Capítulo VII - UMA GRANDE NOTÍCIA

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Há muito que Arthur não via a Pequena Dorrit. Uma tarde, enfim, encontrou-a no quarto da Penitenciária e esperou pacientemente que todos se afastassem para se aproximar da jovem, que cosia, perto da janela, na companhia de Maggie. Quando o visitante se sentou ao seu lado, a Pequena Dorrit pôs-se a tremer tanto que não conseguia agarrar na agulha. Arthur pegou-lhe na mão.

— Há algum tempo que quase não a vejo, Pequena Dorrit!

— Ando muito ocupada, senhor Clennam.

— Mas soube que esta manhã foi ver o senhor e a senhora Plornish. Porque não aproveitou para também me visitar?

— Eu. Eu não sei. Pensei que o senhor também devia andar ocupado. Não tem andado, ultimamente?

Ele contemplou aquele corpinho trémulo, aquele rosto inclinado, aqueles olhos que se baixavam sempre que encontravam os seus e sentiu, ao observá-la, tanta inquietação como ternura:

— Minha filha, vejo-a tão mudada!

Não conseguindo dominar por mais tempo a sua emoção, ela retirou a mão e ficou ali, de rosto baixo, tremendo da cabeça aos pés.

— Minha querida Pequena Dorrit - disse ele, cheio de compaixão.

Ela desfez-se em pranto, Clennam aguardou um pouco, antes de prosseguir:

— Não posso suportar vê-la chorar assim; apenas posso desejar que essas lágrimas lhe tragam algum alívio.

A Pequena Dorrit reanimou-se um pouco e respondeu:

— Sim, senhor Clennam, é isso. O senhor é tão bondoso.

Finalmente, ousou levantar os olhos para ele, mas pareceu impressionada ao contemplar-lhe o rosto e perguntou em voz alterada:

— Senhor Clennam, está doente?

— Evidentemente que não.

— Nem contrariado, nem preocupado? Foi a vez de ele não saber o que replicar. Finalmente, disse:

— Para falar com franqueza, tive algumas contrariedades, mas já as resolvi. Nota-se assim tanto? Não sabia. Não, estava convencido de que conseguia dominar a minha fisionomia!

Não desconfiou que ela lhe lia os pensamentos melhor que ninguém e que o olhar dela o perscrutava de forma tão penetrante.

— O meu rosto traiu-me, mas tal facto permite-me, assim, que desabafe com a minha amiguinha, a Pequena Dorrit, o que para mim é um privilégio e um prazer. Devo, pois, confessar que, esquecendo a minha solenidade e a minha idade, imaginei que me apaixonara por alguém.

— Alguém que eu conheça, senhor Clennam?

— Não, minha filha, não. Ora bem - prosseguiu, recordando a impressão que sentira naquela tarde de rosas, na alameda, a impressão de que era um velho para quem a ternura morrera -, dei-me conta do meu erro e tornei-me mais razoável. Fiz uma retrospectiva da minha vida: verifiquei que já trepara a colina da vida, que atravessara o planalto e que descia rapidamente pela outra encosta. Compreendi que, para mim, já passara o tempo do amor gracioso e cheio de esperanças e que nunca mais brilharia.

Ah, se ele soubesse! Se ele pudesse ver as feridas que infligia no coração paciente da Pequena Dorrit!

— Enfim, tudo acabou e não quero pensar mais nisso. Mas porque falei eu de tudo isto à minha amiguinha?

— Porque tem confiança em mim, assim o espero. Porque sabe que tudo o que lhe disser respeito, também a mim diz, a mim, que lhe estou tão reconhecida!

Ele ouviu a sua voz palpitante, contemplou-lhe o rosto afogueado, os olhos claros e sinceros e nem a mínima suspeita da verdade lhe perpassou o seu espírito. Não, ele via nela apenas a figurinha dedicada, com os seus sapatos gastos e o seu pobre vestido, na prisão criança de corpo frágil e alma heróica, cuja história familiar cintilava com um brilho tal que tudo o resto desaparecia na sombra.

A Pequena Dorrit (1857)Onde histórias criam vida. Descubra agora