A morte do noivo

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      Não era estranho encontrar corpos na cidade de Luft. Sendo uma cidade com muitos portais, era quase comum que houvesse muitas intrigas por lá, muitos seres assassinados, muitos corpos deixados para trás.

   Naquele cinzento dia de verão, dois Guardas observaram um corpo em um beco afastado. O homem morto, vestia um longo manto branco com bordados coloridos, estava deitado na terra e na sujeira, os insetos já comiam seu corpo, principalmente sua cabeça, a qual três barras de metal atravessaram sua boca, seu olho e uma parte da sua testa.

      Um dos Guardas, Nilo, flutuou em um disco de metal para perto do corpo. Não queria pisar na cena do crime. Mesmo que já tivesse feito um holograma do local, sabia que ela gostava de ver tudo do jeito que era pessoalmente.

      Ele conjurou um palito. Prendeu a respiração com uma careta de nojo conforme se aproximava, o cheiro da morte embrulhava seu estômago, ele decidiu fazer aquilo rapidamente, ou iria vomitar. Odiou ter que fazer aquilo, pensou que talvez não precisasse se o outro Guarda, Oleandro, o ajudasse.

      Mas tentou ver pelo lado bom, poderia descobrir algumas informações importantes sozinho, e mostraria para ela que era competente, e talvez isso o ajudasse a convencê-la de se tornar sua mestra. Logo descobriu que estava errado, quando uma voz calma mas firme soou atrás de si:

      — Não fique tão perto do cadáver Nilo. Pode infectá-lo, ou infectar a si mesmo.

      Nilo se afastou, utilizando magia para flutuar para longe do cadáver. Soltou a respiração de um jeito exagerado, tremendo o corpo e fazendo uma careta de nojo. Oleandro, que antes não fazia nada, agora observava os arredores e fingia fazer notas em seu caderno. Nilo o observou indignado.

      Seus olhos logo se moveram para a mulher que se aproximava. Anila não era muito alta, o que no começo de sua carreira não lhe conferia muita credibilidade. Mas a profundidade dos seus olhos verdes claros não mentiam a experiência que tinha.

      Por cima da pele preta retinta, que brilhava sob o sol que se abria com sua chegada, ela usava um longo sobretudo vinho. Retirou as mãos dos bolsos, conjurando um par de luvas de borracha.

      Flutuou para perto do cadáver, com suas asas verde claro de borboleta. Conjurou uma máscara para cobrir o rosto, e enrolou o cabelo longo ondulado, que estava preso em um rabo de cavalo, em um coque, para que os fios não tocassem o cadáver.

      — Mas eu estava segurando a respiração, não estava inalando o cheiro dele — Nilo se defendeu, não querendo que ela levasse aquilo como irresponsabilidade da sua parte.

      — Mesmo assim — Anila respondeu, enfiando as mãos dentro das luvas de borracha.

      Anila observou os ferimentos que provavelmente o tinham levado à morte. Observou seu corpo, revestido pelo manto branco especial para casamentos.

      — Acho que alguém não queria que ele se casasse — Nilo comentou, agora já de pé.

      — O que vocês sabem até o momento? — ela perguntou. Oleandro, o mais alto dos três, se apressou a dar o relatório:

      — Seu nome é Floren, ele iria se casar semana passada, mas não o fez, descobrimos que…

      — Espere, espere — Nilo interrompeu. — Guarde essa informação, quero que ela responda uma coisa primeiro depois.

      Anila o olhou com uma sobrancelha erguida. Nilo sorriu. Oleandro olhou de um a outro sem saber o que fazer, mas Anila assentiu, demonstrando que estava tudo bem. Ele então continuou:

A morte do noivoOnde histórias criam vida. Descubra agora