Por algum motivo, não consigo dormir direito. Lá pelas três da madrugada acordo de um sono inquieto e, para tentar relaxar, pego O mágico de Oz na mesinha de cabeceira e começo a ler com a ajuda da lanterna do celular.
Bem, agora já são quase seis da manhã, eu li o livro inteiro, e a história não me ajudou em muita coisa na minha jornada em busca da coragem interior. Aliás, ler esse livro depois de tanto tempo me deixou bem irritado. Eu não lembrava de como o Mágico era um babaca.
A coragem que o Leão Covarde buscava sempre esteve dentro dele, isso é certo. Mas em vez de dizer "olha, cara, a coragem já está dentro de você", o Mágico dá um líquido verde a ele, como se fosse uma poção da coragem. O Leão bebe, se sente corajoso e vira o rei da floresta. E, provavelmente, ele nunca vai saber que aquele líquido verde não tinha absolutamente nada. Ou seja, o Mágico é um babaca.
Louis está dormindo no colchão, encolhido debaixo do cobertor e roncando baixinho. Me pergunto quantos litros de poção da coragem eu precisaria tomar pra segurar a mão dele. Pra falar "eu gosto de você e queria te dar um beijo". Para de fato dar o beijo, se ele dissesse sim.
Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento, então eu faço o que qualquer pessoa sensata faria nessa situação. Corro para a minha mãe.
Saio do meu quarto em silêncio, para não acordar o Louis, e entro devagar no quarto dela. Até dou uma batidinha de leve na porta, mas não espero minha mãe responder.
O quarto está escuro ainda, apesar da janela meio aberta. Vou caminhando devagar até a cama de casal ocupada pela metade, andando com cuidado para não tropeçar em nenhum sapato jogado no chão.
ㅡ Mãe? ㅡ Eu digo baixinho, deitando do lado dela e me cobrindo com o edredom florido.
ㅡ Tá tudo bem, Harry? ㅡ Ela diz ainda meio dormindo, colocando imediatamente a mão na minha testa para ver se estou com febre. Esse deve ser o protocolo de emergência das mães, sei lá.
ㅡ Tá sim, tá tudo bem. Só queria ficar aqui um pouquinho.
ㅡ Faz tempo que você não deita na minha cama comigo. Da última vez você ainda era pequenininho. ㅡ Ela diz, me puxando para um abraço.
Quando ela me abraça, me sinto pequeno de novo. Não de um jeito ruim. Eu me sinto protegido. É como se eu pudesse falar qualquer coisa com a certeza de que ia ficar tudo bem. E então, sem pensar duas vezes, eu falo.
ㅡ Acho que estou apaixonado.
ㅡ Pelo Louis? ㅡ Minha mãe rebate sem pensar por nem um segundo que seja.
ㅡ Está tão na cara assim?
ㅡ Falando como uma pessoa que te colocou no mundo e que mora nesta casa, sim. Está bem na cara. ㅡ Ela diz com um sorriso.
ㅡ Esse é o meu medo.
ㅡ Medo? ㅡ Ela parece confusa.
ㅡ Se está tão óbvio assim pra você, deve estar óbvio pra ele também, né, mãe? E se ele não fez nada até agora, com certeza é porque...
ㅡ Porque ele é tímido. Ou porque ele tem medo da mãe dele descobrir. Ou talvez ele se sente intimidado porque você é o menino mais lindo do mundo. ㅡ Minha mãe me interrompe.
ㅡ Você é minha mãe. É sua obrigação dizer que eu sou o mais lindo do mundo. ㅡ Eu digo, revirando os olhos.
ㅡ Filho, olha pra mim. ㅡ Ela diz, virando o corpo de lado na cama para conseguir me encarar. ㅡ Você pode pensar que eu te digo isso porque sou sua mãe. E em parte você está certo, claro. Eu vou sempre te achar o menino mais lindo do mundo porque eu sou sua mãe. Mas a sua beleza não é só isso aqui. ㅡ Ela diz, passando a mão pelo meu rosto.
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Here the Whole Time (Larry Stylinson)
FanfictionHarry está esperando por esse momento desde que as aulas começaram: o início das férias de julho. Finalmente ele vai poder passar alguns dias longe da escola e dos colegas que o maltratam. Os planos envolvem se afundar nos episódios atrasados de sua...