Libertação

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Helion ainda estava se lamentando na sala que discutira com Az. Encarava a rachadura na parede perdido em pensamentos e não notou quando uma redoma preta se ergueu a sua volta. Tudo ficou extremamente silencioso e escuro, sentiu o eco do vazio ao seu redor, percebeu que estava isolado. Mesmo que gritasse provavelmente teria sua voz engolida por aquele espaço. Todos os seus sentidos ficaram em alerta e seu corpo tensionou, uma explosão soou e algo veio em sua direção. Ergueu um escudo de proteção com rapidez e se preparou para o impacto, mas a flecha negra se chocou e perfurou seu escudo com tanta facilidade que surpresa tomou sua expressão. A dor fez Helion ver estrelas quando ela o atingiu na barriga, ergueu a mão para tirá-la e a viu se fixar em sua carne como uma espécie de sanguessuga, veias negras se espalharam no local do ferimento e o Grão-Senhor sentiu seu poder se esvair. Aquela flecha não era algo que um Feérico seria capaz de criar, emanava uma aura maligna, antiga e faminta; estava devorando toda sua energia, o sugando. Ouviu a sirene tocar distante e uma série de explosões, estavam sendo atacados e ele precisava sair dali. Percebeu que não conseguia atravessar e quando tentou, sentiu as veias aumentarem e a dor ressoar. Saiu da sala com esforço e mordeu o lábio, seja lá quem estivesse atacando, não parecia ser Feérico ou sequer uma criatura comum, precisava de um plano e provavelmente de ajuda. "Ah, eu não posso continuar assim, vou morrer" Helion pensou, sentiu um líquido pegajoso escorrer da ferida e uma fisgada forte. Usou o menor fluxo de energia possível para manter a magia de cura sobre o ferimento, mas não estava adiantando. Respirou fundo e recuou até a parede do corredor, ainda não sabia onde o inimigo estava e olhava em estado de alerta para todos os lados. Se culpou por ser pego tão desprevenido e se envergonhou também, como poderia ser considerado o Quebrador de Feitiços quando seu Palácio era invadido tão facilmente e ele ferido ? Se perguntou o que raios tinha acontecido com ele para amolecer assim.
— Pare de resistir — ouviu uma voz distorcida ecoar.
— Quem é você ?... o que é você ? — perguntou com os dentes cerrados. A raiva fez seu sangue esquentar e sua pulsação acelerar, suor frio escorria por sua têmpora.
— Não sou inimiga — respondeu.
Helion soltou uma risada baixa e dor fisgou em seu abdômen, sibilou e tossiu levemente, tentou puxar a flecha, mas só de encostar os dedos nela, outra onda de dor viajou por todo seu corpo o fazendo ficar atordoado. Sentiu seu pulmão sobrecarregar e sua respiração começou a ficar fraca, iria morrer pensou, sua cabeça começava a pender e sua visão a ficar turva. Teve medo, não pensou que morreria tão pateticamente, com assuntos pendentes.
— Por que veio aqui ? Não havia uma maneira mais fácil de me matar ? — perguntou com dificuldade.
Uma figura encapuzada apareceu no fim do corredor. Helion a olhou e um sorriso debochado apareceu em seu lábios.
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Az atravessou e apareceu como um vendaval furioso na entrada da ala sul do Palácio, os soldados se assustaram e ergueram suas armas em sua direção, mas quando Arlan viu quem era, mandou que abaixassem. Tentavam quebrar uma barreira escura que havia se erguido cobrindo toda a ala. Sentiu um puxão no laço e uma fisgada, ele estava ali dentro. Avançou em direção da barreira, imbuiu seus punhos com magia e a socou com toda sua força. Não conseguia raciocinar ou pensar direito, terror tomava seu coração, mataria com as próprias mãos quem tinha feito aquilo e faria isso lentamente. Continuou socando com toda força e poder que tinha e sentiu seus ossos reclamarem, sabia que não podia exagerar, mas não se importava com o que aconteceria com seu corpo.
— ME AJUDEM! — gritou assustadoramente. Os homens de Helion hesitaram e olharam para Arlan, nenhum dos ataques pareciam fazer efeito e quando percebeu que a barreira ainda continuava intacta, Az se desesperou.
— Vamos, precisamos quebrar isso! — Cassian disse se juntando ao irmão e atacou desferindo golpes de espadas. Começou a ficar impaciente, o tempo estava passando e tinha que tirar Helion de lá, sentiu o laço enfraquecer e arrancou os sifões que estavam presos a suas mãos, seu poder se descontrolou parcialmente.
— Az! — ouviu Cass o chamar em tom de censura, mas não se importou, desferiu mais um golpe e dessa vez sentiu a barreira tremer. "Helion, não ouse morrer" , gritou pelo laço.
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O Deus do Sol  (Hiatus) Onde histórias criam vida. Descubra agora