Capítulo 8

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Só ouvi dizer que quando arrepia já era

Coisas que eu só entendi

Quando eu te conheci

Ouvi Dizer – Melin

É meu primeiro dia de trabalho e estou nervosa. Sei muito bem o que fazer, mas não deixo de sentir aquele friozinho na barriga, aquele sentimento de novidade. É um momento novo, apesar de ser com algo que estou habituada há anos. Imagino como será o meu primeiro dia de aula em Juilliard, caso um dia eu vá para a universidade. Acredito que sentirei o dobro do nervosismo que sinto agora.

No dia seguinte ao da entrevista, depois das duas aulas que tive na parte da manhã, separei toda a papelada necessária para a minha contratação no restaurante. Com a guia do exame médico em mãos, fui até o local indicado para fazer o teste e constatar estar tudo bem comigo e era só começar a trabalhar. A médica que me atendeu ainda passou recomendações de alongamentos para evitar lesões, devido ao longo tempo diante do piano. A maioria dos alongamentos eu já conhecia.

Ainda no mesmo dia, próximo das duas da tarde, Marina me encontrou no centro da cidade para escolher as roupas adequadas para o restaurante. Na oportunidade, ela me informou que eu começaria a trabalhar no sábado. Após fazer um leve tour pela cidade com Nina — Marina me deu total liberdade para chamá-la por seu apelido — fui até a praia, tirar um tempo apenas para mim. A maré estava baixa e o local parcialmente vazio.

Sentei-me na areia com vista para o mar e observei a vastidão do céu e da água a minha frente. Aquela paisagem, definitivamente, sempre será a minha paisagem preferida. Logo o sol daria lugar à lua e o vento tomaria força maior; as luzes da cidade seriam acesas e as ruas ficariam lotadas de trabalhadores retornando aos seus lares, e, por mim, eu ficaria ali: na calmaria da luz das estrelas e dos respingos das gotas do oceano.

Meus pensamentos mudam de direção e voltam ao momento que contei para a minha família que tinha sido contratada. Eles explodiram, dizendo que não tinham dúvidas quanto a minha contratação e que eu era a melhor pianista que conheciam. Diga-se de passagem que eu sou a única pianista que eles conhecem, além de mamãe, claro. Aproveitei para contar todo o processo e como foi a entrevista. Quando contei para Anna que o entrevistador era o garoto que tinha trombado comigo no corredor do Instituto e, coincidentemente o vocalista da banda que tínhamos assistido ao show, a Som da Meia Noite, as suas exatas palavras foram:

— É o destino. O seu clichê da Disney está cada vez mais próximo.

Depois do "aviso" da minha cunhada, minha família voltou a ficar animada. Naquele momento mínimo de comemoração, meu coração aqueceu. Eu não tinha dúvidas, mas, mais uma vez, tive a prova de que minha família sempre me apoiaria em tudo o que eu fizesse, e puxaria a minha orelha quando necessário. O sentimento é recíproco; sempre farei o que for necessário para vê-los felizes.

Dissipando os meus pensamentos, volto ao presente e termino de me arrumar. Prendo o meu cabelo no alto da cabeça para que os fios loiros não caiam em meu rosto e coloco um sapato baixo, confortável para caminhar até meu serviço e adequado para o local e horário.

Chego ao restaurante faltando pouco mais de vinte minutos para meu horário começar. Assim que abro a porta do Sonho e Sabor, que está com a placa de "fechado", Marina, que está atrás do balcão de bebidas, vem ao meu encontro.

— Você chegou cedo — ela me cumprimenta com um beijinho no rosto.

— Preferi chegar cedo para me alongar e testar o piano. Além de precisar saber se você tem algum repertório em mente.

Feitos de Música (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora