pessoas, mas com ao passar do tempo era só eu,ele e a cuidadora dele.

—entendi.—vi Jude roer às unhas

—Fala logo o que quer falar.

—Eu? Eu não quero perguntar nada não.

—Vai logo Bellingham.

—Por que não denunciou o cara que abusou de você?

—Vamos pelo contexto de tudo, foi um anos depois da morte dos meus pais e meu irmão, eu ainda estava perdida em mim mesma, tinha descoberto que minha vó estava com câncer terminal. Então tudo para mim ainda estava uma bagunça, eu não sabia o que fazer, eu tinha que parecer forte a todo momento, para todo mundo! Esse "cara" era da minha família, meu tio. Eu sempre estranhei como ele me olhava, me cumprimentava, o jeito que se referia a mim. Mas...eu nunca achei que seria na maldade.—Respiro fundo e olho pro Jude, que estava bem calmo, me olhando atentamente, como se importasse.—Um dia, ele apareceu lá na minha casa e fez o que fez. Eu não sabia o que fazer, eu apenas cortei qualquer tipo de vínculo com ele e todo o resto da minha família. Eu tinha dezesseis anos. Eu—Sinto meu coração apertar e a vontade de chorar vindo—não sabia o que fazer...

—Está tudo bem. O importante é que você esteja bem, e aqui.—Jude me abraça apertado e eu retribuo o abraço não soltando, quero ficar nesse abraço para sempre.

Começo a chorar baixinho e molho toda a camisa do Jude.

—Desculpa...

—Está tudo bem, se quiser falar ainda, pode contar comigo.

Me sento e penso se quero falar ou não.

—Então eu fico pensando, será que foi tudo culpa minha? Será que eu sou o problema? Será que se emus pais estivessem vivos isso teria acontecido? Eu não sou essa que eu sou agora, eu sorria e não tinha vergonha, eu ria de tudo, fazia piada com tudo. Eu era outra pessoa... mas eu não consigo mais ser aquela garota, não consigo...—começo a chorar de novo e Jude deita me abraçando e fazendo carinho na minha cabeça.

—não foi culpa sua! Você nunca será o problema Ayla, nunca...entenda isso. Por que não? Você sempre sorri com o Rodrygo e com a Luiza. Eles te fazem bem não fazem?

—Sim, você também. Mas não é aquela garota, eu sempre estou forçando sabe?

—Mas não precisa, não seja essa pessoa, sorria, porque o seu sorriso é lindo, faça piadas nem que seja a das mais idiotas do universo, porque eu sempre irei rir delas

Sorrio e o abraço escondendo meu rosto no seu pescoço.

—Eu vou tentar. Prometo

—De dedinho?

—De dedinho—cruzamos nossos mindinhos e o beijo. Parece estranho dizer isso, mas, eu nunca beijei o Bellingham sem maldade, talvez esse seja o primeiro.

[...]

Quando acordei até o Max estava deitado com a gente, Jude dormia feito pedra, e eu tinha o treino, mais a bomba da entrevista. Eu odeio dar entrevistas, mas hoje, vou ficar feliz. Vou tentar pelo menos...

—Bom dia...—ele diz acordando aos poucos e me abraçando apertado, me levando a ficar muito perto dele

—bom dia!—sorrio e lhe dou um beijo

Ele faz uma cara de surpreso e acorda totalmente.

—Essa é nova, o que aconteceu com a minha Ayla? Aquela Aylazinha não existe mais é?

—Ela morreu...—sorrio—e eu matei ela—solto uma risada e abraço ele.

—Senhor!! Que risada gostosa! Que momento é esse?! Eu estou amando.—ele diz me abraçando de volta

—não se acostuma não hein

Depois de um tempinho eu já estava pronta indo pro CT.

—Quer que eu te deixe lá?

—Não precisa

[...]

O treino foi extremamente pesado, quase morri, nunca senti tanta falta de ar. Mas foi bom, os treinos pesados são os melhores.

E logo eu teria que ir para a entrevista. Nãooo...

—Bom dia Ayla

—Bom dia.

—As perguntas deles estão bem filtradas, nada que você irá se sentir desconfortável.

—Obrigada, já vai começar ou ainda vai demorar?

—Ja estamos começando o ao vivo, primeiro vão fazer as perguntas para o professor depois para vocês.

A Luiza estava mechendo no celular e logo deu um pulo do meu lado.

—VOCÊ ESTÁ COM O BELLINGHAM?

—o quê?! Claro que não

—E o que é isso? Esse carro na frente da sua casa não é dele não?—Ela me mostra a foto e tento pensar na mentira mais rápida.

—Foi aquele dia que vocês foram lá em casa.

—Ahta, pensei que vocês estavam juntos.

—Deus me livre.


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⏰ Última atualização: Jul 01 ⏰

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