Manual do Pecado Vizinho

Regra 2: Provoque um Sumiço (e Torne Tudo um Grande Desastre)

Guia de Suporte ao Leitor: Seu Inimigo Desapareceu? Tente manter a calma e prepare-se para seu inferno pessoal.

Lilith Campbell.

PASSARAM-SE MAIS DE SETE dias desde o incidente com a moto, e Ravy desapareceu completamente, sem dar o menor sinal de que se importava com o que fiz. Mas eu sei — sei que ele está tramando algo, e isso tem me deixado inquieta nos últimos dias.

Ravy sempre me atormentou durante toda a minha infância, e eu nunca reagi, nunca briguei, nunca lutei, muito menos busquei vingança, pois sabia que seria em vão. Mas quando finalmente decido tomar uma atitude, ele desaparece. Sem ameaças, sem gritos, simplesmente some da noite para o dia, mesmo depois de eu ter mexido em algo tão importante para ele.

Não posso acreditar que me sinto culpada pelo que fiz a um idiota que transforma minha vida em um inferno.

— Lilith? — Ayslla me chamou, tirando-me de meus pensamentos.

— Desculpa... — respondo, ainda distraída.

— Tá tudo bem, amiga? — A loira perguntou, e eu a observei de soslaio.

— Sabe alguma coisa sobre o seu irmão? — perguntei, ignorando a pergunta dela. Brinco com os dedos das mãos e desvio o olhar, sentindo uma pontada de culpa. — Bem... Quero dizer... Ele sumiu, né? — falo nervosa, gesticulando demais. — Depois de... — começo, mas sou interrompida pela loira.

— Você ter ateado fogo na moto dele? — Ivy perguntou; uma bela pergunta retórica. Ela me olhou firme, claramente se culpando por ter sido cúmplice. — Ele sumiu — disse, voltando sua atenção às anotações em seu caderninho. — Bom... — sua voz carregava certa hesitação. — Ele e meu outro irmão.

— E você não contou nada pra gente? — Ayslla arregalou os olhos, chocada.

Observei a discussão que as duas começaram, sobre a importância dessa informação, mas não prestei muita atenção no conteúdo.

Os dois? Eu só me vinguei de um, e agora ambos somem? Certo, acho que estou mais encrencada do que pensava.

— Não acho que precise fazer um boletim de ocorrência — voltei minha atenção para a loira, que falou enquanto escrevia no caderninho.

— Bom... Eles já desapareceram antes, né? — comentou a morena, tentando disfarçar a preocupação.

Como essa conversa chegou a esse ponto?

— Eles são grandinhos, sabem se cuidar — comento, dando de ombros. Se eles desapareceram, não são eles que estão em perigo, e sim alguém. E espero que esse 'alguém' não seja eu.

— Até acho bom que meus irmãos tenham sumido. — Você acha isso bom?

Acho que Ayslla pensou a mesma coisa que eu, a julgar pela maneira como ela me olhou e depois olhou para a loira. Quando o silêncio se instalou, a garota alternou o olhar entre nós duas.

— O que foi, gente? — perguntou, olhando de mim para a morena. — Prefiro que eles atormentem a vida de outra pessoa, não a minha.

— Pensando bem... — Ayslla sorriu de maneira travessa. — Logo, logo, a pessoa atormentada vai ser alguém bem próxima de você. — Indicou com o queixo na minha direção. A loira me olhou, e sua expressão relaxou como se tivesse entendido a piada (que, por sinal, achei de muito mau gosto).