Por eu ter esse comportamento isolado perante a minha turma de amigos, de não sair de final de semana, ou melhor, de não querer sair, acabei sendo o clássico adolescente atrasado. Todos os meus amigos indo nas matinês beija vinte garotas e eu em casa achando que os filmes românticos descreviam como era beijar uma garota, como era o relacionamento entre um homem e uma mulher. E, olha só, estava aí um ponto fraco meu: ser iludido.
Eu nunca tinha beijado nenhuma garota aos catorze anos de idade e nunca tinha passado de algo melhor do que um beijinho na bochecha daquela menina da classe por quem eu era apaixonado, então sempre peguei de referência filmes românticos, achando que, se eu supostamente fosse o "príncipe encantado" dos filmes, as garotas se apaixonariam por mim. Quer saber? Continuei sem beijar ninguém por muito tempo sendo o queridinho e fofinho da turma.
A real é que essa idade, não importa o quanto você faça por uma garota, é uma fase em que existem dois paralelos rolando: estudar e se divertir nas horas vagas.
Como eu não saía pras festas e rolês com a galera, o tempo que me restava pra tentar conquistar uma garota era durante a escola, e olha, o idiota aqui achava que ia conquistar alguém no intervalo de vinte minutos entre uma aula e outra; ou na aula de Matemática, enquanto o professor virava pra escrever na lousa, ou até mesmo no bebedouro, quando o corredor ficava vazio por estarem todos nas classes. Quando a garota pedia pra ir beber água, eu saía junto só pra ver aqueles lábios que eu queria tanto beijar tocando aquela água que vinha de baixo pra cima como quando eu fazia xixi, aquela água amarela que descia, de cima pra baixo, na mesma intensidade da água que ela bebia no bebedouro. Sim, tentei tornar isso romântico e sensual, mas me deu vontade de ir ao banheiro nesse meio-tempo e só vinha na minha cabeça água e urina, desculpem. Vamos continuar.
Eu lembro até hoje do meu primeiro beijo. Acho que o primeiro beijo significa muito mais pra uma garota do que pra um garoto.
Os homens beijam por beijar. As garotas beijam por atração, momento, sentimento, química, física, biologia e gramática. Meu Deus! A cabeça das garotas não poderia ser que nem a dos homens? Vai lá, beija e faz o garoto feliz.
Chegou num ponto da minha vida que ou eu beijava, ou eu morria. Não dava mais: quase quinze anos e nunca ter beijado a boca de uma menina? Já estava achando que tinha algo de errado comigo. Será que eu tinha bafo? Era muito feio? Cheirava mal?
Eu era muito noveleiro, então teve uma época na minha vida em que eu queria ser ator, mas por um único motivo: beijar uma garota! Tinha certeza que, virando ator, eu teria uma namorada na novela e beijaria ela toda hora. Enfim, mais pra frente eu conto essas minhas tentativas frustradas de estrelar nas telas do Brasil afora. Afinal, que jovem nunca quis ser famoso, não é mesmo? Não me julguem.
Acho que chega um ponto da vida do garoto que ou ele vai lá e faz ou será pra sempre o "zoado" da turma. Eu já tinha passado do ponto de ser "o zoado", então acabei meio que sendo "o esquecido". Sempre fui o tipo neutro da turma, não sabiam muita coisa de mim, eu não me abria tanto, ou seja, se eu já tinha tirado meu BV ou não, era uma incógnita nacional.
Enfim, eu lembro até hoje do meu primeiro beijo por um simples motivo ele nunca existiu, de fato, na época exata em que todos souberam que ele existiu. Como assim? Vamos explicar!
Tem uma época na adolescência que beijar uma garota vira o maior lance do mundo, e quando o cara beija uma, ele conta pra todo mundo e depois dali parece que ele tirou o cabaço e pode beijar desenfreadamente. Lembro que o papo sempre era:
-E ai. Pegou ela?!
-Vai pegar?!
-Tirei o BV dela!
-Que beijo gostoso...
-Peguei ela a festa inteiera
Na minha cabeça, beijar uma garota já era algo superincrível, afinal, todos os meus amigos só falavam disso, mas, pra minha infelicidade, não bastava só falar... Garotos gostam de comparar, competir e ver quem é o maioral. Vai dizer que nunca veio um amigo seu te perguntar se você já beijou, quantas beijou e logo depois criticou o seu numero e mostrou que o dele era maior, mostrando que ele era o "macho alfa" da turma, hein?
O problema pra mim estava ai: o que responder pra um muleke que vem te perguntar quantas você já beijou, onde, como, nome, sobrenome, se era gostosa ou não, se você nunca beijou uma garota? Eu estava num ponto em que não podia falar:
-Mas eu nunca beijei uma garota, cara, sou BV.
Essa possibilidade de resposta já tinha passado há dois anos. Com quatorze anos responder isso, um dia depois você é o assunto mais comentado da escola: " O garoto de quatorze anos que nunca beijou uma garota. Será gay? Feio demais? Nenhuma garota o quis? Eis a questão!".
Lembro até hoje do momento em que contei uma das maiores mentiras do mundo. Estava na fila da cantina, comprando um toddynho. Que garotão bad boy esse hein?!
Logo senti uma cutucada nas costas. Era um amigo meu, que puxou do nada um assunto que eu sempre evitava.
-Ae, você tirou teu BV onde, mano?...
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As aventuras de um adolescente nada convencional
HumorAs aventuras de um adolescente nada convencional fala sobre a adolescência de um garoto normal que passa por diversas aventuras obs: não se trata da adolescência do escritor da historia, e sim do autor Christian Figueiredo.