Day 12

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Ficar acordado até tarde criando perguntas de conhecimento geral gay para o meu programa de TV imaginário me faz acordar tarde hoje. A manhã passa voando e quando me dou conta já está na hora do meu encontro semanal com Olivia.

No caminho para a terapia, tento organizar meus pensamentos. Pela primeira vez desde que minhas sessões começaram, eu tenho muita coisa pra contar e isso me deixa ansioso e um pouco preocupado.

Quando chego no consultório (pingando de suor, como sempre), me sento na poltrona, pego uma bala de iogurte na mesa e nem sei por onde começar.

ㅡ E então, Harry? Como foi a semana? ㅡ Olivia pergunta, gentil como sempre.

ㅡ Você provavelmente vai achar que eu morri e fui substituído. ㅡ Eu respondo. Ela me olha confusa. ㅡ Nos últimos dias muitas coisas aconteceram. Coisas que nunca, jamais, em hipótese alguma, aconteceriam na minha vida. ㅡ Eu continuo.

O olhar confuso da minha terapeuta, de repente, ganha um ar de preocupação, e eu me apresso para me explicar.

ㅡ Calma, calma. Não é nada ilícito. Só um pouco. Talvez.

ㅡ Comece pelo começo, então. ㅡ Ela diz, sempre sugerindo a opção mais óbvia que, até o momento, não tinha passado pela minha cabeça.

ㅡ A notícia boa é que eu consegui cumprir o desafio. Eu conversei com Louis de dia. E a gente conversa bastante, o tempo todo, na verdade. E é bem mais fácil agora.

Olivia abre um sorriso imenso e eu me sinto feliz por causar esse tipo de emoção numa pessoa tão... adulta.

ㅡ Isso é bom, Harry. Muito bom, na verdade. ㅡ Ela diz, empurrando o jarro com balas de iogurte na minha direção, para que eu pegue mais uma. Aparentemente, esse é o prêmio por vencer o desafio. Pego mais uma bala e enfio no bolso.

E então começo a contar tudo que aconteceu. Falo sobre como foi sair com Louis e conhecer a Rebecca. Olivia parece feliz porque estou fazendo novos amigos. Falo sobre como passamos a tarde na piscina e, mesmo tendo ficado o dia inteiro sentado observando, eu me senti parte do grupo e isso foi bom. Olivia fica feliz porque estou ampliando meus horizontes. Falo até sobre o pijama novo que eu comprei. Olivia não diz nada porque isso não parece ser muito relevante no momento.

Por fim chega a parte que eu estava evitando. Porque não sei como ela vai reagir. Mas preciso contar, então eu digo uma frase atrás da outra, sem parar para respirar.

ㅡ Então. No sábado. Fomos pra uma festa. Bebi cerveja. Hunter e Lenny apareceram. Eu mandei eles se foderem.

Engulo em seco, esperando a polícia entrar pela porta e me prender porque bebi álcool sendo menor de idade e (talvez) porque falei "foderem" numa sessão de terapia.

ㅡ É nessa parte que eu devo achar que você morreu e foi substituído? ㅡ Ela diz, com uma risada que eu não estava esperando.

Eu faço que sim com a cabeça.

ㅡ Me explique melhor essa história.

E então eu conto tudo. A festa julina, as latinhas de cerveja, as provocações, a minha coragem repentina e tudo mais. Depois de ouvir tudo com muita atenção, Olivia respira fundo, passa os olhos em algumas anotações e começa a falar.

ㅡ Bem, Harry. Sobre a bebida... ㅡ Ela começa.

ㅡ Já ouvi o sermão. Já aprendi a lição. Juro. ㅡ Eu digo mostrando as minhas duas mãos para que ela veja que não estou cruzando os dedos. Essa é, provavelmente, a coisa mais idiota que eu já fiz nesse consultório.

ㅡ Certo. Vamos seguir em frente, então. O confronto com os rapazes da sua escola. Você pode repetir para mim exatamente o que você fez quando se sentiu ameaçado?

Here the Whole Time (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora