Capítulo 6

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Não seremos tão jovens como somos agora

É hora de deixar essa velha cidade preta e branca e

aproveitar o momento, 

vamos fugir

não deixar as cores desvancerem ao cinza

Não seremos tão jovens como somos agora

Never be - 5 Seconds Of Summer

Assim que fui informado por Marina que a candidata havia chegado, passei a observá-la pela pequena janela da cozinha que dá para o interior do restaurante. A princípio, quando Cassie tocou a introdução de uma música apenas com uma das mãos, ignorei o meu bom pressentimento e pensei que talvez ela não soubesse nada de música, apenas uma coisa aqui e outra ali, que tinha colocado a informação no currículo apenas para conseguir a vaga. Desconfiei mais ainda no momento em que ela se sentou e ficou algum tempo olhando para o piano. Na minha cabeça, ela não sabia o que fazer, mas, em seguida, percebi que o seu olhar era de admiração.

Quando ela começou a tocar, me vi paralisado, apenas prestando atenção em seus dedos deslizando pelo teclado do piano e em sua expressão ao tocar: ela tocava com paixão, como se cada nota dependesse de um suspiro, como se o mundo dependesse da sua música.

Em seus quase cinco minutos de apresentação, Cassie não percebeu eu entrando, não notou o movimento dos garçons, da Marina e dos outros funcionários, todos saindo de seus postos apenas para observá-la. Estudei o rosto de cada um no restaurante: todos estavam inertes na música. Naquele momento, decidi que nada mais importava, e, só pela música, a garota já estava contratada.

Assim que ela parou de tocar e me viu, reparei que eu estava diante da garota que esbarrei no dia anterior. Notei que ela também me reconheceu e, se eu não estivesse enganado, era ela quem havia tocado no auditório.

— Alexander, você está escutando o que estou falando? — Daniel resmunga.

— O quê? — Volto os meus pensamentos para a realidade, tirando os olhos azuis da cor do mar da minha cabeça.

— Não, ele não escutou. — Thomas, o motorista da vez, olha para mim.

— Desculpe, acho que estou um pouco nervoso por causa da entrevista — falo. A frase não deixa de ser verdadeira.

— Nem me fale. — Daniel olha pela janela da kombi. — Foi mal pela grosseria.

— Desculpe pelo devaneio — cumprimento Daniel com uma batida de punho.

Thomas encosta o veículo nos fundos da casa de shows para descermos com os instrumentos. A porta dos fundos é aberta por um dos funcionários do Espaço Cinco, que nos ajuda a carregar os equipamentos para os bastidores, enquanto Thomas procura uma vaga para estacionar o nosso veículo.

— Acho que deveríamos personalizar a kombi, sabe? — Michael fala. — Agora que temos um empresário, poderíamos escrever "Som da Meia Noite" nela. Dar uma geral na pintura também seria bom.

— E quem vai custear esse gasto? — Daniel pergunta.

— O nosso empresário — ele responde.

— Não. — Balanço a cabeça negativamente. — Não é assim que funciona. Temos um empresário, não um patrocinador. Não temos nem gravadora ainda.

— Além do mais, a kombi está num péssimo estado — Daniel diz. — Vamos esperar pelo ônibus personalizado da banda.

— Garotos — Erick, o dono do local, aparece onde estamos —, estou muito feliz que a primeira entrevista de vocês será feita diretamente do meu estabelecimento. — Ele sorri satisfeito.

Feitos de Música (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora