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Namjoon sempre foi silencioso, nunca foi de falar ou de reclamar, mas ele sempre foi explosivo. Seu copo era raso, transbordava fácil. Provavelmente foi por isso que também me apaixonei por ele, porque comigo, Namjoon era paciente. Mesmo que minha visão de mundo seja extremamente enviesada pela bolha que Yoongi me enfiou na adolescência, todo meu fracasso de vida era minha culpa, somente minha, então foi muito fácil eu me entregar ao meu primeiro amor, mas eu não me arrependia de nada.

Namjoon não falava muito, mas ele se lembrava de cada mínimo detalhe de minhas palavras no dia. Até em dias que eu falava demais. Ele me ouvia, concordava, se indignava junto comigo. Me observava estudar quando éramos mais jovens e hoje em dia quando tinha tempo, quase nunca, me observava pintar no estúdio.

As vezes, ele reclamava do estúdio, me oferecendo algo melhor, mas como eu negaria o Amarelo. Era o amarelo que mantinha minha sanidade.

Me parece que estou defendendo o Namjoon. E me desculpe, eu realmente estou, pois mesmo que seja tóxico, não minto quando digo que ainda que fosse doloroso eu me manteria escondido para continuar com ele. Mas agora que meu copo havia transbordado e virado, eu não queria nunca mais sentir ele sendo cheio tão dolorosamente. Também não minto quando digo que a renúncia me doeu, e eu cresci em uma bolha que Yoongi não me permitia sentir dor.

A dor que eu nunca senti, nem mesmo quando fui abandonado por meus pais, quebrava meu silêncio.

— Namjoon—, o chamei antes mesmo de chegarmos em minha casa. Que deveria ser nossa, mas a casa dele era aquela, — eu quero o divórcio.

Como eu disse, Namjoon não era muito de falar. Ele também nunca me enfrentou ou simplesmente negou tudo o que eu lhe pedia, nunca. Então, eu sabia, claro que sabia, que ao pedir o divórcio, ele poderia apenas aceitar minha decisão. Mas Namjoon não fez nada naquele momento, ele apoiou a cabeça nas mãos que estavam fechadas no volante do carro e então se virou para me encarar, depois lentamente desceu para meus dedos. A aliança não iria sair tão facilmente.

— Pode me dar mais uma chance? — Foi o que ele disse. — Por favor. Não feche seu coração para mim ainda.

— Eu nunca fecharia, Joonie . Mesmo que um dia eu me apaixonasse por alguém, eu ainda iria te amar.

— Eu posso subir com você?

— Claro. Mas eu preciso de um tempo, você entende, não entende?

— Sim. Eu... — Namjoon pegou minha mão, ele levou até seu rosto e eu percebi que novamente chorava. — Se eu não entender um dia, me explique. Por favor. Você sabe, Jimin. Eu te amo e eu tenho essa personalidade ruim que não é motivo, eu sei, mas se um dia eu não entender, se eu não te entender, nunca deixe de me falar.

Sorrir. Alisando o rosto dele machucado.

— Eu nunca te vi falando tanto, nem no nosso casamento. — Tirei o cinto e cheguei perto dele, deixando um selinho. — Não estamos mais na adolescência, Joonie. Precisa tomar uma atitude e eu também.

— Qual atitude você vai tomar?

— Eu? Ah, eu serei o culpado de verdade. Cansei de falar baixo. Cansei de não me deixar ser visto. — Namjoon me parecia orgulhoso. — Não vou mais renunciar a nada por você.

— É a minha hora de renunciar.

Naquele momento eu não entendi o que aquilo queria dizer, mas eu procurei não pensar mais sobre, pois estava cansado e não havia mais nada para conversar.

Aquela noite, tampei meu copo para Namjoon. Ele não podia mais pingar dentro, mas diferente de mim, Namjoon tinha dezenas de copos, e todos eles haviam transbordo e eu não percebi que o meu limite também era seu limite.

For You | MinimoniOnde histórias criam vida. Descubra agora