Capítulo 6

154 17 20
                                    

Acordo com o estômago roncando, um nó na garganta e uma ideia na cabeça.

Já tomei meu banho e vesti uma calça preta com uma blusa regata branca. É estranho poder usar essas roupas ao invés daqueles longos e pesados vestidos, mas com certeza era extremamente gratificante.

Acordei cedo, ainda nem sai do quarto, pelo som e pelo horário julgo dizer que todos já estão lá embaixo reunidos para o café da manhã.

Resolvo descer, não é como se eu fosse obrigada a falar alguma coisa além do "bom dia", mas preciso comer e tomar uma decisão de uma vez por todas. Meu quarto embora seja meu refúgio, está sufocante, ficar la dentro só me faz querer chorar cada vez mais.

–Alguém me passa a manteiga? –Reconheço a voz como sendo de Natasha.

–De novo? –Acredito ser Allan.

–Agora vai controlar a quantidade de manteiga que eu passo no pão?  –Ela retruca.

–Eu to controlando o seu colesterol, isso sim!

Termino de descer a escada quando Allan termina de falar, os olhares se viram automaticamente pra mim e arrisco dizer que estão bastante chocados, não pensaram que eu fosse sair do quarto hoje. Pra falar a verdade, eu também achava que não sairia, e sinceramente não queria sair.

–Irina?! B-Bom dia! –Gagueja Pietro com a xícara de café na mão.

–Bom dia...

Todos respondem meu bom dia e eu ajo como se nada tivesse acontecido. Vou até o balcão fazer meu café gelado enquanto eles tentam voltar ao assunto sem mostrar que estão sem palavras.

Enquanto ponho o gelo no copo e o encho com café e leite, penso no meu plano.

Queria voltar para o meu reino, achar Isabel e seu marido, acabar com todos eles como eu deveria ter feito quando tive a chance. Mas, nem mesmo com meus poderes eu conseguiria. Já não luto mais como antes e, principalmente, não tenho apoio de ninguém, enquanto ela agora como rainha tem um exército. É um plano suicida, é como implorar para voltar para aquela jaula ou coisa pior.

Sendo assim, restam-me duas opções. Virar uma camponesa, caçar para viver e ficar sozinha sofrendo meu luto a cada segundo, de cada hora do resto de meus dias. Ou...

–Eu vou com vocês atrás desse portal! –As palavras saem involuntariamente, como se a adrenalina as empurrasse pra fora.

–Espera, oi? –Natasha pergunta. Apoio o copo na pia e viro-me de frente para eles vendo-os mais uma vez com os olhos vidrados em mim.

–Eu vou com vocês. –Digo. –Pediram que eu fosse, então eu vou.

–Irina, tem certeza? –Pergunta Wanda.

–Não questiona muito pra ela não mudar de ideia! –Bronqueia Aisha.

"Não está fazendo isso para fugir de seus problemas, está?" – A voz de Pietro ecoa no meu cérebro.

"Claro que estou." –Respondo mentalmente pegando o copo de café e leite e dando a primeira golada.

"Isso não me parece a melhor ideia, Irina."

"Pietro, para enfrentar meus problemas eu preciso de forças. Eu não tenho nenhuma aqui, preciso de um tempo longe disso tudo. Sem contar que eu sou a filha da lua, também quero respostas assim como vocês... Eu preciso delas!"

Dessa vez ele não responde nada, parece assentir com o que eu disse. Continuo com meu copo, deixando o gosto da cafeína passar pela minha língua junto ao conforto do leite para que talvez assim eu desperte de uma vez.

A Filha Da GuerraOnde histórias criam vida. Descubra agora