A queda

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Az pensou no que dizer e em qual desculpas dar. Olhou nos fundos dos olhos de Helion e torceu para que ele percebesse, para que notasse. Os dois se encararam por um tempo e Az sentiu o que pareceu ser um clique em sua mente.
— Deixaremos as explicações para mais tarde — Helion disse com um semblante sério, o Illyriano teve esperança de que a tentativa de comunicação tivesse funcionado.
O Grão-Senhor se aproximou de Lucien e observou o ferimento com atenção, o sangue havia secado e estava com um aspecto estranho. Az temeu que a adaga fosse da mesma natureza da arma que ferira Helion. Mor percebendo que a cena era de mais para uma criança, voltou para dentro com Nyx, enquanto Az ajudava Helion a despir Lucien. A curandeira chegou em questão de segundos e eles o levaram para o quarto que Feyre tinha separado como sendo do Feérico. O Illyriano tivera achado essa ideia um pouco exagerada, mas agora agradecia por Feyre nunca ter lhe dado ouvidos.

Eles o deitaram na cama e a curandeira analisou o ferimento.
— Não é profundo — disse com o cenho franzido — mas parece haver pó de freixo no ferimento — com as mãos embuidas em poder, começou a tratá-lo.
Helion observou tudo de longe com os braços cruzados encostado contra o batente da porta.

Ficaram assim até que a curandeira os avisou que estava tudo bem. Quando foi para o próprio quarto, quis desabar na cama, mas sabia que não escaparia tão fácil, então simplesmente se posicionou no meio do cômodo e esperou em silêncio até que Helion entrasse e fechasse a porta.
— Você está imundo — o Grão-Senhor soltou.
— Estou mesmo.
— Me dirá onde esteve ? — sua resposta foi um breve silêncio. Não é que não confiava em Helion, nunca se tratou disso, queria dizer, queria tranquilizá-lo, mas não sabia como começar.
— Venha aqui — o Grão-Senhor disse por fim.
Az se aproximou do parceiro com uma curiosidade contida. Helion esticou as mãos decoradas com joias em sua direção e começou a despi-lo com destreza. Az se surpreendeu com a ação, mas permitiu que o outro continuasse. 

Nacos de terra caiam no chão e poeira começavam a cobrir a túnica pálida de Helion. Quando o macho deslizou a última peça de roupa, Az se sentiu vulnerável e sensível.
O Grão-Senhor tinha movimentos gentis quando o puxo em sua direção e o abraçou. O Illyriano não sabia que expressão estava fazendo para merecer tal abraço, mas assim que sentiu o cheiro do outro invadir seu nariz, relaxou e se entregou. Passou os braços envolta da cintura esguia e trouxe o nariz até sua nuca, inspirando com força. Helion enterrou os dedos em seus cabelos e a carícia provocou arrepios.
— Ei, tá tudo bem ? — perguntou novamente e Az teve vontade de falar tudo, tirar todo o peso que carregava, mas sabia que não podia. Respirou fundo mais uma vez.
— Acabou, Helion — disse com seriedade — dessa vez acabou mesmo — o outro se manteve em silêncio e não respondeu. Afastou o corpo e com as mãos nos ombros do Illyriano, olhou mais uma vez.
— Fico feliz que tenha acabado — soltou e um sorriso gentil se formou em seus lábios. Az teve vontade de beijá-lo.
— Você é...
— Eu sei — rebateu — deveria agradecer aos deuses por me ter como parceiro.
O humor tinha voltado ao seu tom de voz e o ambiente estava mais leve.
— Agradeceria, mas não sou religioso — Az respondeu com um sorriso de canto.
— Pois comece, vou construir um altar especialmente para você.
— Se quer desperdiçar sua fortuna, conheço maneiras melhores — gracejou.
— Como sempre um negacionista — Helion descartou o que ele disse com um movimento de mão — vamos, vamos tomar um banho e voltar para cama — completou caminhando em direção ao banheiro.
Az permaneceu alguns segundos parado antes de seguí-lo.

~
O dia estava feio. O tom cinza escuro decorava e preenchia toda a paisagem de Zalaty, não havia cantoria ou mercadores anunciando sua mercadoria. A cidade parecia estar em luto, até os pássaros haviam recolhido seu canto em protesto. Atlýs não via a cidade assim desde a morte da Rainha... era irônico pensar que de certa forma, hoje eles também perderiam o Rei Consorte. Antes do Rei partir, ele chamara Atlýs para uma conversa a sós. Dissera que havia se casado com Leon na noite anterior. Os votos haviam sido feitos em segredo, assim como a coroação.
— Caso algo aconteça — havia começado — caso algo aconteça comigo, quero que o povo saiba que Zalaty tem outro Rei — Ravi sabia o peso daquelas palavras, sabia que o machucaria.
Atlýs não podia deixar de achá-lo cruel por ainda assim, dividi-las com ele.
Não sabia ao certo quanto tempo tinha passado desde a partida deles, sabia que seus nervos estavam a flor da pele e seu coração apertado. As voltas que dava na sala em que estava não estavam o ajudando e por isso parou antes que abrisse um buraco por onde seus pés passaram centenas de vezes.
— Não é normal nevar tão cedo assim — Atlýs ouviu uma criada dizer enquanto passava pelo corredor. Aquilo chamou sua atenção.
— Parece que até os céus estão contra — outra respondeu.
O príncipe foi até a varanda e ficou boquiaberto ao notar pequenos flocos de neve cairem tímidos pelo céu.
— Neve... — balbuciou com o cenho franzido.  A visão dos pequenos pontinhos brancos provocou um arrepio por todo seu corpo, se antes achava que algo estava errado, agora cada um de seus poros gritavam em denúncia.
"Quando o inverno vêm, o coelho na toca deve se manter..." . Atlýs sentiu seu corpo gelar e não pode deixar de tremer quando as palavras de Ilana vieram em sua mente.
— não... — exclamou quando uma única lágrimas trilhou sua pele macia. Tudo estava se encaixando em um belo e macabro cortejo fúnebre, Orion nunca teve intenção de assinar nada. Desde o princípio era para... se sentiu travar com o pensamento.
— era para tirar o coelho de sua toca — completou encarando a neve em transe. Precisava avisá-los, precisava impedir Orion e tinha que ser agora.
— SURI! — grito a plenos pulmões com o horror tomando conta de cada sílaba. Precisavam ser rápidos, ainda teria que atravessar um descampado a cavalo — SURI! — gritou mais uma vez enquanto pulava as escadas e aterrizava no térreo.
— o que foi ? — ouviu a amiga perguntar enquanto tropeçava nas saias ao andar rápido.
— temos que ir, eles estão em perigo! — começou eufórico e assustado.
— Quem ? Atlýs! O que aconteceu ? — Suri tentou acompanhar.
— A princesa me alertou, devia te-la ouvido — balbuciou. Já haviam chegado nos estábulos aquela altura  e Atlýs tirava da baia o primeiro cavalo em qual pos os olhos.
— Atlýs! — Suri ralhou — me diz o aconteceu, direito!
— O ACORDO SURI! — exclamou alto — O acordo é uma farsa!

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⏰ Última atualização: Feb 16 ⏰

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