Termo de paz

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Eram quase duas horas da manhã e eu não conseguia dormir. Meu coração batia descompassadamente, me sentia enjoada e não conseguia parar de chorar. Peguei meu telefone e liguei, e liguei mais uma vez e mais uma. Na quinta ligação ela atendeu.

-Finalmente! Porque demorou tanto! Você disse que estaria sempre disponível se eu precisasse. Faça seu trabalho direito ou não prometa o que não pode cumprir. – Choro silenciosamente.

- Miranda, são duas e meia da manhã, eu estava dormindo. Além disso, já conversamos sobre sua forma de conversar comigo, atenção aos limites. – Ficamos em silêncio por alguns segundos - Agora, me conte o que de tão urgente aconteceu que você não pode esperar até amanhã?

- Fiz tudo errado e ela foi embora... de novo.

- Oh, querida... Me conta o que houve.

Contei para Helena sobre minha noite com Andrea.

- Escuta, Miranda... pelo que me parece, Andrea também está com medo. Não posso falar por ela, somente ajudar você a enxergar os dois lados da situação para que você decida o que fazer. Se você fosse Andrea, como estaria se sentindo?

- Bom... eu sempre fui muito rude com ela e quando ela falou sobre escolhas e prioridade eu não disse para ela que eu a escolheria e a colocaria em primeiro lugar na minha vida, junto com as meninas é claro. Então eu acho que ela está com medo de ser usada e de que eu possa estar querendo enganá-la e magoá-la.

Mais silêncio.

- Você ainda está ai?

- Sim, Miranda. Apesar do sono, ainda estou te ouvindo. Agora que tem uma resposta para a pergunta de Andrea, o que você fará?

- Irei explicar para ela o que sinto, dizer que a quero para sempre em minha vida, que eu escolheria e a escolho todos os dias de agora em diante.

- Muito bem, queria. Mas sugiro que espere amanhecer para fazer isso. – Helena dá uma risada divertida que me irrita, estou sofrendo por amor e ela rindo...

- Isso é tudo. – Digo, mas não desligo. Permaneço na ligação que permanece em silêncio por vários minutos – Helena? – Chamo, em dúvida se ela desligou ou não.

- Sim?

- Obrigada. – Desligo.

Acordo com o rosto levemente inchado por ter chorado durante a madrugada, mas me sinto cheia de coragem para ir até Andrea.

Às 7h em ponto meu motorista me deixa em frente ao prédio da jovem. O porteiro toca o interfone anunciando minha chegada e a morena não me permite subir, mas pede que eu espere, pois ela irá descer. Quando ela chega ao hall do prédio, está enrolada em um elegante roupão. Me aproximo sem deixar de olhá-la nos olhos, mesmo querendo esquadrinhar suas pernas.

- Precisamos conversar, Andrea – escondo meu nervosismo e me visto da armadura de editora chefe... sei que estou fazendo isso por medo, mas não consigo controlar.

- Minha conversa será com a Miranda ou com a Editora Chefe? Se for a segunda opção, me avisa para eu poder decidir se quero ou não ter essa conversa.

- Por favor, podemos conversar? – Insisto, baixando a guarda.

- Agora não é um bom momento, Miranda. Não estou sozinha, por isso vim te encontrar aqui.

Então ela estava com o namorado?

- Não consegui te responder ontem... Mas vim para te dizer que eu escolheria você, se fosse preciso, sempre escolheria você.

Os olhos da morena se enchem de lágrimas, ela se aproxima de mim, segura meu rosto e me beija suavemente.

- Você precisa ir embora agora, Miranda. Eu irei até a revista para almoçar com você, mas vai, por favor.

- Você está escolhendo ele então? Está com medo que ele nos veja? O que foi Andrea?

- Confia em mim, sim?

Saio sem responder. Que inferno!! Espero impaciente pelo horário do almoço, às 11h recebo uma mensagem de Andrea em meu número particular.

"Nigel me passou seu número pessoal. Não o mate. Irei me atrasar, mas me espera para almoçar, por favor. Miranda, seu beijo é o melhor do mundo. Até mais."

Não consigo conter o sorriso. Penso no que responder e digito várias opções:

"Se você acha meu beijo bom, precisa experimentar o restante" – Muito atirada.

"Seu beijo que é o melhor." – Muito melosa.

"Acho que precisa experimentar novamente para ter certeza se é o melhor mesmo" – Muito hétero.

Por fim, decido responder:

"Irei te esperar. Deixe a sobremesa comigo."

*

*

*

Me contem o que estão achando?

Os olhos da guerraOnde histórias criam vida. Descubra agora