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JIMIN

Os dias têm sido estranhos. E um pouco divertidos, ao mesmo tempo.

Eu conheço a Lysis por muito tempo, desde que éramos crianças. Eu ainda me lembro da primeira vez que vi as covinhas dela. Ela estava chorando por causa do leite fermentado derramado, e eu pensei em quanto eram fofas aqueles buraquinhos em suas bochechas. Então, por conhecê-la a tanto tempo, eu a conheço melhor do que a mim mesmo e sei como levá-la ao limite, mas sem cruzá-lo.

E o que é divertido sobre isso é: mesmo que eu a conheça por, tipo, vinte e dois anos agora, eu estou descobrindo coisas novas sobre ela que são muito fofas de assistir. Por exemplo, eu não consigo me lembrar da última vez que a vi corar por algo que eu fiz. Porém, recentemente, quando entrei na cozinha pela manhã usando apenas uma calça de moletom e mais nada, ela me encarou e me analisou descaradamente. Peguei ela no pulo e perguntei se ela ainda estava impressionada com meu tanquinho, e eu juro, em todos esses anos, eu nunca vi ela tão vermelha.

Lysis não fala o tempo todo, mas ela se expressa pela arte — tanto a pintura quanto a dança — e através de seu corpo. Tudo nela fala, até aquelas benditas covinhas. Seus jeitos e trejeitos me passam as informações que eu preciso saber sobre suas emoções, seu humor, se está desconfortável ou não, se está gostando de algo ou não. Eu a conheço a esse ponto.

Coisas pequenas, como mexer na orelha quando está nervosa, ou não fazer contato visual quando está com vergonha. Coçar o mesmo local no antebraço esquerdo quando fica constrangida, ou dançar minimamente sempre que está de bom humor.

E ela tem me observado, eu sei que sim. Tenho visto ela me analisar sempre que faço algo para ela, como servi-la ou ajudá-la. Vejo ela observar quando eu a toco, e se afastar delicadamente. Vejo as engrenagens de seu cérebro funcionando a todo vapor, como se vários pensamentos a atacassem quando eu fazia algo. Eu só quero saber o porquê disso agora.

Mesmo que ela não seja uma pessoa faladeira, ela sempre falou comigo e, quando estamos entre amigos, ela se solta bastante e não tem medo de rir e falar o que quer que seja. Mas agora, ela parece selecionar bem as palavras perto de mim, bem como suas ações, e isso tem me preocupado.

— Você não vai comer, Jiminnie? — Hoseok interrompeu meus pensamentos, e eu pisquei algumas vezes.

— Oh — assenti, me lembrando que estávamos almoçando. Olhei ao redor, vendo os outros caras comendo, rindo e conversando. Nós estávamos gravando algumas coisas no estúdio mais cedo e aproveitamos para almoçar juntos, no estúdio mesmo. Olhei de novo para Hobi, que me observava. — Foi mal. Eu não tô com muita fome hoje.

Hobi me olhou, desconfiado.

— Jimin — ele usou o tom de irmão mais velho. — Você tem que comer direito.

— Eu sei, eu sei — suspirei, pegando os hashis. — Eu disse que não estou com fome, não que eu não vou comer.

Ele assentiu, voltando a comer. Os outros ainda estavam alheios à nossa interação.

— E aí, como estão as coisas entre você e a Lys?

A pergunta tão específica de J-Hope me deixou confuso por alguns segundos. Que pergunta mais aleatória.

— É... bem, eu acho — murmurei, mexendo no meu kimchi. — Por que a pergunta?

— Jungkook comentou que você está ficando na casa dela, por isso perguntei — Ele encolheu os ombros, devorando sua comida depois disso.

Serendipity || Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora