Day 4

205 16 4
                                    

Acordo com a luz do sol entrando pela janela e a primeira coisa que escuto é o Louis roncando. Não chega a ser um ronco de verdade. É como se ele estivesse ronronando. Ele não dorme de boca aberta. Sua boca fica fechada num quase sorriso, e até parece que ele sabe que está sendo observado. Eu, por outro lado, estou com o cabelo em pé, a bochecha melada de saliva e a camisa levantada até o meio da barriga. Me cubro rápido porque não quero que ele me veja assim.

ㅡ Bom dia. ㅡ Louis diz com a voz meio rouca.

Eu começo a suar frio porque, mais uma vez, não sei como me comportar perto dele. Na noite passada eu me saí tão bem, mas agora é diferente. O quarto não está mais escuro.

Mesmo que o Louis nem esteja olhando pra mim, eu tenho essa sensação de que estou sendo observado o tempo todo. Já me acostumei com os olhares que recebo, mas não com o olhar dele. Acho que nunca vou me acostumar. Porque o olhar do Louis é como um raio laser que acerta bem no meio do meu corpo, me queimando vivo enquanto meus órgãos escorrem para fora de mim. Só que no bom sentido.

ㅡ Como é bom dormir em uma cama de novo! ㅡ Louis continua falando, já que nem o bom-dia eu respondi.

ㅡ Que bom. ㅡ É tudo que eu consigo falar.

Louis desiste de tentar manter um diálogo e começa a trocar mensagens pelo celular com alguém mais interessante do que eu. Basicamente qualquer pessoa.

Não temos tempo para cultivar nosso silêncio esquisito porque, alguns minutos depois, minha mãe bate na porta e entra no quarto apressada.

ㅡ Harry, hoje é dia de ONG e eu esqueci completamente, então não tem almoço pra vocês. Compre qualquer coisa pronta no mercado! ㅡ Ela diz, jogando uma nota de cinquenta reais na minha cara.

No começo do ano, minha mãe começou um trabalho voluntário em uma ONG que ajuda uma comunidade carente da cidade. Toda segunda-feira ela se encontra com um grupo de crianças com idades variadas e ensina arte para elas. Não chega a ser uma aula, porque não há provas, dever de casa nem nada disso. Minha mãe leva seus materiais e ajuda os alunos a criarem o que eles quiserem. Pinturas, esculturas, fotografias, colagens. Eles aprendem um pouco de tudo e minha mãe sempre diz que ensinar a faz se sentir bem.

Penso rápido nas minhas possibilidades. Minha mãe passa o dia inteiro na ONG e geralmente só chega à noite. Louis continua trocando mensagens no celular e, sinceramente, não sei se sou capaz de aguentar um dia inteiro assim.

ㅡ Posso ir com você? ㅡ Eu pergunto antes que ela saia correndo pra fora do quarto.

ㅡ Mas e o Louis?

ㅡ Oi! ㅡ Ele responde tirando os olhos do celular. ㅡ Bom dia, dona Anne! O que tem eu?

ㅡ Bom dia, querido. Estou indo para a ONG. Eu dou aula de artes toda segunda para um grupo de crianças maravilh...

ㅡ Eu topo! ㅡ Ele responde antes mesmo da minha mãe terminar de falar, parecendo bem animado com a ideia de não ter que passar o dia inteiro sozinho comigo.

ㅡ Se arrumem rápido, então. Já estou atrasada! ㅡ Minha mãe diz batendo palminhas.

Dois segundos depois, Louis já está de pé. Tirando a camiseta. Na minha frente. A cena não acontece em câmera lenta com um solo de saxofone ao fundo. É tudo muito rápido e natural, como se ele já estivesse acostumado a tirar a camiseta assim, na frente de qualquer um.

Louis veste uma camiseta limpa, e, quando ele tira o short do pijama para botar uma calça jeans, esqueço como faz pra respirar. Porque por um segundo meus olhos encontraram a cueca do Louis (boxer e preta) e minha mãe continua parada na porta do quarto, e esse é, sem dúvida, o momento mais esquisito de toda a minha vida.

Here the Whole Time (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora