Capítulo 6 - Lola me ameaça com um isqueiro

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"Para enxergar claro, bastar
mudar a direção do olhar."

Neil acordara em um cômodo escuro.

Na verdade, até tinha um ponto de luz, que se encontrava bem acima da cabeça de Neil.

A luz de um isqueiro apagando e acendendo repetidas vezes, e o barulho do isqueiro quebrando o silêncio ensurdecedor.

Como Neil fora parar ali? Onde ele estava? Onde estava seu irmão?

Neil começou a se mover descontroladamente sentado na cadeira, enquanto percebia o par de olhos apagando e acendendo o isqueiro, os olhos eram afiados na direção de Neil, olhos de cor cinza, dolorosamente frios.

E então um sorriso aparecendo na escuridão, se tornando quase imperceptível, enquanto o calor do isqueiro parecia mais próximo de um de seus olhos.

— Júnior! — A voz da pessoa que segurava o cigarro finalmente ressurgiu nas sombras. A voz de Lola.

Neil tentou responder com um insulto mas tinha uma fita em sua boca que quase cobria seu nariz, que o deixava com o sentimento de claustrofobia, implorando por ar e espaço, ele tentou tirar a fita, mas suas mãos estavam presas em algemas que pareciam ser revestidas em espinhos ou qualquer coisa igualmente dolorosa, pois todas as suas tentativas de se soltar fazia com que os espinhos se aprofundassem mais em sua pele.

— Não, não, não, Júnior! — O sorriso de Lola se tornava mais aterrorizante a cada segundo. — Vou me divertir e não quero ouvir a sua voz.

Lola disse se aproximando mais ainda de Neil, agora sim revelando seu rosto com a luz do isqueiro.

— Lindos olhos, tão lindos olhos...pena que seu pai não acha que você mereça ter um par tão lindo...

Lola aproximou o isqueiro nos olhos de Neil os queimando até que tudo se tornasse uma escuridão e...

Neil acordou.

Neil acordou desesperado, sufocando um grito por costume, por sempre levar tapas ou sermões ao fazer barulho de madrugada, sua mãe não queria que achassem que Neil estava em perigo, isso traria atenção desnecessária.

Neil levantou tão rápido de sua cama que ele se desequilibrou por um instante sobre seus pés enquanto corria para o banheiro do quarto e olhava para seu reflexo, sentindo vontade de quebrar o espelho e cravar fundo em seu rosto, e arrancar um de seus olhos se fosse preciso.

Mas não o fez.

Apenas murmurou para a sua face refletida no espelho.

— Não se preocupe, pai. Nunca vou ter olhos como os seus.

Neil não estava falando da cor dos olhos, ele estava falando sobre a frieza, a crueldade e sadismo no olhar de seu pai.

Neil jamais se tornaria seu pai. Essa seria a sua única promessa a si mesmo, a única coisa que ele poderia ser em qualquer identidade, um fato imutável sobre ele.

Nunca ser o seu pai.

Ele engoliu em seco, mas aliviado, pois ele não tinha queimaduras, não tinha mais nenhuma nova cicatriz.

Mas o alívio só durou por um segundo até ele perceber que não tinha nem mesmo procurado por seu irmão na escuridão para ter certeza de que o pequeno estava bem.

Neil voltou correndo para o quarto sentindo sua cabeça girar pela agitação de seus pensamentos, e o mundo parou por um instante quando ele viu seu irmão.

Sua mente se acalmou. Seu coração desacelerou. Seus olhos ficaram menos arregalados e suas mãos que ele nem havia notado que tinham cerrado se abriram ao lado de seu corpo, uma mão passou por seu cabelo e ele se sentou na cama.

Príncipio das RaposasOnde histórias criam vida. Descubra agora