Rendição

581 74 15
                                    

NOTAS DA AUTORA:  Olá, garotas. Coloquei a música do filme Carol pois quero que imaginem Andrea e Miranda se olhando da mesma forma que a Carol e a Therese. Ah, estamos chegando ao final da história.


Chego ao jornal com o coração acelerado. Minha mente é tomada por tantos pensamentos que mal consigo respirar... tantos "e se". E se ela estiver com outra pessoa? E se ela não me quiser? E se ela falar na frente de todos que eu sou uma velha e que nunca mais quer olhar na minha cara? 

Desde que Andrea se foi, tenho tido sintomas muito fortes de ansiedade. É o que dizem, o corpo tenta colocar para fora tudo o que não conseguimos elaborar com nossa cabecinha inteligente. Há meses venho tratando na terapia um único assusto: minha paixão por Andrea. 

No inicio da terapia, pensei que estava buscando ajuda para esquecer dessa paixão, mas na verdade eu estava buscando ajuda para ter coragem de correr atrás da mulher que dominava meus pensamentos.  

Passo direto pela recepção, a garota sentada atrás do balção nem consegue reagir ao me ver... pelo visto sabe quem eu sou. Entro no escritório abarrotado de homens e mulheres conversando alto, agitados e discutindo com fervor, agem como se aquele trabalho que estão discutindo fosse mudar o mundo. Mudará se for escrito por Andrea, disto tenho certeza.

Parada na porta, olho para todos os lados em busca de Andrea. A reconheço mesmo que ela esteja sentada de costas para mim. A vejo massagear as têmporas, provavelmente está tento um dia ruim... penso que talvez eu deva procura-la em outro momento, mas sei que na próxima sessão minha terapeuta irá dizer que tive medo novamente. 

Sim, novamente. Pois há uns dois meses eu fui até o apartamento da morena, mas não tive coragem de entrar. 

Respiro fundo e caminho até ela, meu coração parece que vai sair pela boca. Nunca me senti tão ansiosa e, admito, com medo. Tudo ao meu redor fica em silêncio e todos parecem desaparecer. Quanto mais me aproximo, mais vontade tenho de gritar seu nome. Me imagino fazendo isso, gritando seu nome, ela me olhado e correndo até mim, me abraçando... ou me olhando e fazendo cara de nojo. Resolvo não gritar. Continuo caminhado em sua direção, firme.

Quando estou a apenas alguns passos de distância, Andrea me olha. Paro imediatamente e espero ela esboçar alguma reação. Está visivelmente muitíssimo surpresa. Sinto meu coração errar as batidas e meu estômago revirar, mas ela sorri para mim e o seu sorriso acalma toda confusão que ocorria dentre de mim.

Continuo indo em sua direção e paro a sua frente, mas nada consigo dizer.

- Boa tarde, Miranda. 

Seu rosto estampa um sorriso tímido. Não consigo responder, estou nervosa demais.

- Você finalmente veio brigar comigo pelo o que aconteceu em Paris? - Ela ainda está sorrindo, mas aparentemente de nervoso.

Olho para os lados e a atenção de todo escritório está em nós. Me esforço para falar algo antes que ela me peça para ir embora.

- Você gostaria de jantar comigo, Andrea? 

A morena não consegue esconder sua surpresa.

- Se você prometer que não irá me envenenar - ela ri, mas ao ver minha expressão séria, logo para - Ehh.. Claro, eu adoraria jantar com você, Miranda. 

- Certo. Mando meu motorista ir buscá-la em seu apartamento às 20h. Não se atrase - percebo que a última frase soou grosseira e trato de corrigir para que não pareça uma ordem - Estarei te esperando ansiosamente.

- Você estará esperando ansiosamente por mim? - ela está com os olhos arregalados - Deve mesmo estar muito ansiosa para me matar. 

- Estou ansiosa há meses para fazer algo com você e te dou minha palavra que não é matá-la, pelo menos não do jeito que você está imaginado. 

Minha ex-assistente fica sem reação com o que acabou de ouvir... droga. Me aproximo dela mais um pouco e digo algo ainda mais baixo que o normal, para não correr o risco de ninguém escutar:

- Se ainda tiver aquele vestido que usou no evento em que foi ajudar Emilly com a lista de convidados, use-o. Você fica perfeitamente linda nele... Mas se não tiver, peça a Niguel que envie um igual. Isso é tudo.

Seu olha é uma mistura de surpresa e alegria.

- Até mais tarde, Miranda.

- Até mais tarde, Andrea. 

Assim que entro no carro para ir para casa, envio uma mensagem para minha terapeuta:

Convidei Andrea para jantar.

Que bom que teve coragem, Miranda. Qualquer coisa que precisar, estou aqui. 

Eu estou apavorada. E se ela me rejeitar? Acho melhor desmarcar.

SE ela te rejeitar, não será o fim do mundo. E você só saberá a resposta SE conversar com ela.

Isso é tudo. 

Não seja a editora chefe com a Andrea. Aposto que ela irá gostar muito de conhecer a Miranda real. Até breve.

Odeio quando ela faz isso: ter razão. 

Não cancelo o jantar e às 20h20 ouço o motorista parar o carro em frente a minha casa. Respiro fundo e a espero tocar a campainha.


Os olhos da guerraOnde histórias criam vida. Descubra agora