Capítulo quinze.

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A necessidade de fazer algo novo após passar a maior parte do tempo fazendo a mesma coisa é inimaginável, mesmo que esse algo novo seja algo que você não goste. Me sinto com esta necessidade agora, necessidade que estou prestes a reprimir e executar. 

Vou atrás do loiro com passos rápidos, porém, cuidadosos para não escorregar ou machucar alguém, mas ele para, e eu acabo por esbarrar nele por não perceber a tempo. Ele se vira em minha direção e me dá um peteleco fraco na cabeça, me fazendo rir. 

Finalmente, quando paramos, percebo como o dia estava estranho, as onze e trinta e cinco, estando como se estivesse de noite. 

— A previsão do tempo disse que iria chover hoje? — Ele diz com a mesma expressão confusa que eu e a maioria dos nossos colegas fazem ao olhar para o céu. 

Dou de ombros, não tive tempo de ver a previsão do tempo essa manhã e nem ontem, mas com certeza algo de errado estava dando com o tempo. 

O som dos saltos da diretora invadem nossos ouvidos, agora, um pouco mais apressados. A mulher olha para o céu, estranhando como nós, mas logo deixa a situação de lado. 

— Melhor começarmos logo antes que chova. — Ela diz mais para si mesmo do que para a gente, tirando a mesma folha de antes, porém, agora do bolso e dobrada. — Vamos fazer atividades em dupla, pensem nisso como uma… “educação física da amizade”.

Puta que pariu. 

Sinto outro puxão no pulso vindo do sem nome para eu disfarçar a risada, coisa que nem ele conseguia fazer. Bem, pelo menos assim podemos simular que estamos ainda no Jardim de infância. 

— Montem duplas, e se sobrar alguém façam trios. 

Danço minhas pupilas pela multidão de alunos junto a mim. Ninguém diz nada, mas é visível o desgosto na expressão de cada um que não conseguem disfarçar. 

Antes que eu consiga pensar sou pego pela mão, e adivinhem? Sim, por um fudido que não quer falar o nome. Qual a tara de ficar me puxando? 

— Faz dupla comigo. — Ele diz com um sorriso simples, e pelo seu tom, reconheço muito bem que não é uma pergunta. 

— Abuso, quem tem que escolher minha dupla sou eu. 

— Ok, então. Com quem o princeso deseja fazer dupla? — Abro a boca para dizer algo, mas não sai nada, já estava óbvio com quem eu estava pensando em fazer, e ele ri. — Ótimo então! 

Alguns segundos se passam, e novamente a voz de gralha é solta. 

— Já fizeram suas duplas?… — Sua voz morre ao observar eu e o louro do lado um do outro, o que a faz rir e tirar os óculos. — Não desgrudam não? Até mesmo no passado ficavam assim. 

Fico confuso e o garoto ao meu lado parece querer ignorar, enquanto todos começam a olhar para nós e cochichar. 

Tsunade viu a gente juntos? Como até essa velha pode se lembrar da gente e eu não? Sinto minha cabeça dar erro após pensamentos invadirem, eu não via muito Tsunade na infância, ela nem sempre foi minha diretora, eu só a via quando ia brincar com o neto dela. Qual a relação nisso? 

Sinto o olhar de Sem nome, aliás, quando comecei a chamar ele disso, mesmo? 

Sem nome, suspira, franzindo seu olhar em direção de Tsunade-Me surpreendendo pela coragem.-, a fazendo rir e logo depois ameaçá-lo com o mesmo olhar, do tipo que uma diretora não se atreveria a olhar para um aluno com o cu na mão de levar processo, mas sim como alguém que tem direito de fazer isso e pode. Eles se conhecem? 

Merda, a cada dia que passa com ele, fico mais confuso. 

- Que tal a gente só continuar a aula? Daqui a pouco vamos embora. - O loiro diz, tentando encerrar a situação. 

Muitos suspiram, decepcionados pelo fim da pequena guerra de olhares raivosos e talvez apostando se o ousado se atreveria brigar com uma diretora. 

A mulher autoritária sorri, disfarçando e anulando qualquer resquício de alguma raiva, a não ser por suas rugas, mas isso já é o normal dela. 

- Ok, boa ideia. Por favor, já formaram as duplas? - Um mar de afirmações foi ouvida, indicando a cor verde para continuarmos seja lá o que, que ela queira da gente. - Ótimo, se posicionem juntos com suas duplas e deitem, iremos fazer… Uma sessão de Yôga! 

É o que eu falo, você pode tá na merda, mas tenha certeza que tem como piorar. Pessimista? Não, é que eu já me cansei de me fuder dizendo que não tem como piorar e minutos depois tudo fudendo umas cem vezes pior. 

Ninguém morre virgem, a vida fode todos nós. 

Ouço suspiros derrotados, não só de mim, mas da maioria ali. Viro para encarar o sem nome e ele se vira em minha direção ao mesmo tempo, e então nós dois rimos, nós dois nos entendemos só por aquele olhar de estarmos deitados e tendo nossas dignidades arrancadas. 

- Como eu amo ioga. - Ele diz sarcástico. 

- Nossa, acredita quem eu não tinha reparado nesses tapetes? 

Ele se levanta num sobressalto, me causando um susto e logo depois vem engatinhando em minha direção e ficando por cima de mim, sorrindo cínico. Novidade. 

- Ei! Que intimidade é es…-Não consigo terminar a frase e sinto suas mãos entrarem entre o chão e minhas costas, me levantando. 

- Tsunade vai mandar levantar. 

- Como você… 

- Se levantem! - A voz ressoa. E ela nos observa. - Já está esperto, não é? 

O loiro sorri. 

- Como você sabia? 

- Ela e minha mãe são fanáticas por ioga e me forçam a fazer às vezes. - Ele responde simples terminando de ajeitar a roupa por ter deitado. 

- Sua mãe e a diretora são amigas? - Pergunto, arqueando uma sobrancelha. 

- É... pode se dizer que é tipo isso. 

Apenas dou de ombros, não vou gastar saliva perguntando algo que sei que ele não vai responder. 

- Se apoiem em seus parceiros e... 

E a aula se passa torturante, pelo menos foi até mais rápido do que pensei. 

Agora, apenas corro para pegar minha mochila encostada em um canto e ir para casa. Odeio esse lugar, acho que já deve imaginar que não sou muito fã de escola, não gosto de ficar com tantas pessoas enquanto sou obrigado a ouvir adultos falando e me proibindo de me levantar e falar na aula deles. 

Suspiro, estou cansado, descobri que odeio ioga. 



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