05. Whiskey

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Louise

A mulher na sala de estar estava preocupada. Encolheu-se à poltrona com a caneca de chá em mãos. Por mais calor que fizesse naquela noite, a sensação de não ter o filho por perto a atormentava tanto que sentiu a necessidade de uma bebida quente para confortá-la. Com tudo o que estava acontecendo na cidade, de repente lugar nenhum ali parecia mais tão seguro quanto todos pensavam que fosse. Uma onda de revolta atingiu a mulher em seus cinquenta e três anos como um repentino lampejo de ira. Não deveria se prender a isso, contudo, gerações de sua família haviam habitado Nightville em paz para que alguns criminosos chegassem matando pessoas a torto e a direita, arruinando seu único porto seguro no mundo. Não era aceitável.

A segurança de seu menino não era a única coisa que a atormentava. Naturalmente, como qualquer mãe, temia pelas noites que ele passava fora. Quando voltava tarde para casa cheirando a uísque, temia que talvez o confundissem com algum marginal qualquer, que sofresse um acidente com aquela camionete cara e gigante, que algum espertinho tirasse proveito de seu estado alcoolizado. Ele era sempre tão gentil.

Contudo, havia algo além da integridade física que estava em perigo, ao menos aos olhos de Louise.

Ele estava em um caminho tortuoso, longe de tudo o que ela lhe ensinara, longe de todos os valores e morais aos quais crescera ouvindo, e isso a preocupava mais do que qualquer outra coisa. Sabia que ele não seria um alvo para o assassino. Não. Estavam interessados nos dependentes químicos. Seu primogênito não era um dependente químico, daquilo ela tinha certeza. O temor que a feria era outro. Não queria vê-lo sofrer como um cão largado na vida, casado com a bebida e paixões de uma noite. Queria vê-lo bem e feliz, como um dia sonhara para ele. Mas seu rapaz andava muito distante, alheio a quase tudo, sem sonhos, sem nada certo.

Um som insistente na porta chamou sua atenção. Louise se levantou às pressas e girou a maçaneta metálica para que sua convidada pudesse entrar. A Pastora Hayes era uma mulher pouco mais velha do que ela própria, talvez estivesse na casa do cinquenta e sete, talvez cinquenta e oito anos. Convidou-a a entrar com a cordialidade com a qual sempre se tratavam. Louise odiava ter que agir com formalidade, não condizia nem um pouco com sua personalidade. Ela gostava de espontaneidade, de conversas sem censuras e de pessoas alegres. Havia sido cercada a vida toda por pessoas assim, tanto em casa quanto em toda a cidade. Mais importante ainda, fora sua espontaneidade a chave que conquistara o coração de seu Joshua em sua juventude.

Agora, em sua velhice, teria de agir com toda a polidez que sempre negligenciara, tudo porque nenhuma das pessoas de sua juventude entenderia sua preocupação como algo válido. Tudo o que tinha era a Pastora Hayes, que parecia estar sempre falando como se direcionando-se às autoridades, independentemente de quem fosse seu ouvinte. A mulher fez uma mesura antes de pedir licença e entrou na casa bem acomodada da fazenda. As duas se sentaram nas poltronas brancas da sala de estar, uma ao lado da outra. O silencio reinou por alguns segundos, talvez um minuto inteiro, desconfortável o suficiente para que tudo o que se ouvisse fosse o crepitar do fogo na lareira.

— A senhora gostaria de café? — Louise ofereceu, um tanto solícita demais.

A pastora da igreja local dispensou a oferta com um gesto rápido de mãos. Louise olhou para a janela aberta, buscando conforto na natureza livre que se estendia em volta de sua propriedade. Apreciou a visão do bosque adornado pela luz do luar, absorveu prazerosamente o cheiro da natureza e o som dos insetos, sem saber ao certo como iniciar aquela conversa sem parecer apenas uma mãe neurótica.

— Me diga, Louise. — indagou a convidada. — O que te preocupa tanto que precisou me chamar a esta hora da noite?

— Eu... não sei nem se a senhora é capaz de me ajudar — começou, envergonhada. Colocou uma mecha dos cabelos louros atrás da orelha e mordeu o lábio discretamente antes de levantar os olhos mais uma vez. Dispensaria a presença e o conselho daquela mulher se seu filho estivesse por perto. Era tudo o que queria. Mas estava sozinha, e não havia a quem recorrer. — Sabe o que se passa na cabeça de um homem?

Hey, BartenderOnde histórias criam vida. Descubra agora