Milly

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Você já teve a sensação de não pertencer ao próprio corpo?

Essa sensação não é estranha para mim, principalmente agora, mas mesmo assim consigo sentir.

Consigo sentir a tontura
Consigo sentir a brisa
O vento batendo em meu rosto,
fazendo a saia de meu vestido voar levemente
Os meus pés cegamente percorrendo o caminho da beirada do terraço, onde provavelmente deveria ter um parapeito

Mas o que eu não consigo sentir é o meu corpo
minha mente
os pensamentos turbulentos que enchiam a minha cabeça desde que me entendo por gente
A minha própria presença
Medo.

Eu não sinto medo.

Sinto como se eu fosse apenas uma alma, flutuando pela beira de um prédio
tão leve e fluída que pode a qualquer momento escorregar - o que já aconteceu algumas vezes -, e cair - o que quase aconteceu em todas essas vezes.

Mas ao mesmo tempo, eu não sinto nada.

Dá para entender?

- Pula. - Ouvi dizerem, a voz atrás de mim que me trouxe à realidade. Ou quase.

Meus olhos abriram sem comando e eu parei. Parei para olhar para baixo.

Esse prédio tem com certeza mais de 10 andares.

- Pula. Vai ser legal. - Disse a voz novamente, enquanto eu olhava para todas as coisas que pareciam minúsculas aqui de cima.

Se eu estivesse em meu estado normal, provavelmente pensaria que isso era um absurdo, mas eu não estava.

Na verdade, isso nem passou pela minha cabeça.

Vi meus pés escorregando da beirada, poeira e pequenas pedrinhas caindo para aquele abismo, assim como eu;

mas, não fiz nada para impedir a queda inevitável.

Apenas assisti, enquanto as coisas minúsculas se tornavam cada vez maiores, meu corpo ganhava velocidade mas meus músculos continuavam relaxados.

E então eu senti

Eu senti liberdade. Eu me senti livre, me senti mais feliz do que nunca, senti como se pudesse voar por toda a cidade em busca do tão esperado Conforto.

Eu senti o vento soprando meu cabelo para longe do meu rosto, o mesmo que sempre insistia em cair na minha cara, por mais que eu tentasse arrumar. O mesmo que era cheio demais e sempre me incomodou.

Eu senti meus braços se abrirem, como se abraçasse a tal Liberdade, como se fosse um passarinho abrindo o voo, como se tudo que um dia eu busquei fosse este exato momento.

Eu senti meu sorriso se abrindo, mas também as minhas lágrimas caindo.

E quanto mais o chão se aproximava, eu sentia medo.

Eu senti medo da dor.

Eu não quero me machucar, eu nunca quis, mas eu não consigo parar.

Eu não quero chegar ao final, eu não quero sentir dor, eu não quero morrer

Eu não quero morrer.

Mas antes de poder chegar em tal conclusão, eu já havia chegado ao chão.

E nesse exato ponto que eu acordei, ofegante e com a maior dor de cabeça que já tive na vida.

Olhei em volta, sentada na cama, observando o quarto desconhecido. Era incrivelmente bagunçado e ligeiramente grande, parecia o mesmo modelo dos dormitórios da escola.

Tentei me levantar, mas a tontura repentina me impediu e me forçou a sentar novamente. Coloquei a mão na testa antes de tentar mais uma vez, pegando minhas coisas do chão, me ajeitando e saindo do quarto, desviando de todas as coisas espalhadas por ali.

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⏰ Last updated: Jun 15 ⏰

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