As noites russas eram diferentes.
Jack não sabia explicar o porquê, mas eram.
Quem sabe fossem as históricas temperaturas amenas que o país sempre tinha orgulho de atingir em seus invernos; ou as construções altas, coloridas e engraçadas que traziam pessoas de vários locais do mundo; ou até a sisudez instigante dos cidadãos. Graças ao seu ofício e às nevascas gélidas tão características daquela parte da Europa, Jack se deleitava com o frescor da crença das crianças, fazendo elas felizes ao exercer uma posição mais.... diferenciada.
Após 300 anos de solidão, parecia-lhe contraditório precisar se esconder para não ser visto em tempos onde, enfim, ele conseguia ser visto; porém já estava aprendendo que a grande essência de ser um guardião era tocar a alma das crianças além da visão. Ser alguém de confiança íntima para elas em troca da pureza de seus corações.
E lá estava Jack, na capital russa, sentado com os joelhos bem separados sobre a grande estrutura redonda que fechava um dos topos principais da Catedral de São Basílio. Àquela hora, as crianças que passaram o dia quase inteiro brincando nas neves do guardião começavam a retornar para as suas casas; e os adultos e turistas afloravam mais nas ruas entrelaçadas para aproveitarem o frio noturno.
Jack nunca se cansava de fazer as crianças se divertirem, mas até mesmo ele precisava de momentos contidos e solitários, e gostava de desfrutá-los do alto da construção coloridamente engraçada e — ao que parecia — importante para as pessoas. Ele pôs as mãos bem abertas sobre superfície lisa e dourada, deixou o peso do pescoço afundar entre seus ombros e respirou bem fundo com o queixo apontando o céu. O ar gelado invadindo suas narinas sempre provocava um sorriso involuntário em seus lábios pálidos, e melhor ainda era soltar o ar, agora aquecido por seus pulmões, e vê-lo criar uma fumaça translúcida na atmosfera.
Jack abriu seus olhos e continuou sorrindo ao se deparar com a grande bola redonda da lua cheia. Agora, Jack podia pensar no Homem da Lua com alegria em vez de pesar. A fase ruim de não ser visto pelas crianças, não saber o seu propósito e de não saber sequer quem era já havia passado; sentia-se mais maduro e confiante para os caminhos que o aguardavam.
E em meio a esse sentimento, o guardião teve a estranha impressão de notar a lua se aproximando.
Ela, que estava à esquerda de sua visão periférica, começou a se mover para a direita, centralizando-se lentamente ao topo de sua cabeça. Enquanto isso, seus raios cristalinos ficaram mais intensos e brilhantes. Jack imaginou o que aquilo significava. Ele segurou o cabo de seu cajado de madeira em seu colo com as duas mãos e fechou os olhos.
Quando a lua pousou exatamente acima de seu guardião, os feixes prateados de luz irradiaram com força sobre o corpo de Jack, dando a ele as imagens que precisava.
Na cortina de seus olhos fechados, Jack visualizou uma menina. Uma menina de cabelos brancos numa trança única, grandes olhos azuis, tiara preta e trajando um vestido azul-escuro que acompanhava um colete de mesma cor. Suas mãos tinham a proteção de luvas brancas e estavam postas à beira de uma grande janela, por onde ela parecia visualizar o mundo ao lado de fora. Seu rosto, apesar de gentil e doce, carregava medo, e a solidão era profunda como o azul de seus olhos.
Após um flash de luz, Jack visualizou uma gigantesca geleira que flutuava em um grande oceano. Era bela e misteriosa, despertando-lhe curiosidade.
Por fim, enquanto via a geleira isolada sobre a água, ele escutou uma única palavra sendo sussurrada ao pé de seu ouvido: Ahtohallan.
E, assim, a visão se encerrou.
Jack abriu os olhos e voltou a sentir o ar dentro de si. Ele piscou algumas vezes e notou as palmas das mãos um tanto suadas enquanto seguravam o cajado.
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In the Moondust - Jack x Elsa
FanfictionElsa é a nova e peculiar missão de Jack Frost como guardião. "Peculiar" porque ela já cresceu, o que tornará o propósito dele ainda mais misterioso.