In the Moondust - Jack x Elsa

❆ Capítulo 2 ❆

Já fazia bons minutos que a única coisa que Jack via abaixo de si era a água do Oceano Atlântico. Ele sobrevoava as ondas tímidas e os respingos salgados avançando pelo norte, em busca do íntimo do Mar Negro.

Apesar da escuridão do céu se refletindo nas águas, ao menos as estrelas e a grande lua cheia eram companheiras luminosas para o guardião. Seu queixo erguido levava seu olhar a qualquer resquício mínimo da enorme geleira. Em breves momentos, Jack achou que nunca encontraria uma alma viva naquela região, sua mente o perturbava com o estranho destino que o Homem da Lua lhe concedeu para ajudar mais uma criança. Ao menos, a curiosidade de Jack era sua principal aliada, logo a missão conseguia ganhar o desafio da surpresa. Até que seus pensamentos foram interrompidos por uma voz distante alcançando seus ouvidos.

A voz era doce, calma, e chamava por seu nome.

"Jack?"

Jack interrompeu o voo, planando sobre a água com a postura ereta, e franziu o cenho. Ele reconhecia aquela voz, era a voz de sua falecida irmã, a mesma que ouviu da caixinha dourada que guardava seus dentes de leite. Desta vez, era mais distante e soava como uma melodia confortável. Mas, o que essa mesma voz estaria fazendo ali, chamando-o? Vinha de algum lugar, ou os quilômetros de água que o rodeavam estavam deixando ele louco?

O irresistível som familiar fez Jack fechar os olhos e concentrar toda a atenção possível em seus ouvidos. Quando a voz chegou a eles mais uma vez, o guardião buscou seguir a direção do chamado, e voltou a abrir os olhos para continuar a voar. Ele avançou com uma estranha confiança em seu interior, imaginou que fosse pela voz ser a de sua irmã. Passados mais alguns minutos, Jack, enfim, avistou as pontas gélidas das montanhas da geleira. Lentamente, o local ganhou tamanho e forma, como se emergisse do Mar Negro para o engolir; a água interminável circundando a grande ilha congelada fazia o lugar parecer escuro e amedrontador, mas as paredes de gelo eclodindo até o céu emanavam luz fria e tranquila.

Jack pousou os pés nus à beira do início do chão da geleira, onde o mar ia para frente e para trás com o movimento das ondas tímidas invadindo o chão. As paredes de gelo pareceram mais imponentes e misteriosas, muito mais altas do que sua visão pôde captar; e as pedras negras se mesclavam no azul cintilante numa beleza escultural. Assim era o Ahtohallan.

"Jack?"

A voz fez Jack baixar o rosto e visualizar uma entrada estreita entre as paredes. O guardião começou a se aproximar, um tanto hesitante, afastando-se do som das ondas quebrando no chão de gelo como uma praia. Ao entrar na geleira, seus olhos se encheram do brilho interno do corredor que atravessava; além do branco da neve e do azul-piscina, Jack enxergou tons de violeta se perdendo entre as fissuras de gelo. Ele continuou avançando até chegar ao final da passagem, onde a geleira se abriu em uma extensa caverna congelada, com teto alto e escurecido e outras passagens entre as paredes que pareciam levar para lugares mais adentro do Ahtohallan.

"Jack?"

Jack se assustou quando a voz chegou aos seus ouvidos, pois desta vez ela veio acompanhada de um vulto da imagem de sua irmã aparecendo gelo das paredes e sumindo em seguida num piscar de olhos. Pelo menos, foi essa a impressão que o guardião teve. Ele caminhou na direção de quatro pilastras de gelo ao fundo do local, e seus olhos se arregalaram ao identificar em cada uma delas os símbolos losangulares que viu no livro de Norte. Cada pilastra representando um símbolo diferente.

Afinal, o que estava acontecendo?

O guardião girou o tronco para trás ao ouvir passos vindos do corredor por onde entrou. Ele rapidamente se escondeu atrás da segunda pilastra da direita na esperança de que a grossura do gelo não refratasse sua silhueta para quem quer que estivesse se aproximando. Quando o som dos passos ficou mais ofuscado pela maciez da neve, Jack arriscou colocar o rosto para fora de seu esconderijo. E ele viu uma mulher.