Epílogo

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Namjoon me olhava de rabo de olho enquanto a enfermeira falava tudo o que eu tinha que fazer na recuperação dele. Eu não deixava de perceber que a todo momento, seus olhos sempre estavam em mim desde o dia que abriu os olhos após a cirurgia por conta do acidente.

Às vezes, durante esses últimos dias, eu ainda ficava constrangido, pois todo mundo comentava e ria, mas Namjoon continuava lá, calado e enfezado. Claro que eu já sabia que ele era assim, calado e cotidianamente enfezado, mas ainda que ele fosse assim, alguma coisa ele precisava dizer depois de tudo o que aconteceu.

No entanto, ele não disse.

— Pode tirar a camisa? Eu tenho que limpar suas feridas. — Falei, toda vez que eu ia limpar, minhas mãos tremiam.

— Você não precisa ficar cuidando de mim. — Ele disse baixo. — Não é sua obrigação.

— Quem iria cuidar de você?

— Taehyung.

— Taehyung não vai cuidar de você.

— Por que ele não vai?

— Porque eu estou aqui. — Mordi os lábios, atento a uma parte do corte que a enfermeira havia pedido para ter cuidado. — E isso é o suficiente.

— Seokjin deu um quadro seu para o Taehyung. — Namjoon deitou a cabeça para trás apoiando-se no travesseiro. — Eu não achei que ele iria atrás de você.

— Ele mentiu para mim.

— É, ele é um bom mentiroso.

— E você é irresponsável.

— Sim, mas eu não queria que sua vida virasse um inferno por minha causa.

— Acredite, Namjoon, ninguém poderia ser pior que sua mãe... Terminei! — Tirei as luvas. — Espere secar para vestir a camisa.

— Jimin, por que ainda continua aqui? — Namjoon me segurou pelo pulso.

— Eu não sei. E por que você continua me deixando ficar perto?

— Eu também não sei.

— Então, descanse. Irei fazer algo para você comer.

— Eu tenho uma cozinheira, Jimin.

— Eu dispensei. — Dei de ombros e realmente eu havia feito isso. No momento em que pisei na casa nova que Namjoon estava morando o tanto de empregado ao meu redor, principalmente ao redor dele, me incomodou. — Quando eu for embora, você traz de volta.

— Você pode ficar? — Quando Namjoon disse isso, eu tive um impulso que controlei o máximo possível. Queria ir até ele, o abraçar, beijar, o amar novamente e deixar que ele me venerare. — Ou se não puder ficar, podemos tentar novamente?

— Como você quer tentar novamente?

— Eu posso te levar a um encontro?

Abaixei a cabeça sorrindo. Mesmo que eu acreditasse que o tempo cura tudo e todos, em dois anos, descobri que era uma mentira.

— Pode. Você pode.

Eu aprendi que as coisas não mudam da forma que a gente espera. Claro que ao voltar, eu sabia qual era meu lugar, mas o mundo de Namjoon não vinha com um silêncio e muito menos com disponibilidade excessiva de tempo.

Eu fui exposto porque quis. Me expus e não sabia bem quais seriam as consequências, de certo que era hora de achar um encaixe na vida de Namjoon, era hora de aceitar até onde eu queria estar, pois agora, finalmente, estava sendo oferecido para mim um local.

Um local que não queriam me dar e que Namjoon carregou como meu durante sua vida toda, mas que todas suas amarras e todas as minhas amarras faziam da gente indigente em nossas próprias vidas.

Não era hora de amar no escuro.

— Agora as pessoas sabem quem é você. — Namjoon se sentou melhor na cama. — E eu irei falar a verdade, não toda, mas irei falar que eu sou seu.

— Quais serão as consequências disso?

— Ruins. Irão te culpar pelo meu péssimo rendimento, pois sou o único lutador marcado desse mundo.

— Eu sempre serei culpado por algo.

— Mas dessa vez eu posso brigar contra cada culpa e eu irei.

— Você brigou e levou uma facada. Não brigue mais, deixe que as pessoas falem. — Resolvi me levantar.— Eu não quero nada deles, eu quero de você.

— Tenho medo de ser ruim para você de novo, de virar as costas sem perceber. Me sinto preso sem saber como te conquistar novamente.

Me lembro que a dois anos atrás eu implorava por algo que não conseguia alcançar, uma dessas coisas era ter tudo o que Namjoon tinha em sua bagagem, era me encontrar em nossa bagunça.

— Namjoon —, rodei a cama e sentei ao lado dele, cruzando minhas pernas — não existe regra e nem manual. Eu me lembro que queria algo de você que não sabia identificar o que. O que eu queria de alguém que nem sequer conseguia entender o quão preso estava? Eu queria que você fosse mais ativo em sua vida, eu queria tantas coisas e no fim, você não poderia me dar tudo aquilo. Mas uma cicatriz não é uma cura, nunca iremos esquecer o que aconteceu. Então, olhe para mim, eu estou aqui. O que você quer agora?

— Eu quero te beijar. Jimin, eu quero te beijar novamente sem parar. Eu não conseguia aceitar te perder, mas não conseguia ir contra sua vontade, eu nunca iria te perturbar sabendo que você não me queria mais, por isso, eu me sentia tão idiota, tão estúpido, pois qualquer outro em meu lugar estaria lavando os seus pés com lágrimas pedindo perdão.

— Se eu te pedisse para me deixar agora, novamente, o que você faria?

— Eu te deixaria. — Ele falou baixo.— Não porque não quero lutar, mas sim porque eu tenho medo de ser ruim até para você. Tenho medo de você me olhar com desprezo.

— Eu tenho outra ordem... — Cheguei perto de Namjoon, selando nossos lábios. — Não me deixe nem quando eu pedir, pois eu nunca irei te olhar com desprezo. Eu te amei e te amo com toda sua personalidade, sua vida difícil e seus medos que você não expõem. Você disse que eu sou sua sorte, me pegue novamente.

Namjoon segurou meu rosto e me beijou. Não foi de fato um beijo afobado, ele parecia tentar me sentir o máximo possível como se a qualquer momento eu fosse sumir, mas eu não iria sumir. Levei minhas mãos até seu ombro, não colocando peso no corpo dele e rir quando seus dedos da mão direita subiram até minha orelha direita fazendo cócegas.

— Eu te amo tanto. — Disse, descendo a mão até a minha cintura. — Tanto, Jimin. Mas tanto...

— Você não tirou a marca, fiquei feliz quando eu soube. — Subi minha mão até sua nuca.

— Acho que se esqueceu do nosso casamento, Jimin. Eu prometi agora e para sempre. Então, será agora e para sempre.

— Brega. — Ele riu. — Somos bregas e dramáticos.

— Nós somos. Seja bem vindo de volta, meu amor.

— Obrigado. — Desci meu corpo para o abraçar e ele deixou, puxando meu corpo para mais perto.

O cheiro, a pele, o abraço... Era como estar novamente em casa, igualmente quando éramos mais novos.

For You | MinimoniOnde histórias criam vida. Descubra agora