Capítulo Três - "Ele diz que sou bonita, mas me ama porque sou letal"

28 6 0
                                    

Viciado em mim, eu descobri

Ele gosta de uma doidinha, vai me manter por perto

De joelhos, estou quebrando você

Você pode dizer que me odeia, mas você nunca vai embora


Sua recuperação foi rápida. Ele não era o rei dos youkais à toa. Mas foi recomendado que permanecesse cauteloso, pois o ferimento havia sido profundo, e precisava repor o sangue que perdeu. Quanta bobagem. Uma semana após ter seu abdômen enfaixado, ele já estava espionando nas sombras a corte imperial, assim como a garota que havia o debandado. Ela era fascinante, de certo modo, e por mais que quisesse tecer a mais cruel punição por tê-lo esfaqueado, tinha que reconhecer sua força. Era realmente uma poderosa exorcista. E bela. Uma beleza periculosa e facilmente letal.

Amane tinha sua parcela de culpa. Desde o início o ataque havia sido mal planejado; uma peça para usar seu novo trunfo. Bem, estava sendo cauteloso agora, analisando o movimento dos exorcistas com seus próprios - felídeos - olhos. Poderia mandar que seus subordinados o fizessem, mas ele não era o tipo de líder que se escondia, como o covarde imperador Akane. E também, era o único capaz de comandar a Adaga de Pedra Lunar. Poderia esquivar-se facilmente pelas sombras caso fosse visto, e não queria arriscar que exorcisassem mais youkais. Podia ser conhecido como um rei perverso, porém, se importava com seus súditos. Não estaria ali se não fosse por boa parte deles.

No momento, estava na sala do trono, brincando com os brotos de higanbanas que adornavam seu assento enquanto esperava por seu irmão. Havia ordenado que o chamasse, isso há vários minutos atrás. A demora sugeria que o mesmo estava numa de suas brincadeiras, podendo variar desde azucrinar Sakura, a kodama guardiã, em sua hora do chá, até torturar os rebeldes no calabouço - este último sendo o mais demorado. Portanto, já imaginava que a espera seria demasiada, ainda mais quando Tsukasa desconhecia o significado de prontidão. Tudo era em seu tempo.

Depois de mais fastidiosos minutos, as portas do salão abriram, revelando seu irmãozinho. Seu sorriso inócuo contrastava com as manchas de sangue em seu rosto, contudo, fazia todo o sentido para Amane. Era o jeito dele. Ao menos havia trocado de roupa, esquecendo apenas de limpar o rosto, onde o líquido começava a acobrear-se. Dispensou um dos servos que lhe fazia companhia e se levantou, indo ao encontro do irmão.

- Você está uma bagunça! - Resmungou assim que chegou perto, friccionando o polegar nas bochechas dele tentando tirar a nódoa.

- Ai! - Tsukasa afastou o rosto - Assim dói, Amane!

- Tem que se cuidar mais! Não está num campo de batalha. Podemos ser sicários, mas ainda somos da realeza - Ele cruzou os braços, o encarando com seriedade - Porém, não foi por isso que o chamei hoje.

- Precisa de alguma coisa? - O gêmeo seguiu seu irmão até a janela, de onde o anoitecer ameaçava despontar - Quer que eu faça o trabalho sujo no seu lugar?

- Não é isso. Dependendo dos meus planos, consigo fazer isso sozinho - Ele sorriu astucioso, encarando o lado de fora. Já estava escuro por conta das árvores umbrosas que cobriam a floresta.

Tsukasa piscou, sem entender.

- Me chamou por que, então?

- Bom, eu preciso que alguém me dê cobertura. E também que cuide da Sakura, aquela fofoqueira, para não espalhar meus planos!

- Ei! Não fale assim! Ela apenas gosta de ouvir as árvores e saber o que acontece na floresta! - Ele bufa. Sakura era uma kodama anciã, o sábio espírito de uma cerejeira. Ela e Tsukasa eram quase família, e quando não estava com o gêmeo, se encontrava nas infindáveis festas do chá que ela mesma preparava.

❦ 𝐐𝐮𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐚 𝐦𝐚𝐝𝐫𝐮𝐠𝐚𝐝𝐚 𝐯𝐞𝐦 ❦Onde histórias criam vida. Descubra agora