Capítulo 13

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A música tocava pela noite dando graciosidade àquele ambiente, todos haviam saído de suas casas seladas para aproveitar a festa. As mulheres do vilarejo correram com suas poções de luzes e colocaram-as amarradas em cestinhas numa fita entre as árvores para iluminar o bosque, as crianças riam, corriam e brincavam, os homens faziam brindes com algo que não me parece cerveja, e as mulheres também, brindam e dançam alegremente.

–Princesa, não sabe o quão felizes estamos por vê-la aqui! –Diz Hala. –Serei grata para sempre por ter salvado minha vida e a de meu pai!

–Imagina, não foi nada. –Respondo.

—A senhorita já se encontrou com os outros? –Pergunta um menino de 10 anos ali, com algumas sardas no rosto pequeno.

–Já sim.

–Ai meu Deus! –Exclama outra menina, essa parece ter uns 13 anos. –O Pietro é mesmo tão lindo quanto dizem?

–Quê?

–A princesa Natasha realmente solta raios pelas mãos? –Pergunta o menino.

–Eu... Eu não sei! –Falo perdida.

–Quando vocês vão derrotar a feiosa da Dakaria? –Indaga uma criança e eu apenas me calo sem saber o que dizer e como sair daquela situação até um grupo de menininhas aparecer interrompendo toda aquela situação.

–É para você, princesa! –Uma voz suave fala ao meu lado e eu me viro para ver. Uma menina de aparentemente 5 anos, trança no cabelo, e vestido azul escuro me entrega uma coroa de crisântemos brancos que ela e as amigas, que se dispunham atrás dela ansiosas e tímidas, estavam fazendo há um bom tempo.

–Que linda! Eu amei! –Digo pondo-a em minha cabeça.

–São para proteção. –Viro-me para ver quem fala e vejo a anciã do vilarejo ali. Uma senhora de olhos repuxados, pele negra bem clara, e longos cabelos acinzentados. Ela caminha apoiada em uma bengala de madeira, a passos lentos e calmos. As crianças saem correndo e rindo para brincar.

–Como?

–Os crisântemos. –Explica ela se sentando ao meu lado. –Servem para lhe proteger.

–Ah, sim! –Levo a mão às flores dando um leve toque em suas pétalas. –São umas fofas.

–Prazer, me chamo Tsuki. –Ela se apresenta sentando-se ao meu lado. –Foi muito importante o que fez hoje, sabe disso não é? –Indaga aquela senhora com uma voz áspera e calma.

–Sei sim... –Respondo dando um gole naquela bebida estranha todos tomavam, mas que tinha gosto de rum e mel ao mesmo tempo. –Livrei Mahtab e Hala daquelas coisas... bom pra eles.

Dentro de mim eu desejo silenciosamente que essa mulher apenas se cale e vá embora. Não quero parabéns, não quero pedidos de socorro, e muito menos um sermão. Me sinto uma impostora vendo essas pessoas comemorando minha vinda para salva-los sendo que eu já decidi que não vou ficar.

–Não, isso é o de menos. –Ela fala e eu a olho confusa franzindo o cenho. –Quer dizer, que bom que não foram pegos pelo exército de Dakaria, é claro, mas não foi isso que você fez de mais importante aqui essa noite.

Fico em silêncio encarando-a.

–Então o que foi?

Ela da uma longa pausa respirando fundo e expirando o ar para então dizer:

–Você nos devolveu a esperança. –Ela enfatiza a palavra final com um brilho no olhar. –Como a anciã da vila, tenho 108 anos. Apenas 8 anos de paz, e 100 anos de medo. Desde pequena vejo famílias serem desfeitas, crianças se tornarem órfãs, esposas perderem seus maridos, homens perderem seus irmãos... Como moradora do reino da lua, não a vejo mais brilhar no céu há 100 anos. Olhar da janela à noite é impossível para nós.

A Filha Da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora