- Bom dia, Ju. Como está a Laurinha?
- Bom dia, Marta. Está bem melhor.
- Sabes quem encontrei ontem no shopping?
- Diz.
- A Eva. Ficámos horas a falar. Vou ter com ela hoje de novo.
- Falaram de quê? Das tramóias dela?
- Coisas banais. Eu perguntei sobre, mas ela diz que só fala disso contigo se um dia te encontrar.
Não queres ir hoje comigo?
Vai, Ju. Esclarece logo esse assunto.- A que horas?
- Quando sairmos daqui. Anda! Se não quiseres ouvir sempre lhe podes dar uns tapas.
Seguiram cada uma para o seu posto de trabalho e pelo caminho Juliette encontrou Luís.
- Bom dia sol da nossa vida.
- Deixe de gracinhas. Desde quando eu lhe dei essa liberdade?
- Não te faças de difícil. No fundo todos sabemos o que vocês querem.
- E é o quê? Um escroto como tu?
- Não. Subir um degrau, mas para isso tens que passar por aqui. - Disse apontando para o sexo.
- Deixa dizer-te um segredo - Juliette aproximou-se dele e fingindo segredar ao ouvido, deu-lhe uma joelhada, ali mesmo, com toda a força possível.
Outros funcionários aproximaram-se ao ver Luís ajoelhado e contorcendo-se com dores.
- Daqui vou à gerência contar tudo e depois fazer um B.O. na delegacia.
- Isso mesmo, menina Juliette. Pode contar comigo que eu vi tudo, disse um segurança.
- Não faça isso, Juliette. Me desculpe.
- Faço. Por mim, pelas que já assediaste e pelas futuras. Gente da tua laia não pára.
Juliette seguiu para a gerência que após ouvir o ocorrido ligou à segurança para impedir que Luís saísse. Eles próprios chamaram a polícia.
Luís foi detido após visualizarem as câmaras de segurança e Juliette ter apresentado queixa.
Depois de terminado o expediente Ju ligou a Rodolffo e pediu que ele buscasse a filha juntamente com Rafael. Tinha um assunto a tratar e ia demorar.
Juntamente com Marta seguiu para o encontro com Eva.
Esta assim que a viu, olhou com raiva para Marta.
- Eva, a Ju tem o direito de saber. Tu própria disseste ontem, que lhe contava quando a encontrasses.
- Só não contava ser hoje.
- Eva! Passaram 7 anos. Preciso de saber porquê? Nós éramos amigas.
- Senta aí. Tu também Marta. Eu já não tenho nada a perder.
Lembras-te de me dizeres que estavas contente porque tinha acontecido uma coisa boa?
- Sim.
- Foi no início da manhã. Tinhas ido trabalhar, mas de tarde ias ao médico.
A meio da manhã precisaste de ir ao depósito. Saí contigo e fui falar com o João. Ele era doido por mim. Já tínhamos transado algumas vezes no depósito. Convenci-o a prender-te lá e deixar um telemóvel a gravar. Ficou gravado o teu desespero para saíres de lá, mas após um bom tempo desististe e ele conseguiu entrar e retirar o telemóvel sem tu dares conta. A ideia era deixar-te lá até ao dia seguinte.
Com essas imagens, no final do dia eu fui até casa de Rodolffo. Sabes que eu tinha uma queda por ele. Não era novidade para ninguém.
Chantageei-o que só diria onde tu estavas se ele transasse comigo. Era só uma vez, mas eu satisfazia a minha obcecção e para ele seria mais uma transa.
Ele rebateu muito. Implorou e eu disse que quem te vigiava podia fazer contigo o que ele não queria fazer comigo. Bastava uma mensagem minha.
No final, ele cedeu. Não foi bom. Eu transei com ele, mas ele não transou comigo. Foi mais uma violação consentida.
Não era para o João te libertar tão cedo, mas acho que teve um rasgo de bom senso e deixou-te sair com a desculpa que tu sabes.
Não desconfiaste e tudo seguiu normal até me encontrares na cama com o Rodolffo. Depois de saíres ele expulsou-me lá de casa.
Só o voltei a ver quando descobri que estava grávida. A partir daí creio que já sabes.
- Odiávas-me assim tanto?
- Não te odiava. Odiava mais o Rodolffo porque sempre que me insinuei ele humilhou-me.
- Então porque quiseste que ele ficasse com o teu filho?
- Porque para mim também era uma forma de o punir. Eu sabia que ele adorava crianças e se eu dissesse que ia abortar, ele não deixava. Eu sabia que ele nunca renegaria um filho.
- Mas ele não era o pai.
- Eu sabia. Vou contar outra parte da minha vida que ninguém sabia.
De dia eu trabalhava convosco, mas de noite, principalmente aos fins de semana eu era GP. Fiquei grávida, não sei de quem.
- E nunca quiseste saber do teu filho.
- Eu não tenho filho. Nunca quis. De certeza que onde estiver há-de ter muito amor. Isso eu não lhe posso dar. Muito menos agora.
- Agora porquê?
- Voltei para resolver umas papeladas. Contraí AIDS. Vou internar-me numa clínica. É uma boa clínica. Ao longo destes anos ganhei muito dinheiro como GP, por isso posso pagar a clínica, mas não tenho muita esperança. A doença está num estágio muito avançado.
- Queria dizer que lamento, mas não. Não lamento, Eva. Sofri muito por tudo isso e o pior de tudo fiz a minha filha sofrer longe do pai. Sim, eu ia dizer ao Rodolffo nesse dia, que estava grávida.
- Mas eu lamento, Juliette. Espero que um dia, tu e o Rodolffo me possam perdoar. Obrigada por me ouvires.
Juliette levantou-se sem dizer mais nada. Marta veio atrás deixando Eva sózinha, sentada na mesa da àrea externa do shopping.
- Que doideira, Juliette. Como pode o ser humano ser tão cruel.
Agora, quase que entendo o "Foi só uma transa"- O quê?
- Quando eu perguntei ao Rodolffo, porquê a Eva, porquê aquilo, ele respondeu "Foi só uma transa".
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Escravo da saudade
Fanfiction"Foi grande a maldade, que você me fez, esqueça o passado volte ao meu lado, tente outra vez" " do álbum Na terra do pequi"