39 - Eu quero tudo

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PAOLO CACCINI

Esfrego o rosto quando Amália sai do escritório e fico parado, olhando para a porta. Lembro-me do primeiro momento em que a vi. Eu a confundi com a porra de uma prostituta só porque ela queria muito falar comigo. Por qual outro motivo uma mulher iria querer falar comigo? Eu sempre me senti tão vazio e nunca tinha nada para oferecer além de dinheiro. Por isso nunca aceitei nada de graça, porque acreditava ser por pura pena.

Mas quanto à Amália, eu não posso nem pensar em dar uma única nota de euro para ela sem sentir vergonha. Ela me encheu com uma coisa que eu quero ainda mais.

Mantive qualquer resquício de atração que eu sentia por ela enterrado em algum lugar de mim o tempo todo, pois não queria admitir que estava interessado em uma mulher que me irritava com sua inteligência e superioridade. Sim, eu a considero superior a mim em muitas coisas, e isso me deixava decepcionado comigo mesmo.

Mas ontem, na calada da noite, ao vê-la tão espontânea, caminhando saltitante pela biblioteca, com suas pernas expostas e convidativas, eu me descontrolei. Amália é a primeira mulher que eu realmente conheço. É a primeira mulher com quem tive uma conversa honesta que não remetia a sexo. Por isso ela me irrita. Ela me irrita porque me mostra, todos os dias, que estive errado a minha vida toda. Ela me irrita com sua doçura e com seu perfume barato. Ela me irrita porque não quer nada de mim para se entregar em troca. E era disso que eu sempre fugia.

Confiar... Deixei de acreditar em confiança. Eu acreditava que a confiança era comprada, e isso fazia eu me sentir seguro, já que dinheiro nunca foi um problema para mim.

Respiro fundo e pego o celular, disposto a pedir ajuda.

— Senhor Paolo, está tudo bem? — meu fiel assistente indaga do outro lado da linha.

— Eu quero tudo, Edy — falo de maneira centrada, encarando o mar através da janela aberta.

— Tudo o que, senhor?

— Eu quero tudo que existe de bom para se viver: uma família. Você acha que é tarde para mim? — Estou com os olhos fechados e amargurados.

— O senhor merece toda a felicidade do mundo. Tem a ver com a Amália?

— Como você sabe?

— Eu percebo as coisas. Hum... Mas vai ser difícil — Edy resmunga, fazendo-me franzir a testa.

— Como assim vai ser difícil? Eu sou ciente dos meus dotes. Sou atraente, não sou?

— Mas o senhor sempre foi muito grosseiro com a Amália.

— Grosseiro?

— Faça um passeio à beira-mar com ela, à noite, e a deixe ver sua fragilidade, sua alma.

Eu me lembro de que já fiz isso, mesmo que sem intenção.

— O que mais? Edy, você acha que isso é loucura? Eu devo desistir dessa decisão insensata? Eu poderia arruiná-la e...

— Arruiná-la? Amália e Henry estão lhe fazendo bem. O senhor não iria arruiná-los, mas eles o consertariam.

— Acho que eu deveria ter uma noite quente com outra. Desde que acordei, não estive com mulher nenhuma e... — Interrompo as minhas palavras, dando-me conta de que nenhuma outra me interessa nem me interessou desde que acordei, porque mesmo que inconscientemente, eu já estava enfeitiçado por Amália, que estava me conduzindo em sua direção naqueles anos em que falava comigo enquanto eu dormia. — Esquece. Estou sendo um tolo. Eu já decidi e sei o que quero: quero todos eles. Quero o Henry, quero a Amália, o senhor Davis, os tios... Porra, Edy. Quero até aquela vizinha.

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