Day 6

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Conversar com o Louis é a coisa mais difícil do mundo.

Não sei o que acontece, mas quando ele me olha eu não consigo falar. Esqueço como colocar as palavras em ordem e formar frases. Eu me sinto estúpido na maior parte do tempo.

Acordamos hoje com o barulho de chuva lá fora. Louis puxou assunto sobre o clima. Eu resmunguei qualquer coisa de volta e fiquei olhando para o teto.

Durante a tarde, tentei duas vezes me aproximar e começar uma conversa. Na primeira, eu comentei sobre a chuva e me dei conta de que já tínhamos falado sobre isso. Louis deu risada, tentou continuar o papo, mas eu fingi que precisava ir ao banheiro e fiquei lá por um tempo. Na segunda vez, pensei em perguntar como eram as coisas na escola dele, mas, quando me aproximei, vi que ele estava concentrado lendo o livro que eu tinha emprestado, então deixei pra lá.

Antes de sair para entregar uns quadros para uma galeria no centro da cidade, minha mãe perguntou se nós dois pretendíamos mesmo passar o dia inteiro trancados em casa. Ao mesmo tempo, Louis e eu olhamos a chuva pela janela e fizemos que sim com a cabeça.

E agora estamos aqui, sozinhos em casa, sentados na sala. Louis continua lendo, mais concentrado do que nunca, e eu decido ler também. Pego o livro que comprei ontem depois da terapia e continuo a leitura.

É uma história de fantasia sobre uma garota que foi criada como uma pessoa normal, mas, aos dezesseis anos, ela descobre que tem poderes e um passado misterioso. Agora muitas merdas estão acontecendo no reino, e o futuro de todos está nas mãos da garota que não sabe controlar seus poderes nem faz o menor esforço pra aprender. Já leu algum livro assim? Porque eu já li uns quinze.

Não consigo me concentrar na história e passo mais tempo folheando as páginas do que lendo de fato.

ㅡ Tá legal o livro? ㅡ Louis pergunta.

Ele está deitado no sofá e eu estou recostado nas almofadas que ficam no chão, perto do tapete. Respiro fundo antes de responder.

ㅡ Um dos piores que já li em toda a minha vida. ㅡ Eu digo, e Louis dá uma risada enquanto se contorce para ver a capa do livro que está na minha mão.

Voltamos a ficar em silêncio, mas de repente Louis levanta e fica parado na minha frente.

ㅡ Preciso perguntar uma coisa, mas só responda se quiser. ㅡ Ele diz, e eu sinto meu corpo gelar.

Abraço forte a almofada que eu estava usando para esconder minha barriga e só depois de alguns segundos me dou conta de que Louis está esperando uma resposta minha para começar a falar. Eu faço um sinal de positivo com a cabeça e isso parece ser o bastante para ele.

ㅡ Por que você fica calado de repente? Todo dia. É alguma coisa que eu fiz?

Eu não sei o que responder, então preciso de um tempo para pensar. Eu já esperava que uma hora ele poderia me questionar sobre isso, mas não fui esperto o bastante para deixar uma resposta pronta na ponta da língua.

ㅡ Acho que o problema sou eu. ㅡ Digo baixinho e envergonhado, porque, sinceramente, que bosta de resposta!

ㅡ Mas ontem à noite mesmo a gente conversou por tanto tempo, daí a gente acorda e você fica calado e me responde só mexendo a cabeça, e eu acho isso tão estranho. ㅡ Louis diz, e logo em seguida começa a se desculpar. ㅡ Eu não quis dizer que você é estranho, tá bom? Eu estava falando da situação e do jeito que você muda do dia pra noite. Isso é estranho. Não você.

Dou uma risadinha porque é engraçado ver o Louis todo preocupado, pedindo um milhão de desculpas quando, na verdade, eu sou estranho mesmo. Então tenho uma ideia que pode dar muito certo ou muito errado. Olho para o livro aberto na minha mão e meus olhos caem em um parágrafo em que a protagonista está dizendo "Já basta! Tomarei as rédeas do meu destino, mudarei a minha vida e, finalmente, encontrarei o amor".

Here the Whole Time (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora