Riconciliazione

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Fechei o nó do roupão, e sentei na cama enquanto enxugava meu cabelo húmido com outra toalha. Havia acabado de tomar banho e Jungkook entrou no quarto segundos depois, segurando duas xícaras e me ofereceu uma.

Peguei mesmo sem saber o que era e me certifiquei outra vez que o nó do roupão estava firme.

-Chá. - ele disse, e sentou ao meu lado. Ele provavelmente sabia que eu estava nervoso, porque evitou contato visual.

-Obrigado. - Tem tantas coisas que eu quero saber. Levei a xícara até a boca e tomei um gole do líquido morno, meu corpo relaxou um pouco, mas meus sentidos continuavam em alerta.

-Sobre hoje mais cedo...- começei hesitante, e não consegui terminar.

-Foi um acidente. - Ele falou calmamente. - Ela derramou café em mim e para não escorregar no chão molhado acabou me agarrando.

-Ah. - eu não sabia o que dizer, encarei a xícara, traçando desenhos imaginários nela. Tinha tanto para falar mas agora não sabia por onde começar.

De todos os cenários que eu imaginei fazendo aquilo, aquele não era um deles, eu sabia que seria desconfortável, mais não tanto. - Me remexi na cama, e tomei mais um pouco do chá. - Então...porque trouxe ela naquela noite? - coloquei a xícara quase vazia sobre a escrivaninha e me virei para encará-lo, porque queria olhar em seus olhos enquanto conversávamos, queria ouvi-lo falar e ter certeza que seus olhos não diriam outra coisa.

-Bom...ela claramente queria companhia aquela noite.- deu de ombros, estava cabisbaixo, e sua xícara ainda estava intacta. - Eu não vi problema nisso, mas não foi por isso que trouxe ela.- olhou para mim debaixo dos cílios, fez uma careta e continuou. - Eu a Trouxe porque estava com raiva.

-O quê?

-Raiva e ressentimento, eu fui trabalhar no natal mas tudo que eu consegui fazer foi lembrar que no outro tudo era diferente. - sua voz subiu uma oitava, eu engoli em seco, e apertei o travesseiro contra meu corpo.

No outro natal. Nós estávamos no Japão, felizes, trocando presentes, se divertindo com alguns amigos da família e fazendo planos para as crianças.

-Meu sonho era ser pai. - sua voz saiu entrangulada, ele olhava para um canto qualquer e apertava a xícara entre os dedos.

-Eu sei. - susurrei, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair.

-Então você perdeu os bebês e...eu não sei o que aconteceu comigo, Jimin. - ele me olhou, e eu percebi que estava chorando. -Eu planejei tudo, eu... mordeu o lábio com força. -Eu me sentia o homem mas feliz do mundo em um momento e no outro foi como puxar o tapete que estava abaixo dos meus pés.

Então naquele momento eu percebi, eu não era o único que sofria, Jungkook também passou por tudo só, ele também não estava feliz. Eu fui egoista e só olhei minha dor, ele virou as costas para mim, mas eu também nunca perguntei se ele estava bem.

-Jungkook...- meu peito apertou, eu já não podia mais conter as lágrimas.

-Eu passei a odiar cada momento antes daquele, o fato de ter criado tanta expectativa e ter feito tantos planos só para no final vêr o que eu mais queria ser tirado de mim antes que eu pudesse tê-los. Eu odiei tudo, Jimin. - Jungkook me olhou de uma forma que eu nunca mais pensei que o veria: fragilizado.

Ele estava se abrindo,seu sofrimento era palpável, o verdadeiro sofrimento que ele encobriu com a raiva durante todo aquele tempo, e eu não podia Fazer nada além de chorar junto, não podia fazê-lo superar, ele mesmo tinha que aceitar a perda para seguir em frente.

-Eu me odie. Odie você, Jimin. - estremeci, nunca tinha parado para pensar na profundidade dos seus sentimentos. - Mesmo que você não tivesse culpa de nada. - completou. - Mas na época eu estava cego pela dor para perceber isso. Eu achei que fosse passar, mas cada dia ficava pior, e eu não conseguia olhar para você e não se lembrar. Eu me afastei e achei que o trabalho fosse a resposta.

-E foi? - entrelaçei sua mão livre na minha, eu queria abraçá-lo e confortá-lo, mas também tinha medo de estragar tudo e fazê-lo parar de falar. Ele negou, sua mão apertou a minha como resposta.

-Nunca foi, agora eu percebo. Não foi culpa sua, Jimin. - levei meus dedos para levantar seu queixo, e fazê-lo olhar para mim.

-Nem sua. susurrei. -Não foi nossa culpa, Jungkook. O destino quis assim. - ele assentiu, mais lágrimas caíram e eu usei meu polegar para limpá- las do seu rosto. - Você não precisa se envergonhar.

-Eu errei feio, Jimin. - murmurou, arrependimento e sinceridade brilhando em seus olhos. Ele pegou minha mão e voltou a entrelaçar com a sua. - Eu fiquei com raiva e acabei trazendo aquela mulher aqui porque queria fazer você se sentir mal, eu queria que você sofresse quando visse ela. Eu não queria ser o único que estivesse infeliz, eu fui egoista e não olhei para seus sentimentos também.

-Você disse que uma ômega como ela não merecia passar aquela data sozinha. - as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse conté-las.

-Sim, eu fui um imbecil. ele - admitiu e acariciou minha mão. - Eu fiquei deseperado quando você falou sobre o divórcio e agi por impulso.

-Ah, você não sabia direito o que estava fazendo, não é? - murmurei, a semente de esperança que crescia em mim murxou.

-Eu não me arrependi de te beijar, se é isso que está pensando, Jimin. - ele falou calmamente, levou minha mão até a boca e deu um beijinho, em resposta meu rosto inteiro corou, e ele soltou um risinho com minha reação.

-Você também falou reação O Taemin. - lembrei. -Eu nunca entendi porque você odeia ele.

-Porra Jimin, o garoto sempre gostou de você, desde o colegial competia comigo pela sua atenção, e nem fez questão de disfarçar o quanto ficou feliz quando a gente brigou. Você queria que fossemos amigos ou algo assim? - ele falou zangado, as sobrancelhas franzidas e nem percebeu que tinha um bico nos lábios. Parecia uma criança birrenta quando estava irritado.

-Mas foi você que escolhi, foi com você que eu me casei, não? - semicerrei os olhos, e seu semblante suavizou.

-Sim.

-Jungkook...- chamei baixinho. Ainda tinha uma coisa, eu sentia que algo precisava ser feito. Ele me encarou com expectativa e eu continuei depois de um tempo - Faça amor comigo hoje!

o que a vida me roubou(JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora