Hoje é sábado. No geral, eu adoro sábados. Durmo até mais tarde, assisto a três filmes em sequência e minha mãe sempre faz bolo. Todo sábado é assim e essa tradição nunca foi quebrada. Eu gosto de tradições, principalmente as que envolvem bolo.
Mas, apesar disso, hoje não acordo empolgado. Não consegui dormir direito e passei a noite inteira pensando em como seria mais fácil se a minha vida fosse Sexta-feira muito louca. Eu trocaria de corpo com a minha mãe e ela teria que lidar com o Louis. Eu ficaria apenas observando, sorrindo e pintando quadros. Ficaríamos de corpo trocado por quinze dias e, quando o Louis fosse embora, o feitiço estaria quebrado.
Deixo as minhas fantasias absurdas de lado e decido levantar da cama. Está cedo, seis da manhã. Me olho no espelho e percebo que continuo dentro do meu próprio corpo. Uma pena. Essa história seria bem melhor se eu tivesse magicamente trocado de corpo com a minha mãe.
Saio do quarto pra pegar um copo d'água e, quando passo pela sala, ele está lá. Louis está dormindo no sofá, e chega a ser absurdo o quanto ele é bonito. Eu nunca vi alguém continuar bonito enquanto dorme. Não na vida real. Sempre achei que essa coisa de dormir em paz, com o peito subindo e descendo numa respiração calma, só acontecia nos filmes. Na vida real as pessoas dormem com o cotovelo na nuca, uma meia faltando e uma mancha pequena de saliva no travesseiro.
Louis não é real.
Acho que já passaram uns sete minutos e eu continuo parado olhando ele dormir. Sete minutos. Eu preciso de tratamento. Sério.
"Água, Harry! Água!", digo para mim mesmo, tentando me manter focado no motivo real que me fez sair do quarto. Vou até a cozinha tentando não fazer barulho, mas é claro que dá tudo errado, porque eu tenho a delicadeza de um mamute. Abro o armário sem medir a minha força e duas panelas caem no chão. No silêncio da manhã, parece que caíram duzentas panelas.
Me abaixo para recolher a bagunça que acabei de fazer e, de repente, sinto uma presença na cozinha. Por um segundo acredito que essa presença possa ser o fantasma da minha avó morta que resolveu aparecer para me revelar o sentido da vida ou me dar um bom conselho sobre como ser emocionalmente estável. Mas é claro que não é ela (aliás, saudades, vó!). É o Louis.
ㅡ Precisa de ajuda? ㅡ Ele pergunta me olhando com cara de quem foi acordado pelo barulho de duzentas panelas caindo no chão.
ㅡ Não, não. Tá tudo bem! ㅡ Minto, porque não está tudo bem. Eu estou agachado no chão usando meu pijama bege. E eu tenho quase certeza de que boa parte do meu cofrinho está aparecendo.
E essa são todas as palavras que nós trocamos durante a manhã. Realizamos um ritual silencioso onde eu pego um copo d'água e o ofereço para ele com um gesto de cabeça. Ele diz que sim com um grunhido que não chega a ser uma palavra de fato. E ficamos ali, bebendo água, olhando para o vazio sem dizer nada.
Louis alonga a coluna entre um gole e outro (uma bela visão, por sinal) e eu tenho certeza de que ele acordou com dor nas costas. É impossível dormir no nosso sofá e acordar feliz. Dormir em uma caixa de papelão molhada seria mais confortável. Penso em puxar assunto e perguntar se ele dormiu bem, mas desisto rapidamente. O silêncio já está beirando o insuportável quando ele deixa o copo em cima da pia e vai embora.
Eu respiro aliviado.
𓏲 ࣪₊♡𓂃
O resto da manhã passa de maneira lenta e torturante. Depois de ter sido acordado por mim, Louis não volta a dormir. Ele senta no sofá e continua lendo seu livro. Fico andando de um lado para o outro tentando arrumar uma maneira casual de mostrar para ele que estou disponível. Totalmente disponível. Duzentos por cento disponível. Mas ele está tão concentrado na leitura que eu decido deixar pra lá.
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Here the Whole Time (Larry Stylinson)
FanfictionHarry está esperando por esse momento desde que as aulas começaram: o início das férias de julho. Finalmente ele vai poder passar alguns dias longe da escola e dos colegas que o maltratam. Os planos envolvem se afundar nos episódios atrasados de sua...