Capítulo 12

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Confesso que perdi a hora de a quanto tempo estou andando. Acho que alguns deles tentaram vir atrás de mim, mas consegui os despistar. Muitos daqueles vilarejos próximos ao palácio de gelo estavam cheios de pessoas que primeiramente me encaram quando percebiam que eu havia saído de dentro do castelo, mas depois eu simplesmente me camuflei na multidão como tanto desejei.

O povo daqui de Domaine, pelo menos do reino da lua, são bem parecidos comigo esteticamente. Cabelos brancos, olhos roxos, pretos, considerando que essa história toda seja verdade e eu tenha ido embora há 100 anos, eles não me conhecem.

O sol já está alto e eu sei que preciso me ir antes que a noite chegue e com ela, aquelas sombras horríveis. Fui burra em não pegar o cavalo, mas não pensei direito na hora, apenas fiz o que pude. Fugi para bem longe de todo aquele tumulto.

Salvar o mundo? De jeito nenhum.
Não pude sequer salvar Avaron de um exército. Que dirá dessas coisas!

Enquanto caminho encontro um poço que me faz perceber a sede que sinto. Aproximo-me dele e me inclino para pegar seu balde e beber um pouco.

Rodo a manivela deixando que o balde caia e depois a subo. Pego um pouco de água com as mãos e levo até a boca molhando-a por completo sentindo-me revigorada por aquela água gelada. Atrás de mim um homem barbudo, semi calvo, de fios grisalhos e olhos cinzas, barriga grande e grossas vestes de inverno, com uma expressão carrancuda, se chega ao meu lado e quebrando minha primeira impressão, ele pede com licença de um modo sutil e educado, para que possa pegar um pouco de água também.

Chego para o lado tentando ignorar sua presença mas logo ouço gritos de crianças que se chegam nele chamando-o de "papai". Uma menina e um menino de não mais que 7 anos todos sujos de neve até os cabelos. A água era para eles.

–Olhem aí! Prestem atenção para não sujar a moça! –Tento evitar a troxa de olhares mas observo de soslaio a cena ao meu lado.

–Papai! Papai! –Chama a menina. –O Ziv disse que o monstro da neve vai vir me pegar de noite!

–Bom, Ziv... –O pai tenta falar mas é interrompido.

–MENTIRA, PAI! –Grita o menino. –Eu só disse que o monstro da neve aparece toda noite e leva embora menina chata, se a calapuça serviu eu não posso fazer nada!

–É, Ayla...

–MENTIROSO! PAI ELE DISSE QUE IA ME LEVAR PRA ESCURIDÃO! –A menina braveja e o menino ri tentando se fazer de sonso.

–EU NÃO DISSE NADA!

–DISSE SIM!

–NÃO DISSE!

–QUIETOS OS DOIS! –Grita o pai de modo que até eu me estremeço. –Ó perdão moça! Sabe como é, ter dois filhos não é nada mole.

–Sim... Imagino. –Tento não dar bola, mas ele segue.

–A senhora tem filhos?

–Eu? Não. –Respondo. –Mas... Tive 3 irmãs. Eu via o desespero de meus pais às vezes. –Dou uma risada fraca ao lembrar deles.

–É... As coisas eram mais fáceis antes, mas a mãe deles foi levada pela escuridão. Bom... Quase toda família foi... Eles foram tudo que me restou. –Ele lamenta coçando a barba com uma expressão nostalgicamente triste. –Suas irmãs também foram levadas pelas sombras?

Percebo que ele crê que sou daqui, então para não gerar desconfianças apenas concordo.

–Lamento por isso. –Ele apoia o balde d'agua na beira do poço com força. Pega-o e da meia volta.

A Filha Da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora