Capítulo 2 - Sentimentos no liquidificador

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***

No outro dia, Cat acordou com um sentimento diferente. Um misto de sensações que ela por si só não conseguia explicar.

Vestiu-se e foi tomar um café com sua avó que ouvia as notícias pelo velho aparelho de rádio na cozinha.

- Bom dia, CateCat! Como está se sentindo hoje? - Perguntou, vendo a mudança no semblante de sua neta, surpresa por vê-la logo pela manhã.

Caterinne sorriu sem mostrar os dentes e respondeu que estava "subindo um degrau de cada vez", sem pressa, mas que estava estranhamente bem aquele dia.
Sua avó assentiu animada e elas passaram um bom tempo se deliciando com os quitutes que Dona Yrina havia preparado.

Agarrou o telefone e viu a mensagem deixada por Verônica no dia anterior. Sorriu com o apelido carinhoso que aquela pessoa completamente estranha e incrivelmente fantástica havia lhe dado.

["Oi, Verô! Sim, eu peguei no sono e infelizmente abandonei você aqui, sinto muito! :( Porém, me diga, como está sendo sua manhã?]

Cat esperou um tempinho, mas como não obteve nenhuma resposta, resolveu aproveitar o bom humor para fazer uma das coisas que ela havia deixado pra trás. E sentia muita falta.

Entrou em seu quarto avistando o velho violão na cor azul que sua mãe havia lhe dado, retirou a poeira, dedilhou algumas cordas e seus olhos encheram-se de lágrimas.

Se recordou de momentos felizes em que sua mãe a pedia para cantar músicas do 4NonBlondes, Tom Jobim, Marisa Monte e muito outros.
O bom gosto musical foi uma das heranças que a genitora havia lhe deixado.

Como um estalo, ''Velha Infância'' do Tribalistas veio em sua mente, cantarolou devagar, e logo estava finalizando com um último acorde.

Caterinne se sentiu leve, emocionada, e orgulhosa de si mesma. Estranhamente presenciou como se sua mãe estivesse ali, lhe confortando e aplaudindo-a de alguma maneira.

[...]

Já beirava o entardecer, o celular de Cat havia vibrado algumas vezes em cima da escrivaninha e para sua surpresa, era Verônica.

Suspirou, sorrindo de canto com o que acabara de ler.

[Hey! Bom dia, ou, digo, boa tarde! Hahah. Hoje tive algumas aulas de canto e treinei pela manhã. Mais tarde encontrarei alguns amigos para gravar um cover, tem alguma sugestão? O que fez nessa manhã?]

Pensou na música que coincidentemente acabara de tocar enviando o nome para Verônica, que também já a conhecia. Contando também sobre a manhã estranhamente confortável que havia tido.

As duas falaram sobre coisas em comum, ambas eram apaixonadas pelo céu, pela natureza e todos os seus encantos, pelo cheiro de terra molhada, por animais, cafeína...
Compartilhando também o mesmo amor pela música e escrita. Estranhamente, em questão de gostos, eram extremamente parecidas.

Sua avó a avisou que iria até o mercado, fazer algumas compras para a reposição da dispensa, Cat estava tão entretida que apenas balbuciou um ''pode ir'', continuando a conversa, animadas e envolvidas demais com tudo aquilo, se sentia extremamente feliz por ter encontrado alguém para dividir suas bizarrices.

Até que Verônica teve que se despedir para ir gravar o tal cover.

Cat disse que tudo bem e se despediram de forma levemente desanimada.

Além das milhas - Romance LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora