Ombro amigo

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Juliette despediu-se de Marta na porta da shopping.

- Não sei como te aguentaste.  Por mim ela saía dali sem alguns dentes.

- Não ia adiantar nada.  Se é verdade a  condição de saúde dela, já é punição suficiente.

- É, amiga tens razão.   E agora?

- Agora só aumentou o meu sentimento de culpa por ter sido impulsiva e fugido.

- Ai, Ju.  Relaxa.  Esquece o passado, faz um reset e avança sem medo.  Tens uma filha linda, um homem que te ama e de bónus vem com outro filho, então não olhes para trás.

- Já é tarde,  amiga.   Preciso ir buscar a Laurinha.  Tchau.

- Tchau.  Até segunda.

Cheguei a casa de Rodolffo já era noite.  A mesa estava posta e as crianças tinham ido lavar as mãos.

Rodolffo reparou nos olhos vermelhos de Ju, sinal que havia chorado bastante.

- Que foi, Ju?

- Nada, não.  Onde está Laurinha?

- Estão a lavar as mãos para jantarem.   Vem.  Fiz a contar contigo.

- Eu não tenho muita fome.

- Estiveste onde?  Que foi?

- Estive com a Eva.  Contou-me tudo sobre a armação.

- Foste sózinha?  Só Deus sabe do que ela é capaz.

- Fui com a Marta.  Também tive um problema lá no trabalho.

- Oi mamãe!  Já chegaste?

- Já.  Vem jantar para irmos embora.

- Mas...  eu tinha pedido ao papai para dormir aqui.  Amanhã não há escola e ele prometeu que íamos ao Zoo, não foi, Rafael?

- Foi.  Tia, fica aqui também.

- Laurinha, eu disse que podias dormir se a mamãe deixasse.

- De certeza que ela não incomoda?

- Claro que não,  e realmente eu prometi ir ao zoo.

- Então,  eu vou embora.  Aproveito para dormir até tarde.

- Não vais connosco?  Eu passo lá para te apanhar.

- Não.   Não serei boa companhia de certeza.  Já vou.

Dei um beijo nas crianças e Rodolffo acompanhou-me até à porta.

Deixei que ele me abraçasse e ouvi-o dizer :
Sei que hoje precisas de um ombro amigo.  Fica.  Eu posso ser esse ombro.

Apertei-me contra ele, olhei-o de lágrimas nos olhos e fui embora.

Entrei em casa e fui directamente para o chuveiro.  A àgua quente acalmou-me um pouco.  Deitei-me, tomei um sedativo e chorei durante bastante tempo.  Por fim mergulhei num sono profundo.

Depois da Ju ir embora, jantei com as crianças e deixei-as brincar enquanto lavava a loiça.

Ela saiu a chorar.   Sei que vai ter uma noite difícil.   Nunca quis contar a verdade sobre aquele dia pois nunca pensei que a Eva voltasse e ainda tivesse lata de contar.  A verdade ia morrer comigo.  Eu sabia que a Ju ia sofrer com ela.

Antes de dormir,  liguei para ela, mas não atendeu.  Calculei que tivesse dormido cedo.

De manhã acordámos cedo.  Os pequenos estavam excitados por causa do passeio.  Confesso que perdi a vontade.  Queria estar sózinho com ela.  Dar-lhe carinho.

Liguei antes de sair e continuou sem atender.
É cedo.  Por certo ainda está a dormir, pensei.

O dia não foi tão animado como previsto.  Os irmãos divertiram-se muito, mas eu não consegui desfrutar.   O meu pensamento estava longe.

Voltámos para casa um pouco mais cedo do que eles queriam.

Ao chegar a casa, mandei-os tomar banho e pedi à minha empregada para tomar conta deles.  Para lhes dar um lanche e pô-los a dormir um pouco.  Preciso sair para resolver um assunto, disse.

Acho que nunca dormi tantas horas seguidas.  Acordei já passava de meio dia.  Tomei café da manhã e deitei-me novamente no sofá com a TV ligada sem som.  Precisava de silêncio.

Estava quase a dormitar de novo quando ouço a campainha.

- Deve ser a Laurinha,  pensei.

Abri a porta e ali estava Rodolffo.

- Oi dorminhoca!  Ainda de pijama?

- Estava aqui deitada no sofá.   Acordei tarde e não me apeteceu trocar de roupa.  As crianças?

- Ficaram em casa a descansar.   Não pararam todo o dia.
Dormiste bem?

- Sim, mas precisei da ajuda de um comprimido.

- Já me queres contar o que aconteceu ontem?

- Senta aqui.

Escravo da saudadeOnde histórias criam vida. Descubra agora