003

308 30 4
                                    

Melina🎀
RJ | sábado.

Não aguentava mais escutar minha avó gritar no telefone, já tava ficando com medo de ser coisa ruim.

-- A menina não vai, eu já falei, qual problema ela crescer em uma favela, você cresceu aqui e se não fosse pelas pessoas daqui, que te ajudou, você não estaria ai -- vovó suspirou, ela chorava. -- Sabe oque você é? Mal agradecida! Cuspindo no prato que comeu.

Escutei uns gritos saindo do telefone, mas eu não conseguia entender oque a pessoa falava

-- Quando você passou fome, quem te deu de comer? O pessoal da favela que você tanto despreza, graças a Deus minha filha não sofre com isso, ela tem tudo do bom e do melhor. --

Pensei em falar alguma coisa, mas não deu tempo, minha avó falou primeiro:

-- A filha é sua, que você não quis criar. --

📍

Já tinha se passado horas, minha avó ainda brigava

Ela desligou o celular do nada, veio em minha direção, com uma cara não muito boa

-- tá tudo bem, vó? -- perguntei com medo.

-- filha, eu te amo muito, tá bom? -- eu concordei com a cabeça. -- mas você sabe, que você tem sua mamãe, lá em Portugal e lá é muito legal -- eu negava várias vezes com a cabeça, meus olhos encheram de lágrimas

-- não, não é legal, aqui eu tenho a Bruna, você e a tia Raquel -- passei minhas mãos pelo rosto da minha avó.

-- mas eu não posso te tirar da sua mãe, meu bem. -- lágrimas caiam descontroladas, não só pelo meus rosto, da minha avó também. -- me desculpa, tá?

Eu saí correndo, coloquei minhas sandálias e escutei minha avó me chamar, mas não quis voltar.

Fui correndo pra casa da minha docinho, bati no portão, já que ninguém escutou, eu gritei

-- TIA, BRUNA -- não conseguia parar de chorar.

A Bruna abriu o portão e eu pulei em seus braços, procurando conforto e eu achei.

Eu sempre acho com ela.

-- Bruna eu vou embora, minha mãe vai me levar, por favor, não deixa. -- Bruna sempre me fazia se sentir segura, porque não agora?

-- Dengo, entra e me explica --

A gente entrou, sentou no sofá e eu continuei agarrada em Bruna, não posso sair daqui, eu não quero.

Expliquei pra ela, tudo, enquanto ela me pedia calma.

Mas agora ela tava chorando também, mas a Bruna não chora, exceto quando se tratou do seu pai.

Aí que eu vi, que ela não poderia fazer nada, eu vou embora

-- Dengo, você é minha menina, tá bom? Não importa quanto tempo passe, você sempre vai ser. -- ela segurou meu rosto, com as duas mãos e colou nossas testas, eu senti sua respiração perto e a abracei forte.

O mais forte que eu pude, mas eu não tenho tanta força assim.

Quando se soltamos do abraço, Bruna aproximou seu rosto da minha bochecha e eu virei sem querer, e seu beijo foi na minha boca

Eu a olhei com os olhos arregalados e ela sorriu.

Então eu sorri também.

Ela colocou o dedo nos lábios e sussurrou um "xiiu"

--

🤏🏻



Destino | ⚢ Onde histórias criam vida. Descubra agora