Capítulo 20

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Terça - feira

   Passado a madrugada inteira chovendo, às 05h da manhã abriu-se o sol. Me levanto da cama de bom humor, caminhando para a cozinha em passos de dança, após escolher uma música ambiente para tocar na caixa de som, ( Rock, por que será!? ), preparo meu café, ovos e pães na torradeira, numa calmaria que até estranhei... com tudo limpo e arrumado saio de casa a caminho do restaurante do Henry.

  Falando em Henry, nos conhecemos através dos nossos pais, brincávamos por debaixo das mesas em eventos e festas da empresa, comíamos tudo o que tínhamos direito, era uma época boa, mas num piscar de olhos tudo mudou, não o encontrei mais, meu amigo foi embora... Não sei a causa, ninguém me comunicava sobre os assuntos relacionados a empresa, mas por um outro lado, estudamos juntos no fundamental, as brincadeiras passaram a ser nos intervalos e desde então não nos afastamos mais.

  Estaciono o carro na rua detrás do restaurante, entrando pela porta dos fundos.

— Bom dia pessoal — Cumprimentei geral. Na cozinha todos estão com as vestimentas adequadas, preparando os ingredientes dos pratos.

— Bom dia irmão — Henry Cumprimentou — E aí, como foi o encontro da Sra. Amélia com a Emma?

— Elas gostaram muito da Emma! — Respondo, vestindo o avental branco na cintura — O próximo será você apresentando a Lorena — Bati três vezes nas suas costas.

  Vem em mente ele me pedindo para ser apresentado à Lorena, no dia quando vi a oportunidade perfeita o puxei pelo braço até ela, no começo ele ficou quieto sem reação, mas no final saio com o número dela.

— Será?...Eu acho melhor você começar a trabalhar, a conversa está se prolongando demais — Não é possível que os dois sejam iguais.

— Sim chefe!

  Na época da inauguramos estávamos para completar 20 anos, ( sim, muito novos ), saímos à procura de móveis, máquinas, funcionários, vestimentas, utensílios de cozinha, decoração, cartazes..., até a abertura, que foi um sucesso, nunca preparei tantos copos de bebidas na minha vida. A diferença deste ambiente de trabalho é que a alegria sempre está presente, tenho amigos de verdade aqui e a clientela é diversa. É lógico que acontecem problemas, nada é perfeito, mas quando se está unido tudo se resolve rapidamente.

  O time da cozinha é formado por amigos próximos que estudaram com o Henry na faculdade de gastronomia.

  Meu celular vibra no bolso da calça.

  Notificação.

 Mensagem ( My Light )

— Bom dia. Você esqueceu sua jaqueta comigo. 08:25

  Bom dia, vou poder te encontrar novamente, senhorita? 08:27 —

— Vou passar no restaurante mais tarde. 08:28

  Vou estar à sua espera. 08:28 —

— Até mais. 08:29

  Guardo o celular no bolso e continuo o meu trabalho...

  Quando se espera por alguém o tempo passa em câmera lenta, mais muito lenta, faço milhares de coisas, atendo os clientes, limpo os copos... e no relógio só 10 minutos se passaram, isso está certo?

— O que está acontecendo com você meu amigo? O mundo irá acabar em poucas horas, e eu não estou sabendo? — Um dos funcionários perguntou — Se for me avise logo. Porque eu vou sair correndo pra minha casa, quero abraçar minha esposa e filhos.

— Como eu não tenho esposa, nem filhos, iria escutar uma música bem alta e gritar: FUDEU... — Outro funcionário pronunciou, fazendo todos rirem.

— Que eu saiba o mundo não está para acabar — Outro comunicou — Isso é...deixe-me ver... — Me analisou com os olhos

— Uma garota — Falou Henry.

— Verdade, é isso.

— Olha pra ele mano, está apaixonado! — O segundo disse. Todos bateram palmas e começaram a falar sobre mim na cozinha.

— Não esqueçam que eu estou ouvindo tudo— O pessoal é zoeira demais não deixam passar nenhuma...

  Paralisei com o pano de prato nas mãos, quando a Emma passou pela porta de entrada, está linda como sempre, mas o que me chamou atenção foi ela vestindo a minha jaqueta de couro que cobre uma boa parte do seu corpo.

  Alguém assobia na cozinha...

— Ethan, é melhor secar o canto da boca, está babando demais! — Um funcionário brincou.

— Volte ao trabalho, Derik! Deixe ele admirar a sua amada! — Exclamou Henry.

— Quietos — Peço.

  Ela caminha até o balcão...

— Olá, senhorita!

— Olá, a sua jaqueta — Fez menção em tirar.

— Pode ficar com ela por enquanto, combinou com você — Impeço.

— Sabia que eu também gostei!? — Disse sorrindo, ajeitando ela no corpo.

— Vou comprar uma pra você — Avisei.

— Não precisa se incomodar — Faço careta.

— Sério Ethan.

— Boa tarde Emma, tudo bem? Alguém estava muito ansioso pela sua chegada — Falou Henry enxerido.

  Piso discretamente no seu pé por detrás do balcão, o mesmo faz careta de dor, sorrindo forçado. Quando eu começo a brincar ele não gosta, vai entender.

— Está bem Henry? — Emma perguntou.

  Olhei para ele e respondi:

— Ele está bem sim, não é Henry?

— Aham.

  O enxerido saiu, deixando-me a sós com a Emma, conversamos tranquilamente até ela ir embora...

  Me contou toda animada que amanhã irá conhecer a faculdade NYU. Lembro-me quando cursei marketing, no começo era mais uma obrigação vinda do meu pai, mas com o tempo me ajudou a entender o mundo em que vivemos, nossas atitudes, e como isso influencia na vida de outras pessoas. Feito isso, comecei a ajudar tanto na empresa, quanto no restaurante.

  Meu pai não abriu a boca para falar do meu trabalho, porque eu não faço um mau trabalho. Antigamente eu esperava que ele me dissesse algo como: Parabéns meu filho... , ou, Bom trabalho..., qualquer elogio, mas não, ele apenas me olhava e saia sem pronunciar uma palavra, com o tempo fui crescendo e parei de me importar com isso, pois tenho coisas melhores a serem pensadas.

  Mas..., sinto falta das conversas de pai e filho, como aquele homem carinhoso da minha infância, ( sim, carinho ), mudou da noite para o dia? O que lhe causou na vida? Quem o deixou assim? Como?... Eu queria tanto ter uma família unida novamente, ter passeios juntos, passar o final de ano com todos reunidos em volta da mesa, abrindo presentes, se abraçando, as crianças correndo em volta da árvore de natal cheia de pisca-piscas. Quando vou ter isso novamente?

 Quando vou ter isso novamente?

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O homem da jaqueta de couro - Júlia Rodrigues (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora