Nota da autora:
Ouçam "A noite - Tiê" enquanto lêem esse capítulo, é uma das músicas que me inspira a continuar essa história.
Boa leitura, meus benzinhos!
Naquela manhã, tudo parecia estrar fora dos eixos. Caterinne acordou e não viu a moça que a havia tocado a noite toda, as louças estavam espalhadas por toda a sala, suas roupas ainda estavam no chão, a televisão ainda ressonava sons macabros dos respectivos filmes de horror, um verdadeiro caos.Sentiu nojo de si mesma, aliás, Tokio havia ido embora sem nem ao menos despedir-se, nenhuma mensagem, nenhum bilhete, um imenso vazio.
Na tentativa de evitar qualquer decepção maior, Cat imaginou que alguma emergência poderia ter acontecido para que a fizesse sair às pressas.
Se levantou com dificuldade, olhando seu reflexo no espelho do lavabo, via as marcas de uma noite feroz. Passou as pontas dos dedos pelos hematomas e mordidas deixados por Tokio, o que a fez fechar os olhos e encher os pulmões de ar, a fim de segurar uma lágrima. Sua vida havia passado por uma transformação radical, a avó estava casada novamente e em outro país, seu pai era ausente fisicamente e ela ainda não havia superado a morte de sua mãe.
Caterinne passou por diversas consultas com diferentes profissionais da saúde mental, por um longo período. Alguns meses após Verônica assumir o relacionamento com Denise, não conseguia expressar mais palavras, comer, sair em público e conversar abertamente com seus amigos. Se isolando numa completa escuridão, evitando todo e qualquer contato humano. O que melhorou após incontáveis sessões de terapia intensiva.
Leah e Júlio haviam se casado numa viagem, algo que nem eles mesmos estavam esperando. Ambos eram apaixonados um pelo outro e Caterinne nunca percebeu por estar devastada com seus próprios demônios. Recebeu o convite em Março desse ano, algo rústico acompanhado de uma garrafa minúscula de vinho e um pedaço de tecido para que comprasse um vestido de madrinha naquela determinada coloração. Finalmente pôde se desculpar com ambos e acertar suas mágoas. Foi um dia mágico.
Dona Yrina se apaixonou por um dos médicos que cuidou das consultas paliativas de Felícia, o encontrando na missa, sendo acompanhada até em casa, obtendo ajuda do mesmo com a mazela da neta. Era algo tão puro, de tamanho respeito, que estava na lista de Cat como meta para sua vida, o que obviamente, estava longe de ser consumado.
Após uma longa ducha, permitindo que a água e seus poderes curativos a limpassem energeticamente, se sentou apenas de toalha em sua cama pensando se dormiria ou arranjaria alguma distração dentro de casa. Seu pai já havia a avisado que passaria o restante do final de semana fora, segundo ele ''dando-a liberdade de se divertir''. Mal o sabia que o clima não estava pra festa, mas ela não seria a responsável por estragar os planos de seu velho pai.
Começou a pentear os cabelos que respingavam água sobre o tapete, até que ouviu o vibrar do celular despertando sua atenção.
[Hey, Cat. Só queria saber como você está, nem sei como deveria me dirigir a você após tudo o que aconteceu. Entenderia caso não me respondesse mais, porém, apesar dos anos, acredito que mereça uma explicação racional.]
Verônica está digitando...
Caterinne sentiu seu peito arder, ela esperou por isso por um longo tempo, mas não tinha a coragem de perder ainda mais sua dignidade. Então, apenas aguardou a conclusão de Verô.
[Aquela época, eu estava totalmente insegura, não tinha um pingo de amor por mim, então seria impossível amar você da maneira merecida. Aliás, éramos praticamente crianças carregando sentimentos desconhecidos, a distância era uma barreira que eu mesma havia construído com as próprias mãos, minha família não tinha condições de bancar as passagens, muito menos eu colocaria você no meio da maluquice deles, você soube do que meu genitor era capaz. Nada elimina o fato de eu ter sido uma tremenda babaca contigo, nada anula o passado, mas eu tenho disposição para lhe mostrar um novo futuro... Digo, como amigas, sabe? Enfim espero que um dia me perdoe, Catzinha...]
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Além das milhas - Romance Lésbico
RomanceCaterinne e Verônica acompanham uma a outra através das telas. Uma paixão que se desenvolve da adolescência até a maturidade de ambas. São 10 anos de idas e vindas, fases e corações partidos. Um encontro de almas, uma empatia imediata, um sentiment...