Paris in the rain

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Sim, voltei depois de um milênio. Sei que devo muito a vocês e agradeço por nunca terem desistido da fic. Esse capítulo vai mudar o rumo da história a partir de agora.


Boa sorte :)


Quando nascemos, precisamos cair para aprender que machuca; precisamos sentir dor para não fazermos aquilo nunca mais. Demorou anos e anos para Kazuha sentir na pele as consequências dos próprios atos. Ela nunca ligou de verdade para as merdas que ela fazia ou se isso prejudicava alguém.

Mas com Yunjin era diferente. Pelo menos agora após Eunchae abrir seus olhos, ela enxerga que sempre foi diferente com ela.

Desde o primeiro dia que a viu, naquela luta que poderia ser apenas mais uma mas acabou mudando o rumo da sua vida para sempre, sentiu algo diferente; algo que nunca havia sentido antes. Ela ainda não sabe nomear o que acontece com seu coração toda vez que Yunjin sorri, ou como sua mente caminha até a Huh e seu sorriso acaba se abrindo sozinho quando ninguém está vendo. Mas ela reconhece o quanto tentou fugir desse sentimento desde o primeiro capítulo dessa história.

Era isso que amedrontava a lutadora; saber que todas as histórias de amor, até mesmo as mais bonitas irão doer em algum momento, em algum capítulo.

E se a vida de Kazuha fosse um livro, esse capítulo seria agora.

Tudo estava escuro, inclusive seu coração que agora batia tão forte quanto quando está em cima do ringue dando uma surra em alguém. Sua respiração estava descompensada e suas mãos tremiam. A chuva já havia se misturado com suas lágrimas e ela não sabia mais identificar qual voz era de Yunjin falando consigo ou da sua cabeça gritando.

"Kazuha, olha pra mim!"

"É tudo culpa sua."

"Respira!"

"Você a machucou."

"Me conta o que aconteceu!"

"Ela vai embora."

"Eu vou chamar a Eunchae."

- Não.

Antes que a escritora pudesse sair do lugar, Nakamura finalmente abriu a boca. Sua respiração, essa que antes estava descompensada, havia parado. Suas lágrimas competiam com a chuva para ver quem molhava mais o rosto da japonesa.

Ao lembrar de Hong, a situação parecia ter se tornado pior.

Yunjin não sabia o que estava acontecendo, estava completamente perdida. Mas estava debaixo da chuva, encharcada, vendo a maior lutadora do Japão chorar na sua frente.

Isso era o suficiente para ela saber que uma merda muito grande havia acontecido.

- Kazuha.

Ao ouvir seu nome saindo daquela boca, a japonesa pareceu ter acordado de um transe. Quando os olhos de Nakamura encontraram os de Huh, a escritora perguntou:

- O que aconteceu? - os olhos de Kazuha fecharam, sem coragem se manter o contato. Ela encarou o chão sem saber o que dizer.

Yunjin sentou-se do seu lado na grama molhada e, após cinco minutos de silêncio, voltou a falar.

- Você está na chuva, eu também. - Kazuha nem se mexeu. - Você ta tremendo de frio, eu também. - ela olha para a japonesa. - Você provavelmente vai pegar uma gripe horrível. Sabe o que isso significa?

Silêncio.

- Que eu também vou. - ela riu sem diversão nenhuma e Nakamura finalmente olha para ela. - Então, saiba que eu vou ficar aqui até você me contar o que aconteceu. Se você não quer pegar uma gripe, sugiro que fale logo para a gente entrar e se secar.

Ainda a encarando, Kazuha finalmente fala algo.

- Eu não me importo de pegar uma gripe. - Elas continuam se encarando, olho no olho. Nakamura suspira e encara seus próprios pés. - Briguei com Eunchae. Ela jogou um monte de merda na minha cara que, apesar de ser verdade, doeu pra caralho.

Kazuhja estava desabafando.

E Yunjin estava em choque. Não pensou que ela realmente fosse falar algo.

- Eu passei a minha vida toda me negligenciando e negligenciando as pessoas a minha volta. Eu nunca me importei com ninguém de fato. - ela ri. - Ninguém além de Eunchae. É dificil finalmente encarar que tudo que eu faço é afastar e machucar as pessoas. É dificil pra caralho.

Yunjin decidiu não falar nada para não impedir que a japonesa se abrisse com ela.

- Minhas relações sempre foram supérfulas. - ela diz, arrancando tufos de grama do chão. - Não havia depois do sexo. Caralho, é tão estranho falar isso. - ela pôde sentir Yunjin a encarando com mais intensidade. - Mas, mais estranho ainda é ver o quanto isso mudou e eu menti para mim mesma que nunca iria mudar.

Nakamura continuou arrancando tufos de grama do chão e se arrependendo de ter aberto seu coração cada vez mais enquanto os minutos em silêncio aumentavam. Ela não teve coragem de olhar para Huh durante esse tempo.

A garota já estava a encarando.

- Kazuha.

- Hum? - sem olhar para a escritora, ela responde.

- Se você não liga de pegar uma gripe, por quê desabafou?

Nakamura engoliu seco e suas mãos tremeram tanto a ponto de soltar a grama em seus dedos.

- Porque você também vai.

Em um súbito ato de coragem, ela encara Yunjin apenas para ver seus olhos naturalmente grandes ficarem maiores ainda.

Em uma outra situação, Kazuha estaria feliz de ter causado aquilo na coreana-americana. Mas, nessa situação, aquilo pareceu apertar ainda mais seu coração. Afim de sair dali, a lutadora se levanta e mesmo toda molhada e suja de grama, entra para dentro da mansão e, dessa vez, quem estava sentada sozinha debaixo da chuva era Yunjin.

Logo que entrou dentro de casa deu de cara com Sakura.

- Você está bem?

Kazuha não responde com palavras mas pelo seu olhar deu para perceber que não, não estava bem.

- Eu... - ela coça a garganta. - Ouvi a gritaria de Eunchae.

Kazuha arregalou os olhos e deu um passo para trás.

- Eu estava no banheiro do lado, não foi minha intenção. Desculpa.

Sem dizer nada, a japonesa mais nova sai andando para fora da cozinha em passos lentos mas seus pés param contra sua vontade quando ouve o que Miyawaki diz.

- Yunjin também ouviu.

Kazuha congelou onde estava.

- Ela te procurou pela casa mas você não estava em lugar nenhum.

Seu coração apertou.

- Então eu te vi lá fora através da janela. Ela saiu correndo e... bem, quem sabe do resto são vocês duas. - Sakura caminha para perto da lutadora até estar de frente com a mesma. - Se o que Eunchae falou for verdade, ela merece saber. Seja sincera com ela e consigo mesma, Kazuha.

Nunca é tarde demais. 

A luta é dela - Kazuha+YunjinOnde histórias criam vida. Descubra agora