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Ainda que fosse apenas um lutador, Namjoon era como um ídolo, não se deve esquecer disso. Pois sua queda foi muito mais rápida que sua ascensão. Quando ele apareceu na TV marcado e expondo seu relacionamento que quase havia acabado por conta do beijo, os tabloides caíram em cima dele.

Namjoon era um traidor e eu era um ômega sendo usado por ele.

— Meu Deus que chatice sair na rua. Você por acaso se casou com um cantor famoso? — Hoseok largou a bolsa em cima da minha mesa. — Deixei Jungkook na escola. Vou ensinar ele a dirigir.

—Como anda a relação com os pais deles?

— Não podem fazer nada, Jungkook é maior de idade e ponto final. Se mexerem com aquele menino, eu mato os dois.

— O que aconteceu na rua para você chegar tão irritado em uma quinta feira de manhã? — Me levantei para fazer algo para comer

— Você tem sangue de barata, Jimin. Não sei como aguenta. Passei pela frente do prédio onde Namjoon mora lotado de repórteres. Sinceramente, isso é loucura. O crime do cara foi se casar? É isso?

— Eu acho que sim. Imagine se ele fosse um cantor, já teriam decapitado minha cabeça. — Rir, mas Hoseok não. — O que foi agora, Hobi?

— E se um dia fizeram isso com você? Não os fãs dele, acho que não chegariam a esse ponto, mas sua sogra, Jimin.

Eu nunca parei para pensar o quão minha sogra poderia ser cruel. Na verdade, eu sempre neguei sua crueldade dando motivos para ela me odiar tanto. O pai de Namjoon a deixou cedo, ela sofreu violência doméstica e criou duas crianças só. Ela de fato merecia ter uma vida boa agora, então no começo, eu sempre estava ali em cada canto procurando motivos para ela ser daquele jeito. Nunca obtive respostas, mas depois daquela pergunta que Hoseok fez e quando ele foi embora, me deixando só em minha casa, eu nunca fui de ter sentir pressentimentos inteiramente ruins, um arrepio subiu pela minha espinha e eu me ergui de onde estava sentado para ir até a varanda.

Depois de um tempo em que minha relação com Namjoon se consolidou e eu comecei a me sentir mais sozinho, alguns vícios tomaram conta de mim.

Subi no banquinho até chegar em uma parte de teto que dividia com o telhado e puxei a carteira de cigarro. Era meu esconderijo para Namjoon não achar, ou ele brigaria.

A varanda da nossa casa era uma divisão com algumas coisas do estúdio que eu trazia para pintar e algumas coisas dele dos treinos. Me recordava quando brigávamos antes de eu ter conseguido o estúdio que ele sempre iria treinar quando eu estava pintando, e aquilo tirava minha concentração.

Olhei para dentro de casa, a decoração era basicamente minhas coisas espelhadas. Minhas pinturas, meus bordados e meus artesanatos. Aquela casa de verdade era só minha.

Ainda que eu tivesse o marcado, ainda que o mundo soubesse da minha exigência, eu estava limitado a todas as escolhas de Namjoon. A sensação era que nunca estaria satisfeito. E quem está satisfeito? Isso eu me perguntava toda vez que a incapacidade me tomava.

Deixei algumas lágrimas cair enquanto a nicotina tentava me acalmar.

Quando a campainha da minha casa tocou, limpei o rosto e joguei o cigarro fora. Escondendo e tirando cheiro ou resquícios que fumei. Não era hora de chorar, nada muda de uma hora para outra, teria que ser paciente. Abrir a porta sem ver quem era e sinceramente, foi a primeira vez que percebi o que era ser violentado em por pequenas agressões.

A mãe de Namjoon estava na minha frente, com os braços cruzados e olhando tudo. Em todos os anos em que eu tive essa casa, ela nunca sequer visitou e eu fui tolo, a deixando entrar.

— Aconteceu algo com meu marido? — Perguntei.

— Meu filho está bem. Perdendo dinheiro, mas está bem. — Yukio era uma mulher que Namjoon só tinha apenas o formato do rosto parecido. Taehyung era mais parecido com ela.

— Por que a senhora está na minha casa?

— Preciso conversar com você.

Suspirei e deixei ela entrar. Ali foi meu segundo erro.

— Deseja beber algo? — Perguntei, extremamente sem jeito. — Namjoon não gosta de álcool em casa, mas tenho suco, chá, café...

— Não quero nada. Serei rápida, Jimin. — Ela tirou alguns papéis do bolso e jogou em cima da minha mesa de centro da sala. — Foi oferecido a Namjoon uma proposta de treinar em outro país e um contrato milionário com uma marca forte de esportes, mas ele negou por sua causa.

— Como? — Me agachei colocando os joelhos no chão para ler os papéis. Eu não entendia muito bem o que estava escrito, mas o tanto de zero que tinha na multa me deixou assustado. — Ele não me contou nada a respeito disso, Yukio.

— Por que ele te contaria? — Ela ainda estava em pé com os braços cruzados agora. — Você sabe o motivo dele ainda tá empacado nessas lutas medíocres sem bons patrocinadores e eu tendo que estar correndo atrás de pessoas que se interessam por ele para isso? — Neguei sentindo minhas mãos tremerem. — Ele não quer te deixar, Park Jimin. Ele não quer que te deixe só aqui. Quando eu disse que você atrapalha meu filho ser maior, eu nunca menti.

— Mas se ele tivesse me falado, achariamos uma solução. Eu iria com ele.

— Toda vez você vai com ele? — Ela riu e se agachou pegando meu rosto com seus dedos e as unhas afiadas me machucaram. — Você vai viver para sempre assim?

— Como eu vou viver? Eu larguei tudo por culpa de vocês. — Tentei tirar meu rosto, mas ela apertou mais. — Por favor, pare, está me machucando.

— Como consegue ser assim? Você não age, não faz nada. Só serve para atrapalhar. — Ela me empurrou. — Irei marcar para fazer a cirurgia de retirada de marca em Namjoon. Leia esses contratos, todos recusados e pense bem. Procure viver, Park Jimin, pois enquanto eu estiver viva não terá Namjoon para você.

Ela saiu e eu fiquei ali, ajoelhado no chão e olhando aquele tanto de papel. A sensação de raiva subiu em mim novamente. Quem eu estava enganando? Nada ia mudar. Era só eu tentando me confortar na vida de alguém que não me encaixava.

Sendo sincero, sempre lutei demais. Nunca desista. Mas dessa vez sem pensar demais, eu desisti.

Não iria mais aguentar aquilo.

Me ergui largando aqueles papéis e andei até meu quarto, puxando uma mala debaixo da cama e abrindo. Tudo o que tinha de roupa enfiei naquela mala.

Tentei até demais, lutei uma luta que estava perdida e não era por faltar de tentar. Eu tentei, eu chorei tentando e eu corri atrás, eu deixei de lado. Fui estúpido, mas não adiantava. O que sinceramente adiantava amar tudo e ninguém me amar de verdade? Quanto mais alto nosso amor subiu, quanto mais alto o meu amor subiu, mais eu percebi que violentamente eu estava sendo encaminhado para um buraco sem fim. E eu estava caindo, caindo sem parar e eu precisava de liberdade, eu só poderia amar quando a liberdade fosse um palpável e não apenas um ideal.

E no arcabouço daquele ideal, a liberdade não andava junto comigo

For You | MinimoniOnde histórias criam vida. Descubra agora