𝟬𝟭𝟮 | 𝗛𝗲𝗮𝗹𝗶𝗻𝗴 𝗽𝗮𝘁𝗵

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O inverno ia embora, abrindo as portas para uma primavera amena. A neve nas folhas, no gramado, sendo derretida de acordo com o sol que ia tomando conta das manhãs. Os agasalhos pesados não eram mais necessários, as fogueiras iam sendo deixadas de lado, o caminho se tornava mais limpo e fácil.

Desde aquele dia da nevasca, Ellie sentia repulsa. Sentia nojo das pessoas, sentia nojo de si mesma. Como poderia ter deixado aquilo acontecer? E se a faca não estivesse perto o suficiente? E se Joel não estivesse a caminho? O que teria acontecido? Não gostava de imaginar.

Noites mal dormidas, David aparecendo em seus pesadelos constantemente, seu rosto inchado pelas madrugadas que passou chorando, queria que tudo acabasse.

Joel havia ajudado a garota. Sabia o que David iria fazer com ela se não tivesse chegado. No fundo, só queria protegê-las do mal que ainda corria pelo mundo.

E não estamos falando dos infectados.

Amber entendia o que Ellie havia passado. Era incrível como duas garotas de apenas quatorze anos já haviam vivido tanta coisa. Infelizmente tinham dores em comum. E quando digo infelizmente, é porque realmente é.

Tentava a todo custo passar conforto para ela, mostrando que estava ali, que não sairia de seu lado. Escutava a garota desabafar, falando que talvez aquilo fosse culpa dela, que não deveria ter saído, que não deveria ter dado o voto de confiança. Mas Amber sempre repetia a mesma coisa.

Você provou que se importa. Você lutou para mostrar que se preocupava. Nada disso foi culpa sua. Você deu o voto de confiança, mostrando que seu coração é bom, Ellie.” Era o que ela falava sempre.

Mas mesmo assim, Ellie não conseguia aceitar. Estava mais calada, estava tentando usar o máximo de roupas possíveis, para não ser surpreendida por algum grupo de caçadores querendo se aproveitar. Tentava evitar a comida, mas Joel e Amber sempre a convenciam a comer.

Salt Lake City ficando mais próxima a cada passo que davam. No final, eram apenas duas garotas que, talvez, não quisessem ter nascido com a cura correndo em suas veias.

Não viam um propósito em suas vidas. Só estavam ali, simplesmente vivendo. Pensavam que se a imunidade tivesse caído em alguém que não fosse elas, seria bem utilizada.

Talvez pelos anos de implicância e ódio, as garotas não consideravam as palavras que proferiram. Realmente estavam ali uma para a outra, mas não acreditavam. Pensavam que poderiam encher sua paciência, ou uma fizesse a outra ficar preocupada, sempre tantas desculpas.

Joel sentia muito. Não imaginava que em pleno apocalipse, o abuso ainda existiria. Quando tudo era normal, era recorrente ver casos passando na tv, ou até acontecendo com conhecidas suas. Mas, no fim do mundo, onde todos lutavam para sobreviver, ainda existir esse tipo de coisa? Não “entrava” na sua cabeça.

Não sabia como era passar por isso, mas, para mostrar que estava ali, e que nunca, mas nunca mesmo, seria capaz de fazer algo assim, apenas escutava e abraçava a garota.

Amber nunca tivera coragem de contar tudo o que havia passado esses anos na Fedra. Obviamente, agora não seria o momento apropriado. Ou talvez nunca falasse. Se apenas guardasse isso para si, seria melhor.

Esperava a noite chegar, esperava os dois vacilarem e dormirem, e chorava. Chorava por não ser capaz de proteger aqueles que amava, chorava por sentir medo, chorava por tudo o que passava. Para uma adolescente, isso era muita coisa para sua idade.

Ninguém ousava falar nada no caminho. Cada um enfrentava tudo da sua forma. Dores parecidas, diferentes formas de lidar.

Em sua opinião, os dias estavam sendo demorados. Ansiavam a chegada até o hospital, ansiavam acabar com isso, ansiavam ir para casa.

O perigo tomava conta da noite, não podiam se arriscar.

— Querem? — O homem perguntu oferecendo um pacote de petiscos que haviam trazido de Jackson.

— Não, obrigada. — A morena sorriu.

— Tudo bem. — Ellie esticou a mão e pegou uma pequena porção.

Estava tentando comer, realmente estava. A falta de comida em seu organismo, já se tornando rotineira. Seu corpo se acostumava àquilo, infelizmente.

Terminaram de comer e seguiram o caminho. Uma ponte quebrada, sendo necessário cortar o caminho. Passaram por um prédio abandonado, onde lá encontraram infectados, mas nada que não pudessem lidar.

O túnel alagado foi o que atrapalhou a passagem. Pularam por caminhões e ônibus, algumas vezes quase escorregando, mas Joel as pegava antes de acontecer.

Subiram as escadas, saindo da zona de risco, agora indo para a rua principal, sendo possível ver o Hospital St. Mary no fim da estrada.

Era agora ou nunca.

Se não conseguissem dessa vez, não iriam conseguir nunca.

Amber estava inquieta. Girava a pulseira em seu pulso inúmeras vezes, tentando tirar a tensão de si.

Ellie sentia o ar deixar seus pulmões. Seus passos intercalavam entre rápidos e devagar.

Joel estava preocupado. Quanto tempo aquilo iria durar? Iria poder acompanhá-las? Iria poder segurar em suas mãos e dizer que tudo ficaria bem, que ele estava ali? Não sabia. Não sabia se poderia estar ali com elas.

Seus passos os levaram até a escada do hospital. Abriu a porta, sentindo um impacto contra sua cabeça, o fazendo cair desmaiado.

As garotas foram pegas e levadas.

Que ótima maneira de ser recebido, não?

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esse definitivamente foi o capítulo mais curto dessa fic

o intuito não era avançar mais na fic, e sim mostrar mais o caminho deles até o hospital mesmo

oq acharam?

Obrigada por lerem!

bjos da cla!

DISAGREEMENT, Ellie Williams Onde histórias criam vida. Descubra agora