❆ Capítulo 3 ❆

45 10 2
                                    


Quando menos esperou, Jack já estava mais uma vez em frente à imensa geleira.

Ele adentrou o Ahtohallan e novamente os familiares sussurros invadiram seus ouvidos. As paredes congeladas o envolviam como o abraço de uma mãe, dando-lhe acolhimento e palavras doces. A cada passo que dava no corredor seu coração batia mais forte, uma estranha ansiedade aflorando em seus poros.

Jack imediatamente parou de andar quando saiu do corredor e viu que a mulher já se encontrava na caverna, mais uma vez deitada sobre a neve com o peito para cima, os olhos fechados e, na parede à sua frente, uma nova projeção era transmitida. Desta vez, a garota de cabelos castanhos e a pequena Elsa estavam ajoelhadas no chão construindo um castelo com neve enquanto brincavam com algumas bonecas.

O guardião flutuou em silêncio metros acima da mulher e logo foi para o seu esconderijo atrás de uma das quatro grandes pilastras de gelo da caverna. Ele colocou a cabeça para fora e continuou assistindo a projeção da caverna; as garotas riam umas para as outras e movimentavam as bonecas pelo cenário imaginário feito de neve, conversando entre si através das bonecas com diálogos fantasiosos — e, ás vezes, um tanto dramáticos.

E então, Jack refletiu: se sua criança já estava crescida, como ela era transmitida tal qual um filme no misterioso Ahtohallan? Seriam... lembranças? Mas, se eram, como aquilo era possível? Nada no mundo humano se aproximava de algo tão utópico.

Subitamente, a projeção desapareceu. Jack olhou para a mulher e viu que seus olhos se abriram, encarando o teto da caverna. Ele escondeu mais o rosto e o corpo.

Ela se sentou na neve com a tristeza estampada em sua feição. Ela trouxe os joelhos junto ao peito, abraçando-os, baixou a testa até esconder o rosto nas patelas e começou a chorar. Seu cabelo platinado caiu por cima de seus ombros, fazendo ela parecer mais encolhida e pequena do que já estava.

O silêncio do Ahtohallan fazia os soluços dela ecoarem com amargura, e Jack foi tocado por tamanha melancolia. Ela estava solitária, em um lugar mais solitário ainda ao olhar do mundo, escolheu mergulhar em seu próprio vazio misterioso apenas para sofrer. Sozinha.

Jack logo se lembrou da primeira vez que veio à caverna e viu as paredes projetando a menina da sua visão. Lembrou-se do boneco de neve construído por ela e pela outra garota dos cabelos castanhos.

Ele sacou seu cajado, apontando a parte encurvada em direção ao chão, e um pequeno monte de neve começou a se mover sozinho. Uma bola grande de neve se formou, depois outra acima dela um pouco menor e por fim uma última bola ao topo, mais alongada. Infelizmente, ele não tinha cenouras, gravetos ou pedras de carvão, então ele terminou de moldar o boneco com as próprias mãos para fazer um nariz, braços, pés e botões, deixando a neve mais maleável e firme nessas partes com a sua magia.

Finalizado o boneco, Jack tocou o topo de sua cabeça com a ponta do cajado e o boneco ganhou vida. Ele o empurrou para fora de seu esconderijo e o fez caminhar alegremente até a mulher.

O boneco tocou o ombro direito da moça, fazendo-a interromper o choro e olhar para ele. Ela franziu o cenho, secou as lágrimas com as costas das mãos e olhou, confusa, para as próprias palmas pálidas. Ela correu as orbes azuis pelos quatro cantos da caverna antes de voltar a fitar o boneco de neve.

— Olaf...? — sussurrou.

Jack se lembrou deste nome da projeção passada. O boneco era "Olaf", a criança era "Elsa". E a adulta também era "Elsa".

Olaf então começou a dançar. Seus pézinhos feitos com pequenas bolas de neve o faziam saltitar ao redor de Elsa e seus bracinhos complementavam os passos de dança.

In the Moondust - Jack x ElsaOnde histórias criam vida. Descubra agora