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— Eu quero ir. — falei assim que a porta foi aberta por Hael. 

Não voltei para o meu dormitório, somente fiquei sentada em uma mesinha da biblioteca e a proposta de Hael martelava em minha cabeça de uma forma irritante, então, escolhi aceitar e ver até onde isso vai.

— Eu sabia que ia aceitar. — falou saindo e fechando a porta atrás de si — Pegue suas coisas e me encontre no portão, eu só estou terminando de arrumar minhas coisas.

— Está bem. — falei, começando a caminhar.

Sinto um aperto no meu peito, mas resolvi ignorar e somente seguir em frente.

Os corredores estão totalmente vazios e silenciosos, mas algo me diz que eu estou com algumas companhias. Patrick me dizia sentir o mesmo quando veio pela primeira vez, mas que com o tempo acostuma.

Abri a porta do dormitório e peguei minha mochila no chão, somente colocando meus livros que estavam na mesinha ao lado da cama. Fechei-a e suspirei, olhando para a minha nova amiga, que permanecia em um sono bom e relaxante. 

— Tchau, Ragna. — falei e virei meu olhar para o gatinho que parece não notar minha presença — Foi bom te conhecer, Robin.

Sorri e caminhei novamente até a saída, dando um último sorriso antes de fechar a porta e caminhar pelos corredores.

Saí finalmente de dentro da Academia e avistei Hael com uma mochila nas costas e conversando com alguém, que de longe eu sei que é o meu irmão. 

Me aproximei e Patrick sorriu, logo me puxando pelo braço e me envolvendo em um abraço apertado. Coloquei minha cabeça em seu ombro e ele passou as mãos delicadamente pelo meu cabelo.

— Tome cuidado, não quero que nada de ruim aconteça com você. — sussurrou, me apertando mais em seu corpo — Se sentir que algo vai acontecer, volte para cá imediatamente, não tente lutar com coisas maiores que você.

— Tudo bem, Patrick. — falei, me soltando de seus braços — Eu prometo que vou me cuidar e assim que conseguirmos, vamos voltar rapidamente.

— Quer que eu avise aos nossos pais? — perguntou.

— Não precisa. — respondi.

— Hael, cuide dela como se fosse o seu bem mais precioso. — Patrick se direcionou os olhos para o rapaz que ouve atentamente — Não deixe que nada de ruim aconteça com a minha pequena.

— Não vou deixar nada de ruim acontecer com a Bexley, fique tranquilo. — respondeu, abraçando meu irmão — Sua irmã está segura comigo.

— Confio em você. — Patrick respondeu — Agora vocês têm que ir, Grayce pode acordar a qualquer momento.

Patrick caminhou até o portão e colocou uma chave, logo o abrindo e dando espaço para nós passarmos. Hael foi na frente e eu fiquei atrás, dando um último abraço em Patrick.

— Temos que ir, Bexley. — Hael disse me encarando com seus olhos claros e eu assenti, sorrindo para meu irmão.

Me virei e escutei o portão sendo fechado, e junto disso, algo se formou em minha garganta e meu coração parecia estar batendo aceleradamente. 

Hael continua na frente, iluminando o local com uma lanterna que a qualquer momento pode acabar a pilha. 

A academia fica no topo de uma colina, então é muito frio aqui em cima e para descer, acaba sendo escorregadio e perigoso.

— Como vamos descer? — perguntei para Hael que virou a lanterna para meu rosto, me fazendo fechar os olhos por conta da claridade — Vira isso para lá.

— Vai ser perigoso, mas se formos com cautela e cuidado, a gente consegue chegar lá em baixo. — disse chegando mais para frente, mas logo escorregou, deixando a lanterna cair lá embaixo.

— Hael, você deixou a lanterna cair! — falei olhando para baixo, mas somente vendo uma escuridão.

— Obrigado por me falar uma coisa que eu já tinha reparado. — ele levantou-se do chão, batendo uma mão na outra — Vamos ficar por aqui, alguém deve aparecer daqui a um tempo para nos ajudar.

— Mas e se esse alguém for alguém da Academia ou um ser maligno. — falei me sentando no chão frio.

— As pessoas da academia vão demorar para notar que não estamos lá, mas os seres malignos são noturnos, então fica esperta caso tenha que correr. — Hael disse e eu arqueei as sobrancelhas, logo escutando a risada baixa dele — Estou brincando, não tem seres malignos perto da academia, somente dentro da floresta.

— Eles não conseguem subir aqui? 

— Não, existe um tipo de magia que os impede de chegar perto da colina.

— Você sabe muitas coisas.

— Estou aqui desde os meus doze anos. — respondeu.

— Você não morava em um orfanato? — perguntei curiosa, olhando para o rapaz ao meu lado.

— Morei lá até meus onze anos, depois fui mandado embora pela diretora que dizia que eu era um ser desprezível.

— Desculpa pela pergunta que irei fazer, se não quiser responder não tem problema...

— Pode perguntar, Bexley.

— Você conheceu seus pais? — perguntei um pouco receosa. 

— Conheci. Minha mãe se chamava Mekyla, tinha o poder de controlar a gravidade, ela era incrível, a mulher mais incrível que já conheci em minha vida. — falou, colocando a mão em suas pernas — Eramos eu, ela e meu irmão mais novo, o Lux. Vivíamos em uma casa pequena isolada da cidade, meu pai nos abandonou quando minha mãe estava grávida de Lux e apareceu somente 1 ano depois pedindo perdão e falando que tinha mudado.

Consegui enxergar lágrimas se juntarem em seus olhos e peguei em sua mão, a apertando e suspirando.

— Se não quiser, não precisa terminar. 

— Eu quero continuar. — disse e eu assenti — Minha mãe acreditou na mudança de meu pai e aceitou ele em casa novamente, mas ele foi um homem bom somente por três meses. — uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo — Um dia ele saiu para acampar com alguns amigos e simplesmente achou o sangue de Emeric, o bebeu e voltou para casa de madrugada. — agora, lágrimas escorriam dos seus dois olhos — Ele colocou fogo na casa em que morávamos, matando minha mãe e meu irmãozinho, menos eu, pois eu tinha acabado de descobrir meu poder de cura.

— Hael, eu sinto muito. — falei, me aproximando mais — Eu não imaginei que tudo isso tinha acontecido com você, me desculpa.

— A história não acaba por aí. — falou, com os olhos fixos na escuridão na nossa frente — Ele fugiu depois disso e eu fiquei sozinho no meio de uma casa em chamas. Eu não estava sentindo dores físicas, mas meu coração estava em pedaços e eu só conseguia gritar, até alguém aparecer e me tirar da casa, me levantando para o hospital. — as lágrimas rolavam desesperadamente pelo seu rosto — Os médicos ficaram impressionados com o meu estado físico, então me mandaram para um orfanato que iria me estudar melhor.

Ele deu uma pausa, tentando recuperar todo o fôlego perdido. Suas mãos tremem e eu as peguei, as fazendo parar.

— Lá, eles me usavam como um rato de laboratório, fazendo experimentos e me tratando como se eu não tivesse sentimentos. — continuou — Eu não tinha amigos e ninguém para conversar, somente um bichinho de pelúcia velho que achei no lixo, ele que me ajudava quando eu me sentia sozinho. — ele deu uma pausa — Quando eu não servia para mais nada, eles me jogaram para fora e sem se preocuparam se eu teria algo para comer ou um lugar para dormir.

— Então você veio para a Academia. — falei e ele assentiu.

— Grayce me encontrou deitado no passeio de uma rua deserta, então ela me trouxe para a academia e cuidou de mim como se fosse um filho. — ele abriu um sorriso em meio às lágrimas — O meu primeiro amigo foi o Patrick, que me tratou de um jeito diferente, ele me fez sentir importante.

— Patrick sempre gostou de realçar a importância das pessoas na vida dele. — falei sorrindo — Que bom que ele te fez bem.

Hael não respondeu, somente sorriu e voltou a olhar para a escuridão, à nossa frente, torcendo para que alguém apareça.

A Academia Eldritch: A Busca pela Verdade Onde histórias criam vida. Descubra agora