Capítulo 4

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Skyler Rosewood

Há 7 dias que cheguei em Stone City.

45 chamadas perdidas.

106 mensagens não lidas.

Todas daquele cafajeste.

Não tive coragem de abrir nenhuma delas, mas tive uma pequena prévia da última sobre como Otávio me ama e em como seremos uma família linda e cheia de filhos.

Ele foi baixo, me atingiu no ponto que sabia que me atingiria.

Desde que nos casamos sempre tentamos engravidar e nunca tínhamos sucesso.

Decidimos fazer exames para saber qual era o problema, e descobrimos.

Eu era o problema, sim sou infértil.

Zero chance de engravidar, zero chance de ter a minha tão sonhada família.

Na época isso me abalou demais, e ainda me abala, mas não tenho como resolver por que não tem solução.

Ainda fico triste quando penso no assunto, mas agora sem um marido e sem poder ter filhos me sinto bem abalada.

Pedi para que a minha família não contasse que eu saí do país, pedi para que o deixassem sem respostas sobre mim.

Ele não tinha mais direito algum de saber onde eu estava, nada mais justo para alguém que me traiu desde sempre.

Hoje é um daqueles dias sabe?

Acho que minha ficha está caindo aos poucos e estou sentindo tudo doer, meu coração e minha mente.

Eu o amei tanto mas agora só sinto ódio.
Um ódio que eu poderia matá-lo se o visse agora.

Saber que perdi 3 anos da minha vida com ele, saber que sonhei em ter uma uma família com ele e o encaixei em todos os meus planos me faz ficar destruída.

Pra piorar estou de TPM, minha menstruação vem todos os meses sem falta mesmo que eu seja infértil, sempre achei estranho mas quando eu e Otávio falamos com a médica ela informou que isso era um caso isolado, deu até a opção de eu fazer a cirurgia para retirar meu útero mas eu não quis.

Enxugo as lágrimas e volto a arar a terra na minha frente, coloco as sementes nos canteiros junto com o fertilizante e rego com o regador.

- Sky... - ouço a voz fraca ecoando na minha mente e quando repete novamente percebo que não é minha mente.

Me viro e vejo minha tia segurando uma cesta de palha com um pano por cima.

- Aí caramba, me desculpa tia. Eu não ouvi, estava distraída mexendo naquela terra e acabei não ouvindo quando a senhora chamou por que meus pensamentos estavam longe e então...

- Vá com calma, filha. Você estava chorando? - ela apoia a cesta na varanda da casa e eu caminho até ela.

- Não, chorando? Claro que não tia, só entrou terra no meu olho quando eu estava plantando umas sementes que comprei na lojinha aqui perto, inclusive aquela senhora é muito gentil comigo e...

- Skyler. - minha tia fala mais alto e me interrompe.

- Oi. - respiro fundo e solto o ar que estava prendendo.

- O que aconteceu? - ela segura meu rosto e eu desmanchou em seus braços.

As lágrimas caem sem parar e os soluços são altos e sem controle algum. Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas eu chorei tudo o que poderia chorar, tudo o que não chorei nesses dias aqui.

- Oh meu amor, é ele não é? - me afasto confirmando com a cabeça. - Vem vamos nos sentar aqui.

Sentamos na ponta da escada e eu enxugo as lágrimas com a ponta da camiseta.

- É só um dia ruim, eu vou ficar bem. - eu sorrio fraco pra ela que me encara com ternura.

- Filha, eu sei o que você está fazendo. Está mascarando sua dor, está se ocupando e deixando tudo para trás. Eu sei o que você está passando, Sky.

- Sabe? - pergunto confusa.

- Sim, o meu primeiro amor destruiu meu coração. Ele me traiu também, me deixou em pedaços e eu fiz exatamente como você, fingi que nada aconteceu e segui minha vida, mas isso me matou por dentro. Você precisa viver o luto Sky, precisa sentir e chorar, precisa colocar pra fora. - um nó sobre pela minha garganta mas eu engulo em seco - Chore, grite, quebre algo se isso for te fazer sentir melhor. Não reprima essa dor dentro de você. Vida o seu luto, por mais que aquele filho da mãe não mereça isso. Faça isso por você.

Abraço novamente a minha tia e choro no seu ombro como uma criancinha que perdeu seu doce.

Viver o meu luto.

- Isso vai passar, você vai ver quando olhar pra trás e ver como se tornou ainda mais forte do que é.

—•—

- Esses bolinhos estão divinos. - mordo a massa de mirtilo me deliciando do gosto único.

Ficamos sentadas na escada observando a paisagem ensolarada enquanto comemos os bolinhos que minha tia fez.

- Ah, Adam. Venha comer conosco, trouxe bolinhos de mirtilo. - minha tia grita para o homem que está passando na frente da minha casa.

Eu não perceberia sua presença se ela não tivesse o chamado, eu estava tão concentrada no meu bolinho que mal prestei atenção ao meu redor.

- Oi, Penny. - ele abraça minha tia e da um leve sorriso e nossa... Que sorriso.

- Você já deve conhecer minha sobrinha, a Skyler. - ela aponta pra mim.

- Claro, eu tive o desprazer de conhecê-lo. - digo com um sorriso falso.

- SKYLER! Desculpe Adam, ela é meio desbocada.

- Sem problemas, tive o mesmo desprazer em conhecê-la. - solto uma gargalhada mas por dentro estou queimando de ódio. - Mas vou negar o seu convite, tenho que ligar para Maya.

- Ah, e como ela está? - percebi um tom mais baixo e o clima pesar.

- Na mesma, outra hora conversamos. Tchau Penny, Tchau Skyler.

Meu nome em seus lábios ficaram diferente, um tom grosso e de deboche.

- Que homem mais insuportável, como a senhora consegue trocar duas palavras sem querer enforca-lo?

- Adam é um homem bom, Sky. Só quem sabe sua história é que sabe o porque aquele homem é assim.

De novo essa história?

- E por que ele é assim?

- Bom, essa história não é minha para ser contada.

Mas que diabos ela está falando?

Querida Sky - CONCLUÍDO Onde histórias criam vida. Descubra agora