Quando enfim a última aula chega ao fim, guardo minhas coisas, e vou lentamente em direção ao portão de saída, esperando aquele amontoado de corpos saíram e fluxo diminuir, para então sair. Enquanto me dirijo à saída não consigo acreditar ainda na sorte que eu e Will tivemos, graças a uma força misteriosa não fomos descobertos, não hoje, minha alegria é tanta que podia beijar o Will assim que o visse lá fora me esperando. E com esse pensamento me vem uma ideia, sei que vai ser uma crueldade com ele, mas se eu não fizer isso posso agarrar ele ali mesmo.
Já do lado de fora, eu o vejo encostado em um poste olhando para os portões, aparentava estar ansioso, e eu sabia porque. Quando ele me vê, apresso-me em fingir uma cara de um misto entre tristeza/decepção, percebo que o pequeno sorriso que tinha esboçado ao me ver desaparece de seu rosto, dando lugar a uma expressão triste. Quando vejo isso me dá vontade de desistir desse plano, mas não posso caso contrário agarro ele ali mesmo naquele poste.
Quando chego perto dele sussurro um "vamos", e saímos sem trocar uma palavra ate chegarmos ao ponto de ônibus. Dentro do ônibus ele me pergunta o que deu a conversa com Andrew, para dar mais ênfase ao meu pequeno teatro só digo "aqui não, em casa". Então seguimos em silencio o resto do caminho até minha casa.
Descemos do ônibus e vamos em direção a minha casa. Como minha mãe só chega daqui à duas horas, a casa está vazia. Subimos para meu quarto, assim que chegamos lá ele fala:
- Tá bom, agora você vai me falar o que está acontecendo. Ela viu ou não viu nós nos beijando no cinema? - Ele transparece um misto de expectativa/raiva. Para dar um ar mais dramático eu suspiro e falo:
- Ela... ela...
- Ela...? - Ele fala um pouco impaciente.
- Ela... não nos viu. - Solto com um enorme sorriso no rosto. Observo a reação dele que vai do alívio a uma pitada de raiva.
- Quer dizer que aquela cara triste só era um teatro? Que estava tudo bem e você me enganou com essa falsa tristeza? - Ele diz apertando os punhos. E me desmancho em risadas.
Enquanto estou rindo sem parar, ele me olha com raiva, e quando olho novamente pra ele, começo a gargalhar mais uma vez. Ele fica ali parado por um tempo me olhando e fala:
- Eu tô indo embora. Quando você estiver "melhor", - ele faz aspas no ar quando diz a palavra melhor, - e quiser falar de verdade sobre isso. Tchau.
Ele termina a frase meio emburrado pega sua mochila, e já está saindo quando agarro seu braço. Nesse momento eu já tinha parado de rir. Ele se vira e ne olha, serio.
- Me solta. Tenho que ir. - É ai que percebo que ele está realmente bravo.
- Ei, ei, calma. Era só uma brincadeira, - falo no tom mais calmo que consigo. - Por favor, não fica bravo comigo. Desculpa.
- Uma brincadeira? Sério? Como você pode brincar com uma coisa dessas? - Diz ele e continua: - Eu preocupado com você, preocupado com sua amizade com a Andrew, com minha amizade com ela nem estava tão preocupado assim porque eu conheço ela a pouco tempo, nas a sua amizade com ela é de anos; preocupado com nossa relação com nossas famílias caso isso vavasse, e mesmo assim você resolve fazer uma brincadeira? Sério?
- Desculpa... - Falo baixinho, quase um sussurro. - Eu apenas queria um modo de desviar minha felicidade, caso contrário eu te agarraria ali mesmo na frente da escola inteira. Ai sim estaríamos ferrados. - E lembro a ele: - E você fez um furacão em copo d'água. Só fingi uma carinha triste, nada mais.
Falo com toda calma e carinho que posso, para amenizar os ânimos de Will. Acho que dá certo porque quando levanto meus olhos pra ele, sua expressão está mais suave. E quando ele fala novamente, sua voz está calma, serena até.
- Mas é que... é que... quando te vi daquele jeito pensei que a casa tinha caído. Pensei que sua amizade com a Andrew foi pros ares. Que o que tínhamos havia chegado ao fim sem nem mesmo ter começado direito, pensei na decepção dos nossos país, certo que eu não quero esconder nosso relacionamento, mas tufo na sua hora, - quando ele fala já está de cabeça baixa. E continua: - Por Deus Brian, eu sei que vai parecer muito clichê, mas o que eu sinto por você eu nunca havia sentido por ninguém. E pensar em perder seu amor foi como se o chão houvesse se aberto bem abaixo de mim e eu estivesse caindo em um abismo sem fim...
Nesse momento eu já estava correndo em direção a ele, e quando dou por mim já estou em seus braços, o beijando e interrompendo suas palavras. Nosso beijo era de puro amor, paixão quente e ardente, ele retribuía cada grama de intensidade que eu dava a ele, e ainda me dava mais. E junto com o doce sabor de nosso beijo, havia um gosto salgado, literalmente salgado, logo percebi que eram lágrimas, lágrimas de felicidade, de ressentimento, de receio. Quando ele fala, interrompendo nosso beijo, percebo que se passaram dez minutos, mas que pareceram segundos:
- Ei, ei desculpa, - ele fala, limpando minhas lágrimas do meu rosto, sua voz estava repleta de carinho, paixão, amor. - Eu não queria te fazer chorar. Me perdoa pelo modo grosseiro que falei com você. Mas acontece...
- Shh... - O calo com um breve selinho. - Não precisa se desculpar, eu que tenho que pedir desculpas, por te fazer se sentir desse jeito. Por pensar que tinha me perdido, por...
- Shh... Agora sou eu que peço que você não fale mais nada. Eu que me exaltei um pouco além da conta. E, afinal de contas, essa brincadeira valeu a pena, caso contrário você não estaria aqui, nos meus braços e seus lábios tão próximos dos meus que até difícil resistir.
- Fica impossível pra eu resistir.
Mau termino a frase quando seus lábios já estão colados nos meus, sua língua pedindo passagem para invadir minha boca. Explorando cada lugar de minha boca, como se quisesse mapeá-la. E eu não ficava atrás, buscava cada detalhe de sua boca, não queria jamais esquecer aquele local. Não queria nunca mais sair de seus braços, lugar no qual passei a me sentir mais seguro que em qualquer outro. E assim se resumiu as duas horas seguintes antes da chegada da minha mãe: beijos carícias, abraços apertados, palavras carinhosas, mãos bobas aqui e ali, mais beijos.
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Até Depois do Fim
RomansaO ensino médio de Brian foi sempre a mesmice que qualquer outro: acordar cedo, pegar ônibus para a escola, encontrar as mesmas pessoas chatas de sempre, os mesmos professores, os mesmos, mais ou menos, 230 dias letivos; até que o tão esperado tercei...