Retornei para casa, deixando algumas telas que consegui pintar no meu quarto e descendo para preparar o almoço de meu pai. O conhecendo bem, ele come todos os dias no restaurante pois nunca conseguiu aprender a cozinhar, e cozinhar para os outros é minha forma de demonstrar sentimentos, amo cozinhar e se isso deixa meu pai feliz, eu cozinho ainda mais animada.
Peguei meu celular colocando uma playlist e preparei arroz, purê de batata, bife e uma saladinha. Enquanto ouvia música eu dançava animada, rodopiando pela cozinha. Foi quando meu pai entrou com uma caixa enorme. Ele me olhou sorrindo, e fui até ele segurando suas mãos e o movimento.
— Quer fazer com que nós dois caiamos? – Ele perguntou divertido e beijou meu rosto. — Já preparei a papelada da escola, sua mãe mandou tudo necessário, e por suas notas boas e alto desempenho acadêmico eles vão permitir que continue de onde parou. Não vai precisar reiniciar o ano.
— Isso me deixa muito aliviada.
— Você e Bella vão poder estudar juntas como antes. – Ele disse sorridente. — Eu não sabia que tinha avançados um ano.
— Foi contragosto de Renee. – Disse fazendo meu pai confirmar rápido.
— Suas coisas chegaram. Tem mais caixas dentro do carro, se quiser posso tirar agora.
— Não precisa de pressa, descanse e coma. Preparei o almoço. – Disse o ajudando a tirar o casaco e indo para a cozinha, diminuir o volume.
Ele sorriu, e me acompanhou no almoço. Ele parecia feliz comendo, o que me anima muito. Depois do almoço meu pai se deitou um pouco no sofá enquanto eu retirei as outras caixas do carro. Alguns minutos meu pai voltou ao trabalho, e eu segui com as caixas para meu novo quarto.
Ajoelhada no chão comecei a abrir as caixas. Comecei retirando meus livros, alguns objetos que eu usava de decoração, algumas cartas, materiais do teatro, minhas luvas de box, e kimono de karatê e fotos. Várias fotos minhas com meus "colegas" e com Zaion. Um desconforto me atingiu, engoli o nó que se formou na minha garganta, joguei as fotos de volta para a caixa e comecei a espalhar minhas coisas pelo quarto, terminando a decoração, e por último continuei as pinturas nas paredes.
E quando eu finalizei sorri com meu mais belo trabalho e meu mais magnífico quarto só meu.
— Calíope, viu nosso pai? – Bella perguntou na porta e eu dei de ombros.
— Acho que ele comentou que iria ficar até mais tarde, justamente por que tirou horário de almoço. – Disse largando os pincéis no pote de água e me virando para mesma.
— Já tomou seus remédios? – Ela perguntou e eu ergui a sobrancelha, e mordi a língua para não falar o que se passava na minha mente.
— Não que seja da sua conta, sim eu já tomei.
— Só quero o seu bem. – Disse me fazendo revirar meus olhos e passar por ela em direção a cozinha. — Cali, quando você disse que viu Zion, só que mais pálido, o que você quis dizer?
— Foi apenas um sonho sem importância Bella. E não é da sua conta. – Disse pegando uma garrafa de suco e despejando em um copo em cima do balcão.
— É só...
— Me chamou de louca, disse que eu tinha problemas a meses atrás, e agora quer saber o que eu vi? Olha Bella, me erra.
— Não sei por que achei que conversar com você seria uma boa ideia. A garota que chorava com medo do namorado morto.
A força que coloquei na mão, fez o copo explodir em pedaços. Bella pareceu entender o que disse e cobriu a boca com as mãos me olhando surpresa.
— Cali eu...
Passei por ela com minha cabeça a mil, peguei o casaco saindo de casa o mais depressa possível. Eu queria respirar, eu odiava quando falavam de Zion, por que sempre me taxavam como maluca delirante, em partes é verdade! Mas ninguém sabe o que eu passei por causa da merda dessa história, os choques do primeiro mês, a dor no peito sempre que aqueles olhos vermelhos me olhavam.
Eu corria pela estrada, tentando manter minha cabeça no lugar. Tentando esquecer todas as cenas na "clínica psiquiatra" ou até mesmo as cenas que me colocaram lá. Em determinado momento, parei de correr e encarei a estrada que nos dois lados.
Minha cabeça parecia no lugar, afundei as lembranças para o subconsciente novamente, mas as lágrimas ainda escorriam, mas tratei de limpar. Eu já sabia como Bella era, não sei por que fiquei surpresa com sua fala.
Andando ainda sentindo uma brisa, um vento mais forte me atingiu, ouvi um motor de carro, e as coisas aconteceram muito rápido. Um pequeno cervo pulou da floresta parecendo assustado, o que me pegou de surpresa e acabou colidindo comigo me jogando para a estrada, vi o brilho de um farol, minhas mão tocavam o asfalto molhado, quando eu fechei meus olhos, ouvi o pneu escorregar um pouco com a freada brusca. Mas o impacto não veio.
Abri meus olhos lentamente, vendo a porta esquerda do carro de abrir, ao meu lado estava o pequeno cervo que se levantou rapidamente correndo para a floresta e desaparecendo entre as árvores. Eu ergui meu tronco enxergando apenas uma silhueta por causa do farol do carro. Segurei firme meu capuz. E estava um pouco tonta pelo susto e a surpresa.
— Você está bem? – Uma voz familiar chegou aos meus ouvidos, um pouco distante.
— Eu acho que sim...
Ele se agachou ao meu lado, e eu ergui meu olhar para o dono dessa voz tão familiar. Um choque percorreu meu corpo, meu coração palpitava como marteladas de ferreiro, minha boca secou um pouco e um sorriso se abriu.
— Impossível... – Eu disse em um sussurro quase imperceptível.
Os olhos âmbar me encaravam com espanto e ao mesmo tempo admiração. Seus cabelos loiros longos pintavam com a pequena chuva que caia. Ele me encarava e eu retribuía! Eu deveria está sonhando, mas minhas mão e joelhos estão realmente ardendo.
— Me... Me desculpa, eu não te vi.
— Tudo bem, a culpa não foi sua. Eu que não vi o cervo e nem deveria está aqui a essa hora. – Disse com uma voz falha, pela garganta seca.
— Eu te ajudo.
Ele segurou minhas mãos, e a mesma sensação do sonho me atingiu. Sua mão é muito fria, mas eu aprendi a gostar. Naquele instante tudo que queria sair da minha boca é "eu te amei, antes mesmo de te conhecer".
— Está machucada?
— Não, só ralada. – Disse divertida.
— Me desculpe mais uma vez.
— Não se preocupe. Obrigado por frear. – Disse um pouco sem jeito. — Acho melhor voltar antes mesmo que fique mais tarde.
Um passo, e meu joelho direito descordou. Ao pisar uma dor atingiu minha perna e quase fui ao encontro do chão novamente, mas braços musculosos me apoiaram e acabei ficando colada com o mesmo. Ele olhou nos meu olhos me fazendo perder qualquer postura.
— Não posso te deixar ir sozinha. Diga onde mora que eu te levo lá.
— Não precisa se incomodar.
— Jamais seria um incomodo. – Ele disse sorrindo mínimo, mas o deixando menos assustador e ainda mais bonita.
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The Sisters Swan
FanfictionEm meio as quatro paredes do quarto da clínica psiquiatra, eu só queria sair e viver tudo que estava desejando. O que me mantinha de pé, eram os olhos amarelos que sempre estavam de olho em meus sonhos, me acalmando e protegendo. Quando meu pai me t...