Escravo da saudade

Apenas coincidências

Hoje é 5° o aniversário da Laura.  Na pensão fizemos uma festa com os coleguinhas do colégio.

A minha filhota está a coisa mais linda vestida de Frozen.  As crianças divertiam-se.  Miguel era pior que todos.  Uma autêntica criança.  Laurinha não podia ter melhor pai.  Sempre presente e prestável.

Na hora da primeira fatia de bolo, claro que ela deu para ele, mas foi dizendo que é para dividir com a mamãe.

À noite, no nosso quarto, agradeci a Miguel estes 5 anos maravilhosos.

- Sei que não foi fácil, mas tentei de tudo para que fosses feliz.

- Ei!  Até parece que estás a despedir-te de mim, Miguel.

- Não.  Só tenho uma sensação esquisita dentro de mim.  Vêem aí novidades, eu pressinto.

-  Boas ou más?

- Não sei.  Mas que vem, vem.

Não falámos mais do assunto.

No dia seguinte liguei para Marta.  Mandei-lhe as fotos da festa da Laurinha.

- Está tão linda a minha sobrinha.  E tu, amiga?

- Estou bem.

- Ainda pensas nele?

- Não quero falar disso.

- Se não queres falar é porque não o esqueceste.

- Ainda dói.

- Ele tem um menino quase da idade da Laurinha.

Juliette não conseguiu conter as lágrimas.

- É dela?

- É, mas ela abandonou-o à nascença.  Ele nunca mais esteve com ela.  Contou ela à Graça.  Queria tirar a criança e ele não deixou

Nós, vossos amigos nunca mais o vimos com ninguém.

- Ele cria o filho sózinho?

- Sim.  Não o larga.  Até para a academia vai com ele.
Amiga, quando vens apresentar-me a tua filha gostosa e esse teu Adónis?

- Quem, o Miguel?  E lindo,  não é?
Um dia destes eu dou as caras por aí.

- Está bem.  Te cuida.  Fiquem todos bem.

Entretanto Rodolffo também se preparava para realizar a festa de 5° aniversário de Rafael.  Faltavam dois meses e ele andava atarefado para escolher tudo.

Estavam os dois no shopping onde foram escolher a roupa de Gabriel.

Marta que também circulava por ali, foi ter com eles mal os viu.

- Que é que os dois bonecos andam a fazer aqui.

- Oi Marta.  Que bom ver-te.   Estava a precisar de ajuda feminina.

- Para quê?

- Quero comprar a roupa para o aniversário do Rafael.

- E qual é o tema?

- Tem que ser da Frozen.  Hanz o príncipe da Frozen.

Marta não pode deixar de sorrir.

Rodolffo ficou intrigado.

- Que foi Marta?

- Nada.  Apenas coincidências.

Marta ajudou na compra da roupa e Rodolffo convidou-a para almoçar.  Precisava de mais algumas dicas sobre a festa.

- É a primeira festa a sério.   Nós outros anos foi só um bolinho no colégio.  Uma mini festa.

Marta estava divertida com Rafael,  mas Rodolffo estava um pouco nervoso.

- Rodolffo,  algum problema?  Sinto-te nervoso.

- Estou.  Não queria perguntar, mas tens noticias da Ju?

- Rodolffo!  Eu já disse outras vezes que não posso dar informações.

- Marta, eu juro que não faço nada. Nem vou atrás. Só queria saber se está bem.

- Olha!  A minha amiga vai-me matar, mas tu deves seguir a tua vida.

- Eu estou bem assim.  Tenho o Rafael e chega.

- A Ju casou, Rodolffo.   Tem uma menina quase da idade do Rafael.

Rodolffo limpou duas lágrimas que teimaram em cair.

- Eu mereço.  Ainda não sei o que aconteceu naquele dia, mas a verdade é que eu traí a Ju e mereço.
Espero que ela esteja feliz.

- Todos ficámos sem palavras.  A Eva?  Ninguém entendeu até hoje.

- Nem eu, mas o certo é que aconteceu.

Marta sentiu pena dele.  Mostrou a foto de Laurinha vestida de Frozen e riram da coincidência.

- Deve ser o universo a conspirar contra mim.

Terminaram o almoço e Marta despediu-se prometendo ajudar no que ele precisasse.

Rodolffo regressou a casa triste.
Tinha sido muita informação, mas havia alguma coisa errada.  Como é que a Laurinha é quase da idade de Rafael?

Ela conheceu o marido assim que chegou lá, casaram logo e ela engravidou?  Se foi assim, o amor por mim não era grande coisa, ou foi sexo casual e resolveram casar?

Estas e outras perguntas eram agora senhoras dos meus pensamentos.

Fui tirado deste meio pelo Rafael que reclamava a cama.
Estava cansado de andar no shopping e queria dormir.

Deitei-me juntamente com ele na minha cama e adormecemos os dois.