Juliette desbloqueou o número de Rodolffo e ligou.
Rodolffo a princípio custou a acreditar que realmente ela daria o primeiro passo. Olhou curioso para o ecrã e resolveu atender.
- Oi Ju. Bom dia.
- Bom dia, Rodolffo. Precisamos ter uma conversa.
- Eu não posso ir agora. Estou sózinho com o Rafael.
- O teu filho também pode vir, mas se quiseres conversamos outra hora.
- Não. Eu vou e levo o meu filho.
Em poucos minutos Rodolffo e Rafael chegaram. As casas não distavam muito uma da outra e era rápido chegar.
Tomou à campainha e num instante Juliette abriu a porta.
- Entrem.
Rodolffo e Rafael entraram de mão dada. Laurinha brincava no sofá com legos.
- Laurinha, diz bom dia.
- Bom dia.
- Filha, leva o Rafael e vão brincar no teu quarto. Leva os legos.
- Está bem, mãe. Anda Rafael. Deu a mão a Rafael e subiram os dois.
Rodolffo ficou a vê-los sair da sala.
- Vem sentar-te no sofá.
- Juliette, euuuu.....
- Primeiro deixa-me falar eu. Depois se ainda quiseres, podes falar.
- Fugi magoada, com raiva de ti e do mundo e no fim acabei por fazer as maiores burradas da minha vida.
Fiz coisas de que não me orgulho nem um pouco. Usei pessoas.
Talvez o que tu fizeste nem se compare ao meu egoísmo. Não pensei em ti, nem na minha filha. Só tinha mágoa em mim.
Naquele dia eu ia contar-te da minha gravidez, mas perante o que vi não era possível. Não sei porque o fizeste, mas para o caso pouco importa.
Não pensei que estava a impedir a minha filha de ter um pai. Eu só queria desaparecer.
Encontrei pessoas maravilhosas, que me ajudaram, inclusive um homem maravilhoso que acolheu as duas desinteressadamente. Casámos, mas Deus tinha outra intenção.
Miguel faleceu há quase um ano e eu resolvi voltar.Não por mim, mas pela Laurinha que merece conhecer a verdade e também porque tu tens o direito de saber que tens uma filha.
Fui muito egoísta quanto a isso e as minhas desculpas.Preciso só de um tempo para lhe contar tudo e depois podes conviver com ela se quiseres e quando quiseres.
- Ju, até hoje eu não sei como aquilo aconteceu. A Eva nunca me disse o que andou a tramar para se meter na minha cama, aliás, depois daquele dia ela só me procurou para anunciar a gravidez e dizer que ia tirar se eu não o quisesse, pois não o queria.
Eu tinha quase a certeza que não era meu, mas aceitei-o de igual modo. Amo-o e para mim não faz diferença.Ambos cometemos erros. Quem sou eu para te julgar. Eu teria ficado muito contente em criar a nossa menina mas passado é passado e cá estamos para seguir em frente.
Lamento a morte do teu marido e se ele tratou bem a minha filha eu sou-lhe grato.
- É, foi muito triste. O Miguel não merecia. Era um homem bom, Deus o tenha.
- Como reagiu a Laurinha?
- Como qualquer criança. Chorou, mas elas têem o poder de nos fazer enxergar, o quanto a vida é efémera.
Por isso preciso de tempo para lhe contar. Vai ser complicado dizer a uma criança de 6 anos que o pai que ela adorava, afinal não era o pai verdadeiro.
- Já a matriculaste na escola?
- Sim. Não Colégio Santa Margarida.
Pareceu-me o melhor.- O Rafael também vai para lá.
Desculpa Ju. Eu nem sei o que falar.- Não há necessidade de desculpas. Os dois errámos de maneira diferente.
Pelos nossos filhos vamos manter uma convivência saudável.Senti a Ju muito dorida. Eu não queria recriminá-la por me esconder Laurinha. Eu falhei primeiro e em parte entendo. Tenho pena de não tê-la visto crescer, mas darei o meu melhor daqui para a frente.
- Laurinha! Traz o Rafael e desce.
Os dois desceram lado a lado e pelos sorrisos deram-se muito bem.
- Precisamos ir, Ju.
- Mamãe, o Rafa podia almoçar cá? Eu gostei de brincar com ele.
Apanhada de surpresa, Juliette não respondeu, então, Rodolffo adiantou-se.
- Não Laurinha. O Rafael gosta de comer na casa dele.
- Não pai. Eu quero comer com a Laurinha.
Juliette olhou para Rodolffo e não teve outro jeito.
- Almoça connosco também
Assim ela vai acostumar-se com a tua presença.Rodolffo não insistiu mais e ficou.
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Escravo da saudade
Fanfiction"Foi grande a maldade, que você me fez, esqueça o passado volte ao meu lado, tente outra vez" " do álbum Na terra do pequi"