Planeta GJ1002b

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Esse é o número de anos que eu levamos para chegar até aqui, GJ1002. Meu nome é W1209T, ou W9T. Esse também é o meu número de identificação. Nossos arquivos diziam que o falecido planeta Terra, o lugar de onde vieram meus antepassados, os nomes tinham significados. O meu significa apenas que eu sou a milionésima nona geração da era W, pertencente a família T. Ainda carregavamos a tecnologia da época de 2032 no ano da Terra... O ano em que o planeta se auto-dizimou. Agora, mais de 4 milênios depois, a nave percorria a órbita do planeta mais próximo daquele do qual partiu.

W1208B, carinhosamente apelidada de W8B, dava as instruções sobre a previsão de pouso enquanto as outras, apertavam os cintos e esperavam em silêncio assim como eu.

Desde a era A, as primeiras tripulantes da Atena32, a nave era tripulada apenas por mulheres férteis, desde as pilotos até as engenheiras, as médicas e geneticistas. E assim que completavam 21 anos, as matrizes eram preenchidas com óvulos fecundados e selecionados previamente. Centenas de milhões de óvulos foram descartados nesses 4 mil anos, assim que passavam da validade, sendo substituídos por novos. E assim que a nova geração viesse a vida, toda a comunidade da nave se empenhava na educação da nova tripulante.

- Preparem-se, vamos entrar no ponto de inserção em... 3... 2... 1 - a sensação de ter o corpo empurrado contra o meu acento, era algo o qual eu nunca havia experimentado.

Meu coração se acelerava dentro da caixa torácica e o medidor multiparamétrico no meu pulso apitava indicando a anormalidade nos meus sinais vitais.

- Ejetando o paraquedas número 1 - W8B falou quando a sensação de quase ter a carne soltando dos ossos se tornou insuportável - paraquedas número 2.

Quando já estávamos na metade da primeira hora de tortura e o 5º paraquedas foi acionado, pude voltar a respirar normalmente sem ter meus órgãos esmagados pela resistência. E quando atingimos 2 horas de aterrissagem, veio o impacto.
- SEGUREM-SE E NÃO ENTREM EM PÂNICO! - claro que suas palavras eram apenas parte do protocolo, porque não havia como não entrar em pânico.

Ao meu lado W1202Z, a mais jovem entre nós, tinha lágrimas nos olhos e respirava em ofegos, sua pele alva, parecia cinzenta enquanto a estrutura chacoalhava e as sirenes de emergência ecoavam. Segurei sua mão instintivamente antes que as luzes vermelhas acendessem e os galhos do que deveriam ser árvores, rasgavam as paredes como se fossem feitas de papel e então, seus olhos reviraram e ela desmaiou.

O último impacto fez a minha coluna doer com o choque e então tudo parou. As sirenes ressoavam e as luzes de emergência piscavam.

- Estão todas vivas? - nossa piloto-capitã perguntou e pude ouvir a sua respiração profunda no intercomunicador da máscara, quando todas responderam positivamente.

A médica principal foi a primeira a desafivelar os cintos, e passou por cada uma de nós, cambaleando pela súbita mudança gravitacional, examinando uma a uma até que pudéssemos nos libertar e experimentar a força da gravidade pela primeira vez.

Era incrível sentir o peso do meu corpo, como se algoe puxasse em direção ao chão.

- Não retirem as máscaras, não sabemos se- W8B parou abruptamente de falar quando percebeu uma das tripulantes olhar para o lado de fora, sem nada que cobrisse seu rosto.
- O ar parece respirável - a garota deu de ombros com um sorriso culpado no rosto.

E isso foi o mínimo que precisávamos para arrancar os respiradores do rosto e comemorar essa pequena vitória. Tínhamos um planeta e podíamos respirar nele. A partir de agora, caminhariamos ao invés de flutuar e tínhamos mais do que paredes de metal e fibra de carbono ao nosso redor.

- Acordem as matrizes masculinas!

Contosos: amor e outras merd#sOnde histórias criam vida. Descubra agora