O herói caído

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Já senti sofrimento e dor;

Eu não sei se consigo encarar isso de novo.

[...]

Eu quero saber o que é amor;

Eu quero que você me mostre.

ᕦ⁠⊙⁠෴⁠⊙⁠ᕤ

Aphelios sentia como se não tivesse dormido bem daquele jeito há meses.

Fora um sono aconchegante, tranquilo e livre de pesadelos, do tipo que você acorda zonzo, sem saber o horário nem sequer onde estava. Mas logo voltou a si. Era sua casa, sua mini casa, e era quase meio-dia. Sett ainda estava dormindo ao seu lado, um de seus braços apoiado em cima da barriga do presidente.

Observou-o por alguns segundos. Certo, está querendo enganar quem? Foram longos minutos. Talvez devesse perguntar a história daquela cicatriz no canto inferior direito de seu lábio, e também a larga marca que atravessava a ponte de seu nariz. Aphelios sempre reparou na cicatriz do nariz, mas nunca esteve perto o suficiente ou sequer teve tempo o bastante para analisar aquela do lábio. Mesmo durante os beijos podia sentir uma leve depressão quando sua língua tocava aquela marquinha, e só de pensar nisso sentiu necessidade de contornar os lábios de Sett com seus dedos.

Ah, estava delirando de novo.

Era o dia do baile, ainda havia o assunto de Seraphine. Não havia pensado nisso com clareza na noite anterior, Sett não havia deixado. Não intencionalmente, mas sua presença, sua voz, suas piadas e suas risadas eram suficientes para fazer Aphelios esquecer quaisquer problemas. Na presença de Sett, tudo podia esperar. E talvez pudesse esperar ainda mais.

Seraphine estava muito empolgada para o baile, não parecia justo terminar antes da festa e deixá-la sem par, com uma pancada dessas tão de repente. Mas também não parecia justo ir ao baile com ela enquanto seu coração gritava o nome de Sett.

É, estava ferrado.

As coisas eram mais fáceis quando não tinha um meio-vastaya tarado que aconchegava o rosto em seu pescoço e ronronava suavemente enquanto dormia. A mão que estava em cima de sua barriga o apertou, trazendo-o mais para perto.

— Está acordado? — Sussurrou, mas não houve respostas, Sett ainda estava apagado.

A expressão dele era tão suave enquanto dormia, completamente o oposto de quando estava acordado. Dormindo parecia um anjo inocente, já acordado... Aphelios não pôde evitar um sorrisinho.

De repente sentiu vontade de acordá-lo apenas para poder falar. Tudo, falar absolutamente tudo. Do quanto gostava da cicatriz em seu lábio, de como ele ronronava feito um gato enquanto dormia, na forma que ele o puxava e ciscava o nariz em seu pescoço, como se Aphelios fosse uma pelúcia. Queria dizer que dormia bem com ele ali, e que o amava por isso.

O amava por ter insistido, por não ter desistido mesmo quando implorou para que ele fosse embora. O amava por Sett ter invadido sua vida, ter bagunçado sua cabeça e seu coração, e ter se disposto a lhe dar a mão e ajudá-lo a organizar tudo. Amava a forma como ele o beijava, como lhe acariciava o rosto, até mesmo a maneira como seu toque fazia sua pele queimar. Amava seu zelo, suas palavras de consolo e sua disposição para ouvi-lo e interpretá-lo.

Talvez ainda fosse cedo demais. Cedo demais para amá-lo, quanto mais contar que o amava. Paixão era muito diferente de amor. Entre gostar e amar havia um caminho muito longo, mas Aphelios havia pulado algumas partes, era comum de seu lado apressar tudo e até mesmo estragar tudo.

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⏰ Última atualização: Feb 15 ⏰

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