Capítulo onze.

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Suspiro, Franzindo as sobrancelhas cada vez mais a cada palavra da rosada. Cada palavra que me fazia questionar se o ser humano é o animal mais inteligente mesmo. 

— Achei que as garotas estavam exagerando, mas, quando eu beijei ele, eu coloquei automaticamente na minha cabeça que ele precisa ser meu! - Sua voz sai encantada, completamente animada com o fato de estar sendo classificada para uma das mais trouxas da escola. 

Levo meu olhar para meu lado e vejo Karin, animada assim como ela e fico abismado, pensei que rolaria a troca de olhares entre melhores amigos como se dissessem: “Eu aviso ou você avisa?”, mas esqueci que ela é outra tonta. 

E não, não estou exagerando nas ofensas ou sendo um mal amigo, mas, se você não bater, às vezes a pessoa não aprende. 

- Ok, e o que te faz pensar que ele não vai arrastar a tua cara no asfalto? - A interrompo no meio de uma fala, alguma coisa que ela dizia sobre um sonho que ela esteve com ele. 

A carranca se faz no rosto dela e ela revira os olhos. 

- Ele não vai fazer isso comigo, ele vai mudar. - O sorriso surge novamente em seu rosto. 

- As outras cem também falaram isso, e adivinha, elas estão com chifres lindos! A Tenten foi uma que enfeitou com diamante. 

- Bem, isso é verdade, Saky…-A ruiva comenta, concordando comigo e Sakura revira os olhos. 

De certa forma, sei bem que a culpa não é dela…, na verdade, é sim. Mas, por outro lado, parece que cada um de nós temos uma necessidade de arranjar a pior pessoa possível para querermos muda-lá, e se você perceber isso diz muito sobre todos nós. Você quer mudar alguém apenas porque no final você vai ficar satisfeita por isso, se você conseguir, é claro. - O que você dificilmente vai. - E em troca de alimentar o seu ego, você vai é alimentar a sua desconfiança, sendo que você também tem parcela de culpa na história. Falta de aviso não foi. 

- Querem uma dica? Quando uma pessoa 𝘢𝘮𝘢, é capaz de tudo. Esse é o poder do 𝙖𝙢𝙤𝙧. Ela franziu o rosto e estufa o peito, típico comportamento de quem vai chamar de falso amigo depois. 

𝘼𝙢𝙤𝙧… Não deveria ser 𝚛𝚘𝚖𝙰? E essa é uma das graças do amor, você vai ser capaz de cometer automutilação consigo mesmo, mesmo que seja só na saúde mental, na verdade, algumas vezes você pode transformar-lá em automutilação física. 

- Você sabe que no final não vai adiantar né? Sakura, escuta, ele não te ama. - Digo com uma expressão neutra, no fundo, sei que isso vai ser inútil. 

- Caralho… Era só ficar feliz por mim, vocês não acreditam que eu posso mudar alguém? - Eu e Karin a observamos com tédio, enquanto sua voz parece se dissipar para uma irritada. 

- Em você a gente acredita, agora, ele é outros quinhentos. - Diz a ruiva. 

- E ficaríamos felizes por você se você conseguisse alguém que não fizesse você de idiota. Mas… você não vai escutar, né? 

- Sinceramente, só sei que quando estivermos juntos vocês vão pagar com a língua. - Ela diz, séria e determinada, dando as costas e saindo de perto. 

Levo meu olhar a ruiva e ela faz o mesmo, e então suspiramos simultaneamente. Fazer o que né? O 𝚛𝚘𝚖𝙰 é cego. 

Ando em passos calmos e curtos até a sala de música. É intervalo e cogito ficar nessa sala até depois, ou seja, irei matar aula. Nunca faço isso mesmo, e o dia já está irritante o suficiente para eu não matar uma aula de geografia, então, por que não? (Porque vou me fuder na prova.) 

Cruzo os corredores, vendo todos andarem e conversarem, até que é fofo se você não estivesse conseguindo ouvir de cada pessoa que eles falam, inclusive eu, então aumento os passos, acelerando meu andar. Minha visão se recaí para duas meninas a minha frente, cochichando e usando a visão periférica para olhar para mim, às vezes rindo e no final, quando percebem, nem tentam disfarçar. Minha raiva sobe quando elas param e eu paro junto, para não esbarrar nelas e em seguida desvio, pronto para ir embora quando sinto uma mão no meu ombro, o que me faz sair de perto rapidamente e olhar com todo meu ódio para elas. Mas, antes que pudessem falar algo, apenas fui embora, deixando que falassem sozinhas, mas antes, consigo ouvir uma delas me chamar de prostituto. 

Sinto minha cabeça já doer e meu sangue ferver. Procuro desesperadamente a sala, nem verificando se já tinha alguém nela, apenas entrei e fechei a porta, batendo os livros que eu iria ler com força na mesa, causando um ruído forte. 

Bufo e tenho vontade de gritar ao ouvir o barulho da porta. A porta se abre revelando uma cabeleireira loira, com expressão surpresa, olhando para mim como se eu tivesse cometido um crime. Era só o que me faltava. 

- Tudo bem? - Ele finalmente diz, depois de alguns minutos. 

Sento-me na cadeira perto da janela, vendo ele se aproximar em passos calmos e também se sentar em uma cadeira ao lado. 

- Sim, apenas irritação. - Falo, suspirando em seguida, não deveria ter descontado nos meus pobres livros. 

- Se não quiser falar, tudo bem. Mas… por que está irritado? - Ele encosta na cadeira e cruza os braços, mas seu olhar não sai de mim. 

Danço meus olhos para um ponto aleatório do cômodo, pensativo, devo contar? Somos próximos assim para eu falar dos meus problemas? Claro que não, nem sei seu nome. 

- Não acho que seja conveniente. 

- É que você parece mais frustrado do que irritado, acho que se você falasse pra alguém, poderia ajudar. 

Suspiro, acho que não faz mal falar. 

Relaxo minha expressão e coloco meus pés na cadeira, abraçando minhas pernas, por algum motivo me sinto mais seguro nessa posição. 

- Apenas estava no corredor e ouvi duas garotas cochicharem sobre mim. Elas pararam e eu também, mas me distanciei pra ir embora, foi quando eu senti uma mão no meu ombro e desviei, fiquei puto e elas iriam dizer alguma coisa, mas fui embora, foi quando uma me chamou de prostituto. - Explico mais resumidamente possível, confesso que, no fundo, eu queria falar sim. 

Analiso sua expressão e ele não parece surpreso, me causando mais gosto amargo na boca. Com certeza já tinha escutado alguém se referir a mim assim. 

- Era uma castanha e uma loira? - O loiro pergunta e eu balanço a cabeça em sinal positivo. - Duas vagabundas que vivem confundindo a boca com o cu pra falar tanta merda. 

Sinto meus lábios se curvarem em um sorriso e eu rio baixo. 

- Como você sabe que são elas? 

- Vi elas reclamando de você, quando eu passava pra entrar aqui. Te chamaram exatamente de prostituto, mas eai? Não é como se a palavra de alguém dessa merda valesse de algo, principalmente a delas. - Ele pausa e continua de novo a fala. - O que importa é tua palavra, se tu não se acha você não é. E eu já sei que você não se acha, porque sei que você não é. 

Consigo sentir suas palavras fazerem minha boca continuar com um sorriso, mesmo sem mostrar os dentes, continua um sorriso genuíno. Espero que ele não seja como eu, que fala coisas assim para os outros, mas não aplica em si mesmo. 

- Obrigado, sem nome. - Ele sorri. 

Um silêncio reina por alguns minutos, mas até que é um silêncio confortável, até ele quebrar com uma risada. 

- Vai matar aula? 

- Vou. - Respondo. 

- Quem diria, os professores falam tanto de você, não imaginaria que matasse aula. 

- Eu mato, e bastante. Se bem que nesses tempos não estou fazendo tanto isso. 

- Pensei que era responsável. - O tom sai provocativo. 

- Ei! Eu sou… em pouca parte do tempo, mas sou. 

Sua risada ecoa na sala. 

- Você não muda mesmo. 

De novo, falando como se me conhecesse… e se conhece? 

romA. - Narusasu. Onde histórias criam vida. Descubra agora